Contudo, não vá a nenhum sítio de Bali no dia de ano novo pois é dia do silêncio (Nyepi), segundo a religião Hindu. E esse dia varia e nunca coincide com o nosso dia 1 de Janeiro. Será sempre após e variando até Março. Nesse dia ocorre algo que eu nunca vi e tive de experienciar e praticar durante 24 longas horas, por acaso em Nusa Penida. E normalmente as agências não avisam, mas que pode colocá-lo em total confinamento. E, ainda por cima, em silêncio.
O dia de ano novo hindu significa essencialmente o momento obrigatório para a reflexão interior. Eu identifiquei-me totalmente com esta mensagem, pois para mim o dia de ano novo ou a sua passagem é isso mesmo. Iniciar o ano implica preparar a energia da mente para a equilibrar com os 364 dias seguintes. Não é uma festa, álcool e foguetes, mas sim silêncio. Contudo é uma opinião e nem sempre sou ‘reflexiva de ano novo’ praticante.
Além do silêncio, também têm de fazer jejum. É importante saber isto com uns meses antes pois acredito que já esteja a planear a sua viagem com dois critérios importantes: antecedência e segurança. E essas regras do ano novo aplicam-se não apenas aos nativos. Quanto a Nusa Penida, que sorvi deliciada em dois dias e sendo um deles o dia mudo: é maravilhosa e facilíssima de chegar a partir de Kuta ou de Sanur (cerca de 7 euros por pessoa), por exemplo. Depois da ‘boleia’ feliz de barco (tem os speed boats e os barcos de longa duração) pelas águas balinesas vai ter de recorrer à segunda boleia e esta não tem preços fixos: os táxis levá-lo-ão ao seu hotel ou guesthouse. Regateie o táxi e saiba que se alugar um motorista por 700.000 rupias (média) vai bem servido. Este é o valor para fazer as tours por dia. E não precisa de mais do que dois dias em Nusa.
Se preferir também é muito comum o aluguer de motociclos e poupa bastante. Agora prepare-se para saber outra coisa sobre Penida: a viagem entre os arvoredos e povoados não desvela logo o mistério de Nusa Penida. É uma ilha quase virgem na vegetação e estranhará a diferença em relação às ilhas mais turísticas de Bali e Indonésia. Foi uma das minhas preferidas e ficou em minha última aposta. É que Nusa Penida nem estava nos meus planos, nem eu sabia que o ano estava quase a começar naquela ponta oriental. Foi uma viagem de imprevisto para fugir ao dilúvio que apanhei nas ilhas Gili. E ainda bem que segui o conselho que me foi dado na altura. Saiba também que nestas ilhas tudo é muito simples de se organizar e modificar: há muitos barcos e vários horários de ida e volta. Abandonei, triste, Gili segui para Nusa no dia seguinte. Paguei 4 noites em Gili e fiquei apenas a primeira. No espaço de uma tarde negociei a viagem para a outra ilha.
Houve uma paragem pelo meio, mas fui saboreando os salpicos do mar, a chuva quente do arrancar de Março e os semblantes rosados dos turistas que também iam na mesma viagem. Na mão deles seguia a emblemática cerveja Bintang que agitavam ao ritmo da boa música do timoneiro. A chegada para mim foi brusca no sentido da perceção: que porto tão esmorecido era aquele, o da afamada ilha? Mas este lugar transformou-se completamente à medida que me embrenhei nele.
Na verdade, Nusa foi uma musa numa fase da minha vida. Aprendi a entender significados que até ali não percebera dentro de um dia de silêncio. Sobre o dia do silêncio: 7 de Março, em 2019. Antes de embarcar ouvi rumores desse silêncio, mas não tinha entendido o quão sagrado era. Tudo encerra sem uma exceção que possa imaginar. Fica sem luz, portanto. Desde as 6h da manhã do dia 7 de Março terá de respeitar o silêncio e estar calado também. E não deve comer, mas para turistas essa regra é disfarçada. Não pode sequer sair do seu hotel pois vai certamente apreendido pelas autoridades. Elas estão a vigiar a estrada.
E, em plena segunda fase da COVID-19, dou por mim num confinamento similar mas que se afigura muito maior. Quando estava no meu hotel, notei que não ouvi ruídos, nem dos funcionários. Comer naquele dia foi um desafio imponente pois também nem gás havia. Tudo cortado até às 6h da manhã do dia seguinte. A luz que me iluminou foi a das velas no hotel e a minha luz interior que nesse dia aumentou vertiginosamente. Percebi que estava mais acompanhada do que nunca e consegui refletir sobre prestar homenagem à natureza e à vida sem ter de falar sobre isso. Poderia, por exemplo, ter escrito isto tudo naquele dia enquanto tinha bateria no telemóvel. Mas, saiba que trabalhar também não é permitido, de todo. Entre deambular pelo cottage maravilhoso em que fiquei, atirei-me, vestida, à piscina e fiquei a saborear a vista dali. Das mais bonitas que vi em Bali. Até a paisagem respeitava o silêncio, senti. Depois fui dormir, com velas acesas e com o melhor incenso que algum dia inalei: dupa. Amanhã conto-vos o dia de não silêncio em Nusa (Musa) Penida. Mas, agende a viagem e saiba já que em 2021, o dia mais silencioso do Mundo será a 14 de Março.
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