“Tendo em conta apenas os turistas dedicados [que se deslocam à região de propósito], estas atividades geram um impacto de 80 milhões de euros por ano. Se tivermos em atenção todas as pessoas que fizeram estas atividades nos Açores, o seu impacto económico pode chegar aos 210 milhões de euros”, avançou, em declarações à Lusa, a bióloga, uma das autoras de um estudo publicado em 2022 sobre o impacto económico do ecoturismo marinho no arquipélago.
Assinado por oito investigadores de centros marinhos e universidades dos Açores, de Faro, de Coimbra e de Edimburgo (Escócia), incluindo o ex-ministro do Mar, Ricardo Serrão Santos, o estudo avalia o impacto de três das atividades marítimo-turísticas sustentáveis com maior procura no arquipélago: a observação de cetáceos, o mergulho e a pesca grossa (pesca recreativa de peixes de grande dimensão).
Com base num “inquérito de larga escala”, que envolveu 1.740 turistas e 49 operadores marítimo-turísticos (mais de 90% dos operadores ativos na região), os investigadores calcularam os gastos com as atividades praticadas, mas também com alojamento, alimentação e outros consumos (exceto o preço dos voos).
A observação de cetáceos “é responsável por cerca de 87% do número total” de ecoturistas marinhos nos Açores e “corresponde a mais de 70% do impacto económico” estudado.
“O ‘whale watching’ [observação de cetáceos] é a atividade que atrai mais visitantes à região e é aquela que tem um impacto económico mais significativo. São mais de 58 mil participantes, enquanto os que fazem mergulho são 7.764 e os que fazem ‘big game fishing’ [pesca grossa] são menos de mil”, adiantou Adriana Ressurreição.
No entanto, os turistas que fazem mergulho e pesca grossa escolhem os Açores, na sua maioria, especificamente para praticarem estas atividades.
“São aqueles que têm maior percentagem de turistas dedicados. Não teriam ido para os Açores se não fosse mesmo para fazer estas atividades. No caso dos mergulhadores, estamos a falar de 78% e nos ‘big game fishers’ 74%. No ‘whale watching’, apenas menos de um terço foi aos Açores pelo propósito”, explicou a investigadora do Centro de Ciências do Mar da Universidade do Algarve.
O nível de especialização necessário nestas duas atividades é maior e os gastos são, normalmente, mais elevados.
“Um ‘big game fisher’, por estadia de cerca de oito dias, deixa mais de 7.000 euros na região”, revelou a autora do estudo.
Além de serem atividades “que não retiram nada do meio ambiente”, a observação de cetáceos, o mergulho e a pesca grossa têm um “perfil de turista diferenciado e que deixa mais dinheiro na região”.
“Comparando um visitante normal não diferenciado e um ecoturista marinho, percebemos que as estadias são maiores para o ecoturista marinho e que o seu padrão de despesa, o dinheiro que gasta na região, é bastante mais elevado, às vezes mais do que o dobro”, frisou Adriana Ressurreição.
O montante deixado na região pelos turistas que procuraram os Açores em específico para realizar estas três atividades (80 milhões de euros) corresponde “cerca de 2,2% do Produto Interno Bruto (PIB) regional”.
Segundo o estudo, a observação de cetáceos, o mergulho e a pesca grossa “geram entre 400 e 500 empregos diretos” no arquipélago, ainda que mais de metade (68%) seja sazonal (entre três e seis meses).
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