Texto e fotografias por Isa Costa
O Golfo de Orosei é conhecido por ter das praias mais bonitas da Sardenha, e se eu estava na Sardenha por causa das praias, é lógico que tinha que ir conhecer aquelas!
Algumas destas praias têm acesso por terra, mas requerem uma caminhada valente. Além disso, a mais bonita tem lotação limitada e paga-se o acesso, pelo que a forma mais recomendada para visitá-las é por mar.
Existem três opções: cruzeiro/excursão, alugar um barco com condutor, ou alugar um pequeno bote...
Ora, eu não tenho carta de navegação, a minha experiência a operar embarcações de recreio resume-se a canoas, gaivotas, pranchas de stand up paddle, e colchões insufláveis... mas, aparentemente, não era preciso carta de navegação — ou qualquer outro tipo de experiência! — para alugar um pequeno barco insuflável com motor de baixa potência na Sardenha.
Opá, se é assim, "isto tem que acontecer!!!", declarei!
Então, o assunto que eu tinha ido tratar ao porto da Cala Gonone no dia anterior foi precisamente ir alugar um bote. Tinha googlado as minhas opções, e não eram poucas. Chego lá, e vejo mais de 15 barracas dispostas em retângulo, só para alugar botes e passeios de barco.. caneco, quem não fez o trabalho de casa deve ver-se grego para escolher uma.
A minha primeira opção já não tinha barcos para alugar, mas indicou-nos que o vizinho do lado ainda tinha UM!! Aparentemente, estavam previstas condições excelentes para o dia seguinte e houve uma corrida maluca aos barcos (e não haviam poucos barcos!!).
Enquanto o homem se meteu na conversa com a rapariga do primeiro quiosque, eu tratei de segurar o bote. O diálogo correu mais ou menos assim:
— "...mas eu nunca conduzi um barco na minha vida, tens a certeza que posso? mesmo?"
— "na boa, não há problema nenhum. eles depois explicam-te como o barco funciona, é muito fácil!"
E se eles não estavam preocupados, porque é que eu haveria de estar?
No dia seguinte, descemos até ao porto, e pelo caminho tomamos o pequeno almoço e compramos farnel para o dia. Às nove estávamos na fila para receber a nossa embarcação. Era um vai e vem de botes que era uma coisa doida, porque os operadores têm os barcos estacionados fora da marina, e vêm buscar os fregueses.
Nisto chega a nossa boleia e 5 minutos depois estávamos no barco, a receber instruções sobre o funcionamento, regras de aproximação às praias, etc etc.
"Estão a ver esta alavanca? Ao centro é neutro, para cima acelera, para baixo faz marcha atrás. Para meter o motor a funcionar é só dar à chave. Sempre que quiserem parar por algum tempo, lancem a âncora e levantem o motor, não se esqueçam de recolher a ancora quando partirem. Não passem para lá deste ponto (aponta no mapa), nem se afastem muito da costa. Se se acabar o combustível, está aqui a reserva (aponta para um jerrican debaixo do assento). Estão aqui os números de emergência, avisem quando estiverem neste ponto... e até logo!"
20 minutos depois estava a jardar o barco como se tivesse nascido práquilo.
Fomos directos à jóia da coroa, a Cala Goloritzé, que também era a mais distante, e onde provavelmente íamos ficar mais tempo, e convinha chegar lá cedo que o sol desaparecia por detrás da montanha por volta das três da tarde.
E tal como o algodão, as fotos não mentem... que raio, a “praia” é mesmo bonita!
Praia entre aspas porque aquilo não tem areia (só cascalho) e é tão pequena que mal dá para estender a toalha. Mesmo assim, estava à pinha.
"Estacionar" o barco foi processo que demorou algum tempo.. até aprendermos a controlar o barco parado, porque a corrente insistia em levá-lo para terra, e não podíamos estar dentro da zona limitada, mais o cuidado que tínhamos que ter para não bater noutros barcos (igualmente manobrados por pessoas sem experiência nenhuma na coisa) a tentar fazer o mesmo, e ainda ter a certeza que estava bem ancorado para não sair do sitio. Mas às tantas lá conseguimos, e eu estava pronta para me atirar para dentro daquela água maravilhosa.
E foi neste momento que demos pela asneira do dia... esquecemo-nos de trazer o drone... ainda por cima o homem do barco ao lado tinha um igual. Estive quase para lhe cravar as filmagens..
Para chegar à praia era preciso ir nado, e a nado eu fui. Aliás, fomos os dois, à vez, para não abandonar o barco, porque ainda era longe e demorava um bocado a chegar lá pelos próprios meios. Mas valeu totalmente a pena, que a praia pode ser pequena, mas é tão, mas TÃO bonita.
Depois de enchermos a barriga daquele sítio extraordinário, fomos navegando na direcção da Cala Gonone e parando em frente a todas as praias. Não chegávamos a ir para terra, era bem mais interessante mandar mergulhos do barco, nadar com os peixinhos, ou simplesmente ficar a flutuar naquelas águas cristalinas, com uma temperatura obscena, e um cenário de cortar a respiração.
Sem palavras.
Chegamos a terra brutalmente cansados — entre conduzir o barco (e o levanta baixa motor, e ancora, e sombra, e remar para trás e para a frente para não encalhar noutros barcos ou passar os limites das praias), e saltar para dentro de água e subir para o barco e repetir até à exaustão... mas estupidamente felizes pelo dia fantástico naquela costa magnífica.
Quase, quase que ficamos mais um dia, para repetir