"Olha que coisa mais linda, mais cheia de graça"... Os versos que introduzem uma das canções mais conhecidas do mundo foram compostos por Vinícius de Moraes e Antônio Carlos (Tom) Jobim, em 1962.

Clientes assíduos do bar Veloso, em Ipanema, zona sul do Rio - depois renomeado Garota de Ipanema -, eles viam passar diariamente a jovem Heloísa Pinheiro, então com 17 anos, que os inspirou com o seu "corpo dourado" e o seu caminhar "que é quase um poema".

A primeira interpretação ao vivo da música - cujo título original era "Menina que Passa" - ocorreu durante uma apresentação de Tom, Vinícius, João Gilberto & Os Cariocas no restaurante Au Bon Gourmet, em Copacabana, em agosto de 1962.

Dois anos depois, Jobim, Gilberto e sua esposa, Astrud, gravaram em Nova Iorque o álbum "Getz/Gilberto", juntamente com o saxofonista americano Stan Getz. O disco, que incluía a mítica versão de Astrud, "The girl from Ipanema", vendeu cinco milhões de cópias.

Com versos cantados em inglês pela suave e melancólica voz de Astrud, e um ritmo que mistura samba e jazz, a canção tornou-se um sucesso e conquistou, entre outros prémios, o Grammy de Gravação do Ano em 1965.

Astrud dizia que a sua popularidade se devia a um pedido inesperado de Gilberto, durante um ensaio com Getz, para que cantasse em inglês. "Esta canção te tornará famosa", profetizou o saxofonista no estúdio de gravação.

Astrud Gilberto
Astrud Gilberto, a atuar em 1982 créditos: P. Stolk / ANP / AFP

Desde então, a canção terá sido gravada 442 vezes, superando qualquer outra música brasileira como a mais gravada de todos os tempos, segundo o ECAD, entidade brasileira responsável pela gestão dos direitos de autor.

A faixa ganhou versões de ícones como Nat King Cole, Ella Fitzgerald, Cher, Plácido Domingo, Amy Winehouse e Frank Sinatra, e serviu de banda sonora a dezenas de filmes e séries.

Anitta fez uma versão do clássico com a sua canção "Girl From Rio", que empresta parte da melodia e do ritmo da bossa nova de "Garota de Ipanema" para falar de outro Rio de Janeiro e das garotas da periferia que "não se parecem com modelos, têm marcas de bronzeado e curvas".

Apesar do grande sucesso da sua interpretação, Astrud não teve o mesmo retorno financeiro que Gilberto e Getz.

A cantora não foi incluída nos créditos da primeira versão do álbum e recebeu apenas 120 dólares pela sua participação (cerca de 107 euros), o que o sindicato de músicos americanos pagava por uma noite de trabalho, de acordo com o livro "Chega de saudade: a história e as histórias da Bossa Nova", do jornalista Ruy Castro.