As ruínas da antiga cidade semita, consideradas Património Mundial da UNESCO, foram invadidas duas vezes pelo grupo terrorista Daesh que destruiu muitas das estruturas mais famosas.

Embora tenham sido expulsos, o governo sírio e os seus aliados, incluindo Rússia e Irão, estabeleceram bases militares nas proximidades, impedindo o acesso.

O lugar voltou a abrir ao público, recentemente, e Yasser Al Mahmoud é um dos deslocados que podem voltar a redescobrir os monumentos que, ao mesmo tempo, carregam cicatrizes da guerra e guardam memórias afetivas.

"Costumávamos vir aqui todas as sextas-feiras", antes da guerra, disse Mahmoud, enquanto servia chá quente em chávenas de vidro colocadas no topo da base de pedra de uma enorme coluna.

Sírios regressam às famosas ruínas de Palmira
Sírios regressam às famosas ruínas de Palmira Yasser Al Mahmoud, um dos deslocados que regressou a Palmira, serve chá nas ruínas do sítio arqueológico créditos: AFP

"Agora estamos de volta e podemos reconectar-nos com as nossas memórias", afirmou, ao lado da esposa e dos filhos. "As pessoas estão tão felizes."

Entre as ruínas, famílias carregavam sacos com comida e faziam chá, enquanto os jovens fumavam shisha.

"Nós tínhamos saudades das ruínas. Não estávamos aqui desde 2015", quando o Daesh invadiu a área pela primeira vez, antes de sermos forçados a sair definitivamente em 2017.

Sírios regressam a Palmira
Sírios regressam a Palmira Jovens fumam shisha nas antigas ruínas de Palmira créditos: AFP

Mahmoud disse que queria reabrir a sua loja de bijuterias e joias assim que os visitantes voltassem a Palmira. A cidade atraiu mais de 150 mil turistas por ano antes do início da guerra civil em 2011.

Perto dali, duas enormes colunas sobreviveram num mar de escombros, é tudo o que restou do Templo de Bel, depois de ter sido destruído pelas explosões provocadas pelo grupo extremista Estado Islâmico (Daesh).

Sírios regressam às famosas ruínas de Palmira
Sírios regressam às famosas ruínas de Palmira Os escombros do Templo de Bel, outrora a estrutura mais bem conservada de Palmira (datado de 32 d.C.) que foi quase totalmente destruída pelo Daesh créditos: AFP

Escavações ilegais

Uma das principais cidades da Rota da Seda e conhecida pelos sírios como a "Pérola do Deserto", Palmira era o lar de alguns dos monumentos clássicos mais bem preservados do Médio Oriente, antes da guerra de 13 anos na Síria.

Mas o Estado Islâmico lançou uma campanha de destruição depois de capturar Palmira, tendo usado o antigo teatro como local para execuções públicas e assassinado o então responsável pelo sítio arqueológico.

Sírios regressam às famosas ruínas de Palmira
Sírios regressam às famosas ruínas de Palmira Teatro Romano de Palmira créditos: AFP

Os extremistas explodiram o santuário de Baal Shamin, destruíram o Templo de Bel, dinamitaram o Arco do Triunfo, saquearam o museu e desfiguraram estátuas e sarcófagos.

Apesar de esta fase de terror já fazer parte do passado, o perigo ainda paira sobre Palmira.

O diretor-geral de antiguidades e museus da Síria, Nazir Awad, disse à AFP que estava preocupado com as escavações ilegais.

Há guardas, "mas não acho que possam fazer o trabalho em toda a extensão do sítio, devido a escavações ilegais em áreas muito amplas".

As pessoas procuram artefactos antigos para saquear e estão a usar máquinas pesadas e detetores de metal que são "destrutivos", acabando por destruir "camadas de sítios arqueológicos, sem deixar nada para trás".

Ruínas de Palmira
Ruínas de Palmira A Grande Colunata, a principal rua da cidade antiga créditos: AFP

Trocar as armas por um camelo

O Observatório Sírio para os Direitos Humanos disse que os aliados de Assad estabeleceram "locais e posições militares" em Palmira e nos sítios arqueológicos, chegando mesmo a residirem nos hotéis da cidade.

Em novembro do ano passado, ataques aéreos israelitas na cidade moderna mataram 106 combatentes apoiados por Teerão, de acordo com um monitor britânico com fontes na Síria.

Palmira, Síria
Palmira, Síria Além da cidade antiga, também a cidade moderna de Palmira foi fortemente destruída durante a guerra créditos: AFP

O ex-combatente rebelde Khaldun Al Rubaa, de 32 anos, referiu que Palmira foi transformada "de um sítio arqueológico numa zona militar" que estava fora do alcance dos visitantes.

Rubaa trabalhou nos locais antigos de Palmira desde a infância, proporcionando aos turistas passeios de camelo e, como muitos residentes de Palmira, o turismo era a sua principal fonte de rendimento.

Agora que os grupos armados aliados de Assad e os exércitos estrangeiros partiram, Rubaa voltou para casa, na esperança de trocar as armas por um camelo.

"Palmira e as ruínas passaram por horrores. Viu o Daesh, o Irão, os russos, todas as milícias que possa imaginar", disse. No entanto, Rubaa está entre os afortunados que conseguiram encontrar uma casa para regressar.

Palmira, Síria
Palmira, Síria Vista aérea sobre Palmira créditos: AFP

Após 12 anos deslocado, Khaled Al Sheleel, de 57 anos, disse que ainda não voltou para casa, destruída num ataque israelita. Agora, trabalha como motorista de táxi, principalmente a transportar antigos moradores.

"Não temos casas, não podemos voltar", afirmou. Mas, "apesar da destruição, fiquei muito feliz, ajoelhei-me no chão e chorei lágrimas de alegria quando voltei" pela primeira vez.