Bilhete-postal por Catarina Campos Silva

Apesar de ter sido a minha segunda escolha na candidatura ao programa Erasmus, agora posso dizer que Bologna (em português, Bolonha, mas ganhei o hábito de a chamar assim, pelo "primeiro nome") tem muito a minha cara, se calhar mais do que Varsóvia ou Cracóvia (as outras cidades onde ponderei estudar). Se querem comer bem, conhecer cidades magnificas, ter convívios noturnos mais "chill" em vez de noitadas "hardcore", Bologna é uma excelente escolha.

Também há discotecas, claro, mas não é a essência de um Erasmus lá, pelo menos na minha experiência. Além da boa comida, e dos gelados magníficos, é uma cidade que vive dos estudantes e da sua energia, com a vantagem adicional de ser um excelente ponto de partida para ficar a conhecer, através da rede ferroviária nacional, outros locais maravilhosos de Itália. Que mais podia pedir? OK, na verdade só ficou a faltar aprender a falar Italiano... Adoro a língua, no entanto, nunca me sinto muito à vontade a falar línguas que não domino bem.

Para quem não sabe, o programa Erasmus+ permite a mobilidade de estudantes do ensino superior por um período máximo de 12 meses. Esta foi a minha primeira vez a morar fora de casa dos meus pais, por isso foi algo completamente diferente do que estava habituada. Conheci várias pessoas de outros países e foi engraçado comparar vivências e perceber algumas diferenças bem caricatas, tal como... descobrir que ninguém faz arroz como o nosso!

Não foi só passear

A Universidade de Bologna é uma das mais antigas do mundo e tem uma ótima reputação. Para além disso, tive a facilidade de escolher aulas que fossem dadas em Inglês. O que correu menos bem foi a conversão das notas quando cheguei a Portugal. Lá tive boas notas mas a conversão foi péssima. No entanto, conheci outros portugueses de outras faculdades que não tiveram uma conversão tão má como a minha. Resumindo, varia de faculdade para faculdade. E sim, tive que estudar durante o meu Erasmus, não foi só passear. Porém, sinto que valeu bastante a pena pois tive cadeiras que gostei muito. Além disso gostei genuinamente de experienciar outros métodos de avaliação. A maioria dos exames era oral. Ainda sobre a Universidade, se escolherem Bologna para estudar, poderão ter a sorte de ter aulas em edifícios bem bonitos no interior. E digo-vos uma coisa, às vezes ia parar a bibliotecas bem bonitas.

O alojamento

Arranjar alojamento em Bologna foi um pouco caótico. As residências da faculdade, que são relativamente baratas, são apenas para estudantes matriculados mesmo na Universidade de Bologna. As outras duas residências que existem são caras. Os quartos individuais numa casa são caros. O mais acessível era mesmo partilhar um quarto numa casa e, mesmo assim, o meu quarto ficava €25 mais caro do que o que recebia "por mês" de bolsa. Ouvi algumas histórias de horror sobre dividir casa, mas era isso ou gastar um rim de alojamento, pelo que acabou por ser a melhor solução. E assim foi, dividi quarto e posso dizer que tive muita muita sorte com a minha colega de quarto. Demo-nos bem e não tivemos grandes chatices. Vivi com mais duas raparigas portuguesas e uma francesa, bem junto à estação de comboios, uma localização top, principalmente no momento de ir passear ao fim de semana.

Em Bolonha, sê ciclista

Bolonha
As bicicletas estão por todo o lado em Bolonha créditos: Flickr/lenzmoser (cc)

É muito comum os estudantes deslocarem-se de bicicleta pela cidade. Como eu não sou grande coisa a andar de bicicleta, todavia, e a cidade não é assim tão grande, fazia praticamente tudo a pé. Para os mais preguiçosos, que não querem andar a pé ou de bicicleta, havia a possibilidade de adquirir um cartão para andar nos autocarros livremente e era baratíssimo. Custa apenas €10 (embora o valor possa ter aumentado entretanto) e dava para todo o ano letivo. Cheguei a fazer o cartão, mas conto pelos dedos das mãos o número de vezes que andei de autocarro durante os 5 meses.

Quanto ao tempo nesta cidade, bem, que filme. Em Fevereiro e Março, é muito mais frio do que esperava. Achava que iria ser semelhante ao tempo no Porto mas, ora bem, tive de pedir a visitas que me levassem um reforço de gorros e cachecóis. A partir de Maio, um calor gigante. Para piorar a situação, a nossa senhoria não nos deixava ligar o ar condicionado. Porquê? Nunca descobrimos.

Longe de casa, mas não sozinhos

Tal como em muitas cidades europeias que acolhem estudantes de Erasmus, também em Bologna existe a ESN: uma associação europeia de apoio aos estudantes que se encontram a realizar o Programa Erasmus. Promovem muitas atividades ao longo do semestre, desde atividades à noite em bares e discotecas, viagens, jantares, workshops de massa, etc. Basta espreitarem o site deles. Não participei em todas as atividades, mas gostei daquelas a que fui, especialmente a viagem que fiz com eles até Nápoles e Costa Amalfitana. As viagens geralmente são a um preço mais acessível e um excelente pretexto para conhecer pessoas novas, mesmo que vão sozinhos.

Para participarem nas viagens, têm de fazer o cartão da ESN, que custa à volta de €10 e vale muito a pena. Para além de poderem participar nas viagens, dá-vos descontos em algumas coisas em Bologna, incluindo em bilhetes na Flixbus e na Ryanair, por exemplo.

De vez em quando, começo a recordar os meus 5 meses de Erasmus e fico com muitas saudades. Foram meses espetaculares e que me fizeram sair da zona de conforto! E Itália é um país magnífico.

A Catarina está a fazer o Mestrado em Análise de Dados e é a autora do blog As viagens de Káká, onde uma versão deste artigo foi originalmente publicada.