No passado domingo, Ricardo Salgado foi fotografado na ilha da Sardenha, em Itália, de férias com a família, isto depois de ter invocado a pandemia de COVID-19 para não comparecer em tribunal na sequência do julgamento do Caso BES.
O ex-banqueiro está em Itália a convite do genro, Philippe Amon, e terá 'agarrado' uma nova oportunidade aprovada durante a pandemia para gozar férias. É que existe agora uma lei que permite os maiores de 70 anos — Salgado tem 77 — estarem ausentes das audiências, de forma a salvaguardarem-se dos riscos associados à COVID-19.
O antigo homem-forte do BES foi 'apanhado' a passear na Piazzeta de Porto Cervo, com uma loja Prada de fundo, sem máscara.
Em 2o2o, no início do verão, a doença que afeta atualmente todo o mundo ainda não tinha chegado a esta pequena ilha com pouco mais de 1,5 milhões de habitantes. Porém, em agosto, os iates e barcos começaram a chegar a Porto Cervo e os números dispararam de imediato para os 100 novos infetados por dia na ilha italiana.
A rápida propagação tinha uma explicação: as regras sanitárias não era cumpridas, muito menos a utilização de máscaras. Um dos casos mais polémicos foi a discoteca Billionare, do italiano Flavio Briatore, por onde passaram mais de três mil pessoas.
Já este ano, e segundo o jornal digital “The Local”, o aparecimento de novos surtos nos últimos dias levou a que a região tomasse novas medidas, enquanto os peritos apelam à obrigatoriedade de testes a todos os visitantes. “Múltiplos surtos locais empurraram a taxa de incidência da Sardenha para uma das mais altas em Itália”, revela a publicação.
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Um destino criado por e para ricos
Porto Cervo é um destino que em nada reflete o resto da ilha da Sardenha. A beleza continua lá mas a essência não, porque a restante ilha não ostenta riqueza, optando por manter viva as tradições e cultura.
Na década de 1960, o líder espiritual dos muçulmanos xiitas ismailis Aga Khan transformou a pequena localidade num destino de sonho para àqueles que tinham mais dinheiro e se queriam divertir.
“Sabemos que não existem playboys e milionários suficientes para fazer prosperar uma área de mais de 50 quilómetros. Haverá casas, restaurantes, discotecas, lojas e áreas desportivas para toda a gente”, revelava numa entrevista em 1964, numa altura em que a zona que não tinha sequer saneamento, água potável ou eletricidade.
Com o projeto nas mãos e com muita ajuda financeira, o multimilionário que nasceu em Genebra, na Suíça, fez crescer Porto Cervo com um porto, bares, restaurantes e os hotéis de luxo mais caros do mundo. Foi no Hotel Cala di Volpe que se gravaram cenas para um filme de James Bond - O Espião que me Amava - de 1977.
Até 2007 as construções continuaram a um ritmo alucinante, mas a vila ficou com o rótulo de parque de diversões para ricos e famosos em vez de uma bela vila na Sardenha.
Nesse ano, o então governador da Sardenha quis travar essa fama, com mais taxas para os donos dos iates. Os ricos protestaram com uma festa temática no clube de Flavio Briatore onde se gritou: "Ser rico não é um crime".
A zona da baía de Romazzino, a pouca distância de Porto Cervo, chegou a ser considerada - em 2013 - a mais cara da Europa, superando inclusive os bairros mais luxuosos das grandes capitais. O preço por metro quadrado chegava aos 300 mil euros, de acordo com a NIT.
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