Fotografia do Parque Nacional de Malolotja

A entrada em eSwatini

eSwatini, que para muitos dos leitores será mais conhecida por Suazilândia, é um país pequeno, 5 vezes mais que Portugal. Tem 1 milhão de habitantes e está totalmente rodeada pela África do Sul e Moçambique.

A mudança de nome do país em 2018 teve o objetivo de cortar com o passado britânico de colonialismo, já que “Swaziland” significa “terra dos Swazi” (o povo local em maioria) em inglês e eSwatini é a tradução direta para a língua do povo.

Assim que fizemos a travessia da fronteira (uma das mais rápidas da viagem, também por ser o primeiro país que não requer visto de entrada para portugueses), entrámos em mais um autocarro. Foram as primeiras horas a apreciar as paisagens montanhosas bem verdes e icónicas do país, que agora se iam tornando laranjas, com o Sol a desaparecer por trás.

Em 2 horas atravessamos o pequeno país de uma ponta à outra, parando em Mbabane, uma das duas capitais nacionais, para pernoitar.

Mbabane: uma capital não-africana

Mbabane é sem dúvida uma capital diferente dentro do nosso roteiro. Uma cidade muito pequena e dispersa, mas moderna e movimentada. Gira maioritariamente à volta de um centro comercial que tem as lojas e restaurantes necessários para o quotidiano da classe média-alta de uma população que não passa das 100 mil pessoas.

No dia seguinte, passamos de forma rápida pelas 3 ou 4 avenidas principais de Mbabane, onde tudo parece acontecer. Terminamos ainda nos bem compostos mercados de legumes e de artesanato, onde uma simpática senhora local nos fabrica uma pulseira com as cores do país, que juntamos à nossa já vasta coleção. De realçar também que conseguir uma fotografia nesta cidade sem apanhar enormes montanhas verdes não é uma tarefa nada simples.

Seguimos depois, numa curta viagem, para a segunda capital, Lobamba.

A capital legislativa e curiosidades sociais e políticas

Lobamba é a capital legislativa de eSwatini. Conhecemos (por fora) o parlamento que, apesar de ser um edifício imponente, não tem a importância que lhe associamos habitualmente.

A verdade é que eSwatini é governada através de uma monarquia absoluta, com a totalidade do poder a ser dividida entre o rei e a sua mãe (chamada de “Queen Mother”), formando uma diarquia. Desta forma, o parlamento, apesar de ter eleições, funciona apenas para aconselhar o rei nas suas decisões e o primeiro-ministro é também nomeado pelo rei.

Uns metros à frente, chegamos a um parque (muito bonito mesmo) construído como memorial ao rei Sobhuza II, o pai do atual, e que é considerado o monarca com o maior reinado da história de qualquer país – quase 83 anos. Tem um mausoléu onde se guardavam os seus restos mortais, uma fonte e uma imponente estátua em metal do próprio.
Sobhuza II é ainda famoso por ter mantido, após a independência da Grã-Bretanha em 1968, as tradições tribais de poligamia no país. Famoso por manter e por as praticar, já que teve 70 a 120 mulheres (dependendo das fontes) e pelo menos 210 filhos.

No início da crónica digo que achei eSwatini um país muito especial, e se ainda não acharam, aqui vai mais uma história curiosa.

Todos os anos, entre Agosto e Setembro, tem lugar um festival a que chamam de “Reef Dance”. Dezenas de milhares de jovens raparigas, solteiras e sem filhos, juntam-se na residência da “Queen Mother” para um espetáculo de dança em frente à família real.

Durante o espetáculo, o rei irá escolher 365 raparigas para viverem com ele no palácio durante 1 ano, dentro das quais irá escolher a sua próxima mulher (embora haja anos em que não escolhe ninguém).

A comida, a moeda e a cultura

Continuando com a nossa visita, e passando para o sempre importante tópico “gastronomia”, paramos numa pacata roulotte em frente ao jardim memorial. A comida que servem simpaticamente é também ela especial, diferente de tudo o que conhecemos estes meses. Enchem-nos uma caixa de esferovite com um bife de porco semelhante a uma entremeada e “samp” – uma mistura de milho e feijão semelhante a uma papa, e muito saborosa. Legumes locais acompanham, como sempre. Para pagar, estendemos uma nota de 100 Emalangenis Swazis, mas o troco vem em Rands Sul-africanos – são ambas moeda oficial do país e têm o mesmo valor (O almoço, esse ficou a menos de 2€ a cada).

Terminamos a visita por Lobamba no Museu Nacional, com história, arte, cultura e natureza para nos entreter por 2 horas.

Acabar no meio da natureza e do silêncio

Mas foi ao terceiro dia que conhecemos o sítio mais especial. O Parque Nacional de Malolotja encontra-se bem colado à África do Sul e está repleto de animais, montanhas (incluindo a segunda maior do país) e cascatas (incluindo a mais alta do país).

Compramos os bilhetes e entramos imediatamente num mundo de planícies e mais planícies verdes-savana, que se estendem até às montanhas do horizonte. À nossa frente, dezenas de cabras passam a estrada de terra a correr, e manadas de zebras pastam ao nosso lado. Impera o silêncio total.

Andamos, andamos e andamos, cruzando-nos com mais animais do que pessoas. Chegamos então a um trilho mais acidentado, onde já se ouve o ruído de água a correr. Em 45 minutos vai levar-nos a uma linda cascata que cai mesmo entre as montanhas.

De volta, paramos num banco (das poucas construções que o parque terá) de um miradouro, para repor energias. A vista é magnífica. Centenas de quilómetros de cumes de montanhas, que parecem surpreender cada vez que se olha para eles, estendem-se por todo o nosso campo de visão e, à medida que se vão afastando de nós, começam a ganhar uma névoa que os torna místicos. Uma vista tão especial para nos despedirmos de um país tão especial.
Isto, porque, duas horas depois, estaríamos a entrar em mais um – o nono da viagem -, também ele muito especial.

Até para a semana!

Projeto Prá frente

O Projeto Prá Frente foi criado por dois jovens engenheiros, com a intenção de conhecer (e partilhar) uma perspetiva completa do Sudeste Africano, focando-se não só no seu património deslumbrante, mas também nas suas pessoas e naquilo que tem para oferecer para o futuro.

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