Por Jessica Howard-Johnston

Em Edimburgo, há muito mais para descobrir do que o castelo no topo de um penhasco ou os locais que inspiraram a história de Harry Potter. A associação Cidades Invisíveis oferece uma nova perspetiva sobre a cidade escocesa, graças a pessoas que antes não tinham residência fixa e que agora se tornaram guias turísticos.

Sonny Murray é um dos 18 guias desta associação. Cada visita, concebida tanto para locais como para turistas, é única. A sua, centrada no crime, começa no local onde em tempos existiu uma forca.

O passeio inicia-se com uma breve introdução sobre a Cidades Invisíveis, uma associação fundada em 2016 em Edimburgo. O seu objetivo é “ajudar antigos sem-abrigo como eu, oferecer emprego e formação, mas também mostrar um lado de Edimburgo diferente daquele apresentado pelos guias turísticos convencionais”, explica Sonny.

Com 45 anos, Sonny avança com passo decidido e bom humor, enquanto conta a história de Deacon Brodie, uma figura que viveu em Edimburgo no século XVIII.

Durante o dia, Deacon era um membro respeitado da sociedade, mas à noite transformava-se num perigoso criminoso. Sonny explica que este personagem inspirou O Estranho Caso do Dr. Jekyll e Mr. Hyde, do escritor escocês Robert Louis Stevenson.

O guia também faz questão de parar em frente às associações que o ajudaram nos seus momentos mais difíceis.

“Foi muito difícil. Eu era viciado em drogas e noutras coisas. Roubava lojas, entrava e saía constantemente da prisão. E, quando saía, vivia na rua”, admite.

Sentimento de pertença

Num dia frio e cinzento de novembro, Sonny menciona a principal organização de caridade escocesa de apoio aos sem-abrigo, The Simon Community.

“É horrível não poder tomar banho ou lavar as roupas durante dias. Por isso, costumava vir aqui o tempo todo”, recorda.

Na Escócia, mais de 30 mil famílias são consideradas sem-abrigo, e muitas pessoas vivem em centros de acolhimento.

A Cidades Invisíveis foi criada por Zakia Moulaoui Guery, uma francesa que veio para Edimburgo ensinar a sua língua. Depois, trabalhou em eventos, incluindo um torneio de futebol para sem-abrigo, antes de decidir lançar o seu próprio projeto.

“Quando se vive na rua, as pessoas não o vêem. Torna-se invisível”, diz Zakia.

“Dar a estas pessoas a oportunidade de serem visíveis, de estarem no centro das atenções e de liderarem uma visita parece-me algo importante”, acrescenta.

A Cidades Invisíveis procura criar uma rede de apoio, um sentimento de pertença a um grupo e um ambiente positivo, explica Zakia.

Até ao momento, foram formados cerca de 130 guias.

As visitas permitem “ir além do postal turístico”, destaca Zakia.

Em Edimburgo, “podemos falar do castelo, da Victoria Street, de Harry Potter e de tudo aquilo que faz a magia da cidade, mas também podemos abordar temas reais”, sublinha.

Os passeios da Cidades Invisíveis estão disponíveis em várias cidades do Reino Unido, incluindo Manchester, Liverpool e Cardiff.