No ano em que se celebram 500 anos da morte de da Vinci, deixamos 8 curiosidades sobre esta referência artística.
O bastardo
Nascido fora do casamento, um bastardo, afetivamente infeliz, mas não materialmente (vem de uma família rica da Toscana), logo se apaixonou pelas ciências naturais. Seu gosto pela ciência foi, talvez, uma maneira de escapar de uma realidade dolorosa, segundo o próprio analisou.
Freud interessou-se pela sua juventude no ensaio "Uma memória de infância de Leonardo da Vinci", no qual tenta decifrar o inconsciente do artista.
Entre os poderosos
Muito rapidamente, assim que se estabeleceu em Florença, descobriu o atelier do famoso Verrocchio e frequentou os círculos de poder da região.
De acordo com Louis Frank, um dos curadores da maior exposição dedicada ao artista que decorre no Museu do Louvre de Paris, era "um homem alto, forte, muito bonito, lúcido e melancólico", que "gostava de falar sobre o que estava a fazer. A sua abordagem era muito racional e nada esotérica". Leonardo vestia-se de uma maneira que o fazia ser notado.
Além disso, não havendo necessidade, materialmente assistido por mecenas e príncipes, "tinha basicamente tempo, e sabia aproveitá-lo".
Homossexualidade
A homossexualidade de da Vinci foi muito comentada. Inclusive com alguns de seus retratos de mulheres. Chegou a ser acusado em Florença de "sodomia". Falou-se de um caso com o seu assistente Salai e outros jovens. Mas nada foi provado.
"De facto, não sabemos quase nada sobre sua vida privada. Ele não deixou nenhum documento, enquanto escrevia textos muito bonitos", diz Frank, cauteloso.
Grandes espetáculos
O seu verdadeiro trabalho era o de organizar espetáculos extraordinários para os príncipes e a sua corte. "Era tarefa dele entreter, contar histórias, era muito divertido", diz o curador. Leonardo dedicou muito do seu tempo a isso.
Investigador
Também existiu o investigador nato, apaixonado. Estudos de anatomia, botânica, mecânica, astronomia, arquitetura. Queria entender o interior dos fenómenos.
"Tinha um intenso sentimento da efemeridade das coisas, da destruição universal. Estimava que os quatro elementos - terra, ar, fogo, água - queriam retornar ao caos inicial", enfatiza Pierre Frank.
Inspiração mística
Os temas religiosos da Salvação - em torno da Virgem Maria, Santa Ana, São João Batista, Cristo "Salvator Mundi", São Jerónimo - inspiraram-no profundamente. Era crente, mas não piedoso. Na sua Santa Ana, colocou muita humanidade, humanismo: a Virgem deve segurar seu filho ou deixá-lo partir para o seu destino?
Corpos e máquinas
O corpo humano, as suas proporções, harmonia ou desarmonia, o rosto, as expressões fascinaram-no. Assim, o "Homem Vitruviano" exibido no Louvre define as proporções do corpo.
As descobertas científicas que desenhou nos vários esboços de seus codex foram fontes de inspiração para os cientistas. Às vezes, as máquinas são puramente utópicas. Leonardo certamente sonhava em voar.
A serviço do 'condottiere' Borgia, passou um tempo como engenheiro militar e elaborou planos para máquinas de guerra.
Mas o que o fascinava especialmente era a botânica, algo retratado até o fim de sua vida, perto de Amboise. Gostava do estudo da luz, relevos, plantas, animais. Isso deu, nas suas pinturas, profundidade, detalhes extremamente bem estudados, mesmo que as personagens concentrem a atenção.
Pintor genial
Todo o conhecimento de uma vida, despejou numa busca pictórica por rostos, expressões, vibrações que emanam das silhuetas (privilegiando a técnica do "sfumato"). Deixava partes inteiras inacabadas para destacar o essencial.
"Quanto mais avançava na carreira, mais se concentrava na própria expressão... Suprime para colocar em destaque os rostos e a expressão dos sentimentos humanos", ressalta outro curador, Vincent Delieuvin. Como se sentisse com a idade a necessidade de ir direto ao ponto.
Para Leonardo, "a pintura deve restaurar a verdade do ser humano, a sua anatomia, as paixões da alma, mas também o mundo", diz o curador.
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