Chorei quando cheguei a Cusco, não vou mentir. Viajei durante três meses pela América do Sul, quando fiz o meu mochilão sozinha em 2018. É o continente do meu coração. A música, as cores, as pessoas... é onde me sinto mais feliz. Desta aventura só guardo boas memórias. Aprendi muito sobre mim e sobretudo sobre o rumo que queria tomar na minha vida pessoal e profissional. Nunca mais fui a mesma. O desapego, a simplicidade e o sair da rotina tem destas coisas. Voltamos diferentes, mesmo que nos queiram iguais.
O dia já ia avançado em Cusco, ou pelo menos eu senti-o assim, fruto das mais de 24h de aviões e esperas intermináveis no aeroporto pelos voos de ligação, agravado por um intensíssimo jet lag.
Deixadas as malas, é altura de tratar do fundamental: arranjar um cartão de telefone com internet local e conhecer, pelo menos, os pontos principais da cidade.
Felizmente, (quase) tudo na cidade de Cusco se localiza na Praça Central (Praça de Armas) ou perto dela.
Na antiga capital Inca a agitação é impressionante, e não faltam vendedores de rua a tentar vender tecidos, comida ou até um cabritinho. Nas estruturas que a delimitam destacam-se vários cafés com varandas que olham a praça e as suas ocorrências, com vista privilegiada sobre a Catedral (datada de 1559 e que na verdade alberga três igrejas no seu interior) e a Igreja de La Companhia de Jesus (severamente danificada por um terramoto cerca de 100 anos depois da sua construção, e recuperada no séc. XVI). Sob as arcadas de estilo colonial, lojistas apresentam insistentemente as excursões para os pontos de interesse da região.
Saio de Cusco na manhã do dia seguinte para visitar Moray, as Salinas de Maras e Ollantaytambo.
Moray é uma zona de ruínas incas, com uma estrutura circular rasgada na pedra do vale muito sui generis. Estes anéis concêntricos de progressivamente menor diâmetro permitiam gerir diferentes temperaturas, obtendo uma oscilação térmica de até 15 graus. Os incas usavam assim este recinto como ponto de exploração da relação entre os produtos hortícolas, a altitude e os vários microclimas, reproduzindo depois os resultados em larga escala conforme a sua conveniência e necessidade.
Os terrenos áridos, por aqui mais aplanados, são novamente substituídos por penhascos à medida que me aproximo das Salinas de Maras. Confesso que por muitas fotografias que tivesse visto, nada poderia preparar-me para a sua extensão. As Salinas de Maras não são umas salinas quaisquer, pois são resultado de um conjunto de centenas de salinas mais pequenas (menos de 4m2 e até 30cms de altura), alimentadas por uma corrente de água proveniente da montanha e irregularmente distribuídas por socalcos ao longo de todo o vale. Ficaria aqui mais tempo, se o houvesse, mas o guia do autocarro chama para prosseguir viagem até Ollantaytambo.
Ollantaytambo é uma pequena cidade de base a uma das estações de comboio que segue para Machu Picchu. Importante cidade inca, hoje em dia considerada Parque Arquelógico Nacional, foi no seu tempo um complexo militar, religioso, administrativo e agrícola. Estamos agora a 2800m, e um ligeiro mal de altitude faz-se sentir na subida dos 240 degraus da escadaria escavada na pedra, por onde nascem também socalcos que retinham a água para outras colheitas. No topo, um templo ao Deus Sol, caracterizado por monólitos apenas directamente iluminados uma vez por ano, por ocasião do solstício.
O cansaço acumula-se novamente e o corpo pede descanso, enquanto que a cabeça e o coração vibram por estar de volta.
Ai, América do Sul! Ainda agora cheguei e já me tens nas tuas mãos de novo...
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