Nuno Fernandes, um dos mentores do programa Walking Mentorship, relata na primeira pessoa a caminhada que está a realizar neste momento com a sua filha Inês, de 12 anos, na costa da Galiza. Um momento único entre pais e filhos, para criar memórias.

O encontro

O encontro em Vigo, à porta do hotel trouxe ao de cima a timidez e insegurança de miúdos e graúdos. Ser apresentado a 10 desconhecidos é sempre desafiante, ainda mais se sabemos que vamos passar a semana seguinte juntos a fazer um caminho até Santiago. Um caminho porque na verdade optamos por seguir um caminho alternativo, não marcado, mas por isso mesmo livre das enchentes que saturam os camiños mais conhecidos como o Francês e o Português.

Este grupo constituído por 6 duplas de pais e filhos tem pais e mães, filhos e filhas e desde os 9 aos 56 anos. Eu estou a fazê-lo com a minha filha de 12 anos empenhado em fortalecer a nossa relação e confiança na sua transição para a adolescência.

Apresentações feitas seguimos para o restaurante, para logo de seguida iniciarmos o primeiro exercício do Survival Kit - a metodologia de desenvolvimento pessoal desenvolvida pelo Mentor do Walking Mentorship e adaptada especialmente para este programa de pais e filhos, sob o lema “walking towards the better version of ourselves “.

Neste programa de Parents & Kids o propósito é mesmo tornar mais próxima e mais autêntica esta relação, através de uma série de exercícios e dinâmicas vividos no decurso de uma caminhada na natureza magnífica da Galiza, literalmente entre as florestas e o mar.

Walking Mentorship
créditos: Nuno Fernandes

O início da aventura

No encontro às 7.30h no lobby do hotel, entre os olhares ensonados, já se sente a excitação do começo de uma aventura.
Apanhamos o ferry das 8.30 para Cangas, em que ainda avistamos uns golfinhos, e começamos a caminhar em direção a Donon, considerado no período pre-romano como o fim do mundo. Começamos a andar nas duplas de pais e filhos, aproveitando para realinhar objetivos e expectativas.

Entre passagens magicas e baías secretas, o caminho até à praia de Nerga parece voar sob os nossos pés. Aqui parámos para nos refrescarmos com um mergulho refrescante nas águas transparentes, antes de subirmos para a Caracola onde almoçamos com uma vista que nos parecia imbatível para as Ciés e a Baia de Vigo.

Parecia imbatível, até termos subido ao Facho Donon, o ancestral farol que tem agora um campo arqueológico no alto deste promontório mágico com uma vista de 360 graus que nos deixa sem respiração e sem palavras.

Contrariados tivemos que seguir caminho para o nosso alojamento desta noite, sobre a praia de Areabrava. Por esta altura a magia do Walking Mentorship já estava a funcionar. Os estranhos que se tinham conhecido na véspera já parecem amigos de toda a vida, e o caminho que ainda agora começou parece que dura há uma semana. O riso fácil, as piadas partilhadas e a interajuda são espontâneas e naturais, as barreiras linguísticas desaparecem e surgem códigos partilhados que dão uma cor própria a todas as interações.

Walking Mentorship
créditos: Nuno Fernandes

Lidar com os imprevistos é também uma lição a retirar do caminho

Às 7h do dia seguinte saímos da casa onde pernoitamos para mais um dia de camiño, de Hyo para Aldan e depois para Bueu, onde apanhamos um barco para Portonovo, passando pela Ilha de Ons.

A caminhada pela praia ao alvorecer e a chegada a Aldan são memoráveis com as conversas entre os participantes a ganhar profundidade à medida que vamos trabalhando os nossos survival kits. O Bosque Encantado de Aldan é outro ponto alto deste dia, mas a hora do barco foi antecipada por motivos climatéricos e temos que continuar para Bueu.

Lidar com os imprevistos é também uma lição a retirar do caminho e chegamos todos a horas. Chegados a Portonovo é hora de almoçar e depois descansar um pouco e trabalhar nos survival kits, que vão ganhando consistência.

O jantar é mais um momento de partilha antes do descanso merecido. Amanhã o caminho continua... e eu voltarei a partilhar esta aventura.