Bukit Tabur tem vista para a albufeira Klang Gates Dam, um local rodeado por montanhas e floresta. Tive conhecimento deste lugar por conta própria ao ver que existia um lago perto de Kuala Lumpur através do Google Maps e pesquisando sobre ele. Bukit Tabur foi outrora um ponto de turismo de contacto com a natureza feito através de caminhos nas montanhas. Digo outrora porque hoje em dia é ilegal. Tornou-se ilegal depois de alguns turistas terem morrido no passado ao fazer este percurso, já que o caminho é agreste e muito rochoso com alguns pontos de escalada também. Sei que no passado algumas excursões realizavam-se ainda durante a noite para que se chegasse ao ponto mais alto para ver o nascer do sol, o que acredito que não ajudasse em nada e só contribuísse para estas mortes.
Sabendo disto estava um pouco receosa de me aventurar sozinha na montanha. Até cheguei a perguntar em grupos de viajantes no Facebook que me desaconselharam a fazer a jornada sozinha e me alertaram para a sua ilegalidade e que se for apanhada posso acabar num posto policial.
Mas isto não me demoveu. Pensei para mim, o que pode ser assim tão mau que não o possa fazer sozinha? Se achar que não consigo volto para trás, pelo menos tentei… Nesse tal grupo de Facebook não consegui arranjar companhia, portanto fui sozinha em direção à montanha. Já estou habituada a andar na floresta sozinha de qualquer modo, assim não será nada de novo.
Para lá chegar vou de metro até à estação de Wangsa Maju que é a que encontro mais perto do local onde quero ir. Depois chamo um Grab, que confesso ter receio que não houvesse, visto que já estou bastante afastada da cidade. A viajem de carro dura pouco mais de 10 minutos e lá fico eu no meio do nada sozinha. Não se passa nada por estes lados, mas ainda há algumas casas. Existem dois caminhos distintos, mas dirijo-me ao Bukit Tabur West. A estrada está fechada com um portão, mas antes de chegar ao portão, vejo muita fita amarela a cobrir um caminho desenhado na floresta que começa já aqui. Penso que deve ser isto, já que estas fitas indicam que não se deve avançar. Portanto avanço. Apesar de este trek estar fechado ainda há várias pessoas que o fazem. Até se encontram tours na net para cá vir com um guia local por cerca de 40€/50€ - achei caro e com menos de 10€ fiz tudo sozinha.
Sei que estou na floresta e que há animais selvagens aqui, costumo ter sempre receio dos animais que possa encontrar quando caminho na floresta, mas desta vez tinha mais medo de encontrar pessoas e acabar numa esquadra. O início do trail é bem íngreme e rochoso, bem como acabou por ser 90% do caminho, e tinha tantos mas tantos mosquitos que nem podia parar para decidir onde meter o próximo pé ou era comida por 30 mosquitos pousados nas minhas pernas. Esqueci-me do repelente… Levem repelente, por favor! Felizmente, só encontrei este número absurdo de mosquitos nos primeiros 5 minutos, se não ia ser um caminho horrível.
Não sei quanto terei de andar para conseguir ver a água que se esconde do outro lado da montanha, mas o meu objetivo com esta caminhada era esse, ver a água lá ao fundo entre a paisagem verdejante, coisa que para meu espanto foi possível em pouco mais de 10 minutos de andamento. O meu objetivo não era fazer o trail até ao fim, mas sim desfrutar de uma paisagem de tirar o fôlego.
Fico feliz com a vista pois penso que ao menos já não vim até aqui em vão. Consigo ver o lago de um lado e a cidade do outro, mas sinto que ainda não estou muito alto, portanto continuo a escalar as pedras seguintes. Percebo porque dizem que é perigoso pois o caminho tem muita rocha, mas ainda assim não entendo muito bem o porquê de tanto desaconselhamento a ir sozinha. Não achei nada de muito difícil. Talvez seja porque não cheguei ao ponto mais alto de todos que esse sim exige escalada em rocha vertical pelo que vi em fotos. Acabo por fazer mais de metade deste trail que durou cerca de 40 minutos.
Neste pedaço de caminho que fiz, existiam várias cordas em alguns dos pontos mais críticos para ajudar a escalar, e alguns pedaços um bocado assustadores, mas nada que não fosse recompensado pela vista.
Este foi o ponto com a melhor vista que tive e o mais longe que fui. É encantador. Consigo ver outras montanhas lá ao fundo de onde vim. Parecem tão longe! A vista sobre a água rodeada de natureza é relaxante e gratificante. Sinto-me grata de poder estar ali largos minutos a apreciar toda a envolvência do local que inclui sons de vários pássaros e insetos também. Aquela melodia típica da floresta. Consegui ver um gibão e um pássaro muito bonito com umas cores atraentes. Não fazia ideia que daqui também iria ter vista para a cidade. À minha direita vejo a cidade lá ao fundo. Consigo identificar as torres Petronas lá bem ao longe. Do outro lado, está a natureza, as árvores e o lago. Não tenho dúvidas de qual gosto mais de admirar.
