No longo regime de Khadafi, as "amazonas" eram as mulheres fardadas que garantiam a segurança do ditador deposto. E esta academia sempre foi percebida como um símbolo do poder ditatorial e excêntrico do líder, derrubado e executado em 2011, no contexto da "Primavera árabe".

Líbia: Antiga Academia de
As "amazonas" faziam parte da guarda pessoal do ditador créditos: AFP

Uma década de caos depois, o parque construído no local - inaugurado há algumas semanas - tem recebido um grande número de visitantes. Fica junto ao mar, com uma área de 80.000 m2.

"Gosto de praticar desporto e aqui posso passear com a minha esposa, enquanto as crianças brincam", diz à AFP Muhannad Kashar, de 47 anos, que vai ao parque todas as tardes com a família.

Com ciclovia, carrosséis, campos de futebol e espaços verdes, o parque abriu suas portas num contexto de melhoria da situação política, após a instalação de um governo unificado em março encarregado de conduzir a transição até as eleições de dezembro.

Líbia: Antiga Academia de
créditos: AFP

Depois da revolta de 2011, várias milícias tentaram aproveitar o caos para tomar o controlo desse espaço, que tem uma localização estratégica entre o porto e o centro da cidade. Para isso, não hesitaram em recorrer às armas.

Por fim, há quatro anos, o anterior Governo de União Nacional (GNA) - cuja autoridade era exercida apenas numa parte do país - decidiu transformar o local em espaço de lazer, primeira etapa da desmilitarização do centro da capital.

"É um sucesso", orgulha-se o autarca de Trípoli, Ibrahim Al-Khlifi. "O nosso objetivo era limitar a proliferação de armas e suprimir todos os acampamentos militares no interior das cidades", explica à AFP, considerando esta reconversão uma "sábia decisão" que deve abrir caminho para outras semelhantes. Assim, antigos sítios militares poderão ser transformados em jardins, parques, ou balneários.

Ao contrário de outros lugares da cidade, onde entulho e lixo se acumulam, aqui tudo é limpo. Há contentores por toda parte, e os visitantes são cuidadosos. Não deixam nada pelo caminho.

Líbia: Antiga Academia de
créditos: AFP

Famílias felizes fazem um piquenique com chá, ou café, nas mesas e bancos de madeira à sua disposição, enquanto as crianças brincam nas proximidades.

Alguns praticam manobras com skates, e outros correm para um camião de gelado, que toca uma campainha para anunciar a sua passagem.

"Mensagem de esperança"

As mulheres, que tendem a evitar andar sozinhas na rua por medo de serem assediadas e por haver poucas calçadas, podem praticar desporto com tranquilidade, sem a necessidade de estarem acompanhadas. E, raro neste país, os ciclistas têm uma pista especial para eles.

Mahmud al-Tijani chegou de bicicleta da cidade de Zawiya, 45 quilómetros a oeste da capital, para testar esta pista, "que não existe em outros parques públicos".

"Assim posso conhecer outros ciclistas de diferentes cidades", diz.

Com o apoio da câmara municipal, o artista plástico Iskandar Al-Sokni pintou no chão, na parte central do parque, uma obra para "transmitir uma mensagem de paz".

Demorou três meses para desenhar círculos amarelos, vermelhos e azuis em 2.500 m2, representando ondas.

A ideia é "criar felicidade através das cores (...) e uma mensagem de esperança para todos os líbios".

Reportagem: Jihad DORGHAM / AFP

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