Daqui seguimos a rua Ermou desde Monastiraki, onde já havíamos estado anteriormente, para chegar à Praça Sintagma. Desafogada, com vários hotéis, bares e restaurantes ao redor, à sua frente avista-se o Parlamento helénico. Um edifício neoclássico construído entre 1836 e 1840 que foi palácio real durante o reinado de Otto. Após sofrer vários danos com incêndios no começo do século XX, foi abandonado pela família real e remodelado em 1930 como sede do poder legislativo.

Junto ao Parlamento desfrutamos dos Jardins Nacionais, o parque público mais importante da cidade. Atrás deste amplo espaço verde com alameda de árvores e plantas típicas da região mediterrânea, ruínas, bustos de figuras históricas e colunas coríntias fica o Estádio Panatenaico, onde foram realizadas as primeiras Olimpíadas da era moderna, em 1896. Construído inteiramente com mármore pentélico, é um dos mais antigos do mundo, e em formato de U.

Nesta área ainda paramos no Templo de Zeus Olímpico, um monumento construído a partir de 515 a.C e finalizado em 125 d.C pelo Imperador Adriano. A gigante estátua de ouro e marfim dedicada a Zeus, assim como os demais que adornavam o espaço, foram saqueados pelos bárbaros germânicos, sendo que este último não foi reconstruído desde então, motivo pelo qual foi retirada uma boa parte do mármore pentélico para ornamentar igrejas e mesquitas. Das 104 colunas originais (com 17 metros de altura e 2 metros de diâmetro), restam um pouco mais de uma dezena.

Notável é também o Arco de Adriano, essa estrutura construída pelos atenienses em 132 d.C e que consiste em uma espécie de portão que simboliza a fronteira entre a área antiga e a área edificada pelo Imperador Adriano. Tanto assim é que nela constam as frases: “Esta é Atenas, a cidade antiga de Teseu” (na fachada voltada para a Acrópole); e “Esta é a cidade de Adriano e não de Teseu” (fachada virada para o Templo de Zeus Olímpico).

A sentirmo-nos cada vez mais mortais, ou já não nos valessem as pernas de tanto caminhar e de carregar o X, inspiramo-nos nas inúmeras narrativas e peripécias dos deuses e fomos à sua procura. Abancamos as mochilas, rendemo-nos ao funicular que, rapidamente, alcançou o Monte Licabeto e assim chegamos ao ponto mais alto de Atenas, com vista privilegiada para a Acrópole, para outros montes e até para o porto. Contos populares sugerem que foi um refúgio de lobos, sendo esta a razão muito possível da origem do seu nome (significa "aquele [o morro] onde andam os lobos").

Ainda que, mitologicamente falando, o Licabeto seja creditado à deusa Atena, que desejava que o seu templo estivesse mais perto do céu, motivo pelo qual pegou em uma enorme pedra com a intenção de colocá-la sobre a colina da Acrópole. Contudo e enquanto transportava a rocha, recebeu uma notícia que a surpreendeu, acabando por a deixar cair e formar o Monte Licabeto.

Perdidos em histórias e no tempo, o X mostrava-se entretido a brincar nos degraus da capela ortodoxa dedicada a São Jorge, enquanto o Viajante Ilustrador parafraseava, a jeito de brincadeira, frases célebres de Sócrates – filósofo nascido nas planícies desta colina – do tipo “Conhece-te a ti mesmo e conhecerás o universo e os deuses”... Entretanto deixo-o de ouvir, ficando apenas absorta pelos tons de dourado e até de grená que pareciam querer descer sobre o horizonte. Por momentos desenhei com os meus olhos um tapete sagrado igual ao que o rei Agamémnon pisou aquando do seu regresso da Guerra de Troia, como nos conta a peça de Ésquilo. Perante tamanha certeza, murmurei ao X: Os deuses estão a chegar, filho!