Fico aliviada de ter decidido vir pois valeu a pena. A continuação do trail obriga-me a inclinar bem a cabeça para trás para ver o topo. O caminho está traçado na rocha. Mas assim que ergo a cabeça também vejo umas nuvens já bem escuras no céu. Pondero e penso que já consegui ter uma vista que valeu a pena e que andar neste trail à chuva não vai ter piada nenhuma, já que o caminho vai ficar super escorregadio. Decido voltar para trás.
Penso para comigo que a chuva ainda deve demorar até começar a cair, mas estava redondamente enganada. Não passaram mais de 5 minutos depois de ter decido voltar para trás que começa a chover. Começo a stressar. Sei que o caminho pela frente ainda é longo e vai-se tornar escorregadio e perigoso de fazer. Mas não foi isso que me fez andar mais devagar e ser mais cautelosa. Na realidade estava com tanto medo que as pedras ficassem demasiado escorregadias, que fiz o caminho de volta bem mais rápido do que a ida, mas isso implicou fazer muito caminho quase a rastejar, ia o mais próximo das rochas possível não fosse escorregar e cair ali, ao menos assim se escorregasse já estava no chão…
Começa a chover mais forte e quanto mais a chuva molha mais rápido avanço. Não me apetece nada ficar outra vez toda encharcada no meio da floresta tal como aconteceu em Con Dao. Na realidade dou por mim a pensar: que azar, agora sempre que decido ir para a floresta tem de chover…
O caminho de volta não foi, portanto, para apreciar o cenário. Pode ter passado um urso ao meu lado que nem o via, não tirei os olhos do chão! Já estou bem molhada quando finalmente alcanço a reta final do trail e consigo ver a estrada. No entanto, vejo um carro parado mesmo em frente à zona de acesso à floresta que está tapada com as tais fitas amarelas, e ouço um motor a funcionar. Penso, bolas, não acredito que agora que cheguei ao final e um abrigo da chuva está a escassos metros de distância, vou ter de ficar aqui escondida à espera que o carro se vá embora.
Escondo-me atrás de uma árvore e espero enquanto sinto a chuva a entrar por dentro da t-shirt. Nunca mais arrancam, começo a desconfiar que sabem que estou ali e estão à minha espera. Porque estão a demorar tanto tempo para arrancar? Começo a ficar farta de esperar enquanto fico encharcada e penso que se me vão apanhar ou menos já vou com um discurso preparado. Decido avançar e seja o que Deus quiser. Decido descer até ao sítio abrigado e reparo que o carro ali parado e o som que ouvia não vinham do mesmo lugar… Era só um carro estacionado, sem ninguém dentro. Não acredito que fiquei 5 minutos, que pareceram bem mais, à chuva para nada. Às vezes mais vale permanecer na ignorância. Se não tivesse lido essas coisas de ir parar à esquadra, não tinha andado a magicar coisas onde elas não existem.
Consigo escorrer a minha roupa de tão molhada que está. Tento chamar um Grab para voltar à estação, mas receio que este sítio seja demasiado desértico para haver qualquer carro em movimento perto. E é mesmo. Tentei várias vezes e o veredicto é sempre o mesmo: não temos condutores disponíveis de momento.
Ainda chove mas já está mais calmo felizmente pois vou andar 15 minutos até à paragem de autocarro mais próxima. Não se passa nada por aqui. É um sítio completamente sossegado e poucos são os carros que passam por mim. Dou por mim novamente a rir sozinha à chuva e a pensar que o dia foi emocionante. Pelos vistos, ficar encharcada na floresta põe-me um sorriso na cara.
Na estação tem vários autocarros mas nenhum parece arrancar e nenhum vai para onde quero. Decido tentar o Grab mais umas vezes, já que aqui já há mais população. Depois de 5 minutos a tentar lá consigo um carro finalmente. Estou cansada e muito molhada e começo a ficar com frio, já só quero chegar ao hostel e tomar um banho quente. Faço o mesmo caminho de volta de metro, e é exatamente isso que faço assim que chego ao hotel cerca de 30 minutos depois: tomar um banho quente.
Valeu este fim de semana em Kuala Lumpur e fica a dica de um sítio para escapar ao stress e poluição da cidade. Um dia mais “aventureiro” como escape à “robotização” que se nos impõe enquanto visitamos uma grande cidade.
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