Na introdução, o ensaísta e tradutor João Barrento recorda que, para Walter Benjamin, “a vida foi um permanente exílio em relação ao lugar e à classe  que o viu nascer” e, como tal, “uma constante fuga desse lugar, que, em diferentes escalas, pode dar pelos nomes de Berlim ou Alemanha”, onde nasceu.

“Numa imagem, esta poderia ser a de um círculo europeu, cujo centro é Berlim, e o apelo da distância em Benjamin como um movimento centrífugo em relação a esse centro – para sul (Itália, França) norte (Noruega, Dinamarca), Leste (Riga, Moscovo) e oeste (Espanha/Ibiza)”.

Na prática, torna-se "uma fuga que gere escrita”, salienta Barrento, referindo que os "Diários" não são apenas o “espelho de lugares de peregrinações, mas também de interesses de conhecimento, mutáveis, de um ‘viajante infatigável’”, como escreveu numa carta à sua compatriota Gretel Adorno, cientista, formada em Química, nome de referência da chamada Escola de Frankfurt.

Nessa mesma missiva, citada pelo tradutor, Benjamim refere-se a viajar como “uma mania muito” sua e “um dos três desejos maiores” da sua vida.

O presente volume pretende localizar o escritor quando escreveu uma determinada obra, por exemplo “Infância Berlinense”, o que aconteceu quando estava na ilha espanhola de Ibiza, e os “ensaios de maior fôlego sobre Kafka e Baudelaire”, que provêm de Svendborg, na Dinamarca.

Para João Barrento, “poucas vezes nos perguntamos onde estava Benjamin quando escreveu esta ou aquela obra”. Trata-se, portanto, de responder a essa questão, “fugindo à voracidade académica em torno” do que o autor produziu.

O ensaísta realça ainda, que “os Diários de Benjamin são muitas vezes fonte de outros ensaios, e registam um trabalho do olhar e do pensar que frequentemente dá origem aos mais diferentes tipos de textos”.

Citando o investigador alemão de literatura Momme Brodsen, Barrento afirma que a viagem para Benjamin, é “uma oportunidade de metamorfose”.

Barrento chama a atenção para “um registo mais híbrido, presente nos 'Diários' e textos afins que preenchem este volume”, que é ”o de uma ‘filosofia narrativa', mais do que conceptual e sistemática (coisa que Benjamin nunca praticou)”.

As deslocações do escritor, reforça Barrento, são "sinal da busca constante de uma ‘casa’ e do que significa o ‘estar em casa’, por alguém desde sempre marcado pela escolha do exílio como condição”.

Assim, “todos os diários e apontamentos de viagens de Walter Benjamin serão, a partir da juventude e sobretudo nas décadas de 1920 e 1930, o seu registo de lugares estrangeiros que se transformam em casa temporária”, defende.

O volume “Diários de Viagem”, publicado pela Assírio & Alvim, reúne as narrativas de viagem de Benjamin a Itália, em 1912, Moscovo, entre finais de 1926 e inícios de 1927, Paris (1929), apontamentos de viagem datados de 1931, páginas escritas entre 07 e 16 de agosto de 1931, na Alemanha, Espanha (1932-33), e Svendborg, em 1934 e 1938.

Walter Benjamin nasceu em Berlim, em 1892, no seio de uma família judaica. Estudou Filosofia na capital alemã, em Munique e Freiburg, doutorou-se em Berna, em 1919, com "A Crítica de Arte no Romantismo Alemão".

A ascensão de Hitler ao poder e a perseguição nazi obrigaram-no a sair de Berlim, em 1933. Residiu sobretudo em Paris, com passagens por diferentes cidades europeias.

Em 1940, no início da II Guerra Mundial, o avanço das forças nazis em França, quando se encontrava nos Pirinéus, e as dificuldades em passar a fronteira com Espanha, conduziram-no à morte.