Berço da civilização ocidental, da política e da democracia, da arte e da filosofia, dos templos e dos deuses, Atenas deve o seu nome a Ateneia, deusa protetora nascida da cabeça de Zeus e cuja história se confunde com a da própria Grécia. Mulher alta, armada com uma lança e protegida por um capacete e um escudo que exibia a cabeça da górgona Medusa, pompearia austeridade e imponência singulares, deixando os outros deuses silenciosos, ainda que o mar se volvesse ondulado e a terra tremesse. Havia herdado os poderes de sua mãe, tornando-se a deusa da sabedoria e coragem. Ainda que favorecida por Zeus, era amada por todos os gregos, consolidando-se como padroeira da cidade, das atividades intelectuais e uma inspiração para os bravos homens lutadores.
Os primeiros povoadores trataram-se de diferentes etnias de jónios que se estabeleceram ao lado da colina montanhosa onde, mais tarde, seria construída a Acrópole. Foi por este centro sagrado da Grécia Antiga onde se ergueram monumentos dedicados a deuses da mitologia, que começamos a mergulhar numa coletânea de manuais, que nos impelem a ficar “perdidos” pelas suas inúmeras lições… De manhã subimos desde Plaka caminhando por Anafiotika, e eis que chegamos à mítica Acrópole, esse palco de encontro de filósofos e intelectuais perpetuados, em que do seu cume é possível desfrutar da paisagem de Atenas, para os montes vizinhos e para o mar.
Apreciamos o Templo de Atena Niké ou Niké Áptera (que significa vitória sem asas), um hino à deusa que personificava a vitória, representada por uma mulher alada; o Partenon, um dos principais monumentos gregos, dedicado a Atena, construído sob a ordem do governante Péricles, tendo sido projetado por Ictinos e Calícrates e ornamentado por Fídias, no século V a.C; e o Erectéion, um templo em estilo jónico dedicado a Atena e a Poseidon (deuses que guerreavam pela devoção da cidade). É nele onde fica o pórtico das Caríatides, pilares de sustentação em forma de estátuas de mulheres. Entretanto descemos para visitar o Teatro de Dionísio, uma parte remanescente de uma área dedicada ao deus do vinho, que outrora foi um espaço com arquibancadas onde eram encenadas tragédias. Ainda ao redor, também visitamos o Odeão de Herodes Ático, um anfiteatro construído em 161 a.C., em honra de Aspasia Annia Regilla, esposa de Herodes, já durante a dominação romana, com arquibancadas edificadas a partir dos recortes escavados na própria colina.
Andamos até Thiseio, a praça que determina um dos extremos da rua Adrianou, e que nos levou até à Ágora de Atenas (Ágora Antiga), o centro em que era exercida a cidadania, caracterizada por um complexo de edifícios antigos separados por belos jardins. Na sua área, sobressaem o Templo de Hefesto, considerado o mais bem preservado da Grécia Antiga (em estilo dórico, dedicado ao deus do fogo e dos metais) e a Estoa de Átalo (construída pelo rei Átalo II de Pérgamo, feita de mármore e calcário, com colunas externas dóricas e colunas internas jónicas). Continuando pela rua Adrianou, alcançamos a Biblioteca de Adriano, importante lugar na Antiguidade do qual quase nada resta e, ainda a poucos metros em direção sul, contemplamos a Ágora Romana (com principal destaque para um dos portões de entrada, o Propileu) e a Torre dos Ventos (que servia de relógio público solar e hidráulico).
Depois de tanto caminhar, acabamos por parar em Monastiraki para provar os típicos gyros (de frango e misto, com carne de porco, servido em pão pita com cebola, salada e molho tzatziki), descansar, brincar com o X, e até filosofar!
Como escreveria Epicuro na Carta sobre a felicidade (a Meneceu):
“Que ninguém hesite em se dedicar à filosofia enquanto jovem, nem se canse de fazê-lo depois de velho, porque ninguém jamais é demasiado jovem ou demasiado velho para alcançar a saúde do espírito. Quem afirma que a hora de se dedicar à filosofia ainda não chegou, ou que ela já passou, é como se dissesse que ainda não chegou ou que já passou a hora de ser feliz. Deste modo, a filosofia é útil tanto ao jovem quanto ao velho: para quem está a envelhecer sentir-se rejuvenescer por causa da grata recordação das coisas que já se foram, e para o jovem poder envelhecer sem sentir medo das coisas que estão por vir; é necessário, portanto, cuidar das coisas que trazem a felicidade, já que, estando esta presente, tudo temos, e, sem ela, tudo fazemos para alcançá-la.”
Comentários