Bilhete-postal enviado por Tadeu Pereira
Por questões logísticas, tive que voar da Europa para Sapporo e depois do congresso voei para Tóquio, regressando a Sapporo para apanhar o voo de volta. Planeei os horários dos voos Sapporo-Tóquio-Sapporo de modo a que regressasse de Tóquio ao fim do dia para pernoitar no aeroporto, uma vez que o voo para a Europa era no dia seguinte às 7h da manhã, evitando assim os custos de hotel. Cheguei a Sapporo às 22:30 e tratei de encontrar um cantinho discreto para passar a noite. São 23:00 e já tinha encontrado um sofá catita, quando ouço no sistema de som que o aeroporto fechou e só reabre às 6h da manhã… Boa. Polícias fazem a ronda certificando-se que não fica lá ninguém. Vou para a rua e procuro um poiso no parque de estacionamento ou arredores para passar a noite minimamente resguardado. Já não havia transportes públicos para a cidade. De repente, surgem dois polícias e tentam comunicar comigo num inglês deveras arcaico.
- Que faz aqui…?
- Nada… estou… não sei…
- Onde é o seu hotel?
- Na cidade.
- Os táxis são ali… mostre a sua reserva para ver onde é o hotel.
-Não tenho… ia procurar depois.
-Vai dormir na rua, não vai? Dormir na rua é ilegal. Venha até à esquadra.
Foi mais ao menos assim em termos de conteúdo mas não em termos de fluência. Já na esquadra, revistaram-me a carteira e tentaram convencer-me a chamar um táxi e ir para a cidade, para um hotel.
- Tem aqui cartão de crédito. Táxi são cerca de 250 dólares. Vou chamar táxi.
250 Dólares? Mais hotel? Nem pensar! Enquanto me revistaram a mala, expondo no chão da esquadra toda a minha roupa, incluindo a roupa interior usada com mais de uma semana e rindo ruidosamente dos padrões dos meus boxers, mas sempre cordiais, lá os convenci de que não tinha plafond no cartão e que o voo era dali a poucas horas e que só precisava de um canto para dormir, nem que fosse uma cela. Horas nisto, a comunicação não era fácil. Depois de uns telefonemas, que temi que fosse para a embaixada, e assinar uns papéis, lá me deram um espaço com portas gigantes nas extremidades, algures no aeroporto. Eram 3h da manhã. As portas abriram às 6h da manhã, estava eu ainda estendido no meio do chão agarrado à bagagem. Abri os olhos e estava no meio do corredor principal do aeroporto, com os primeiros passageiros a circular. Levantei-me e vi que o balcão do check-in era já ali. Foi giro.
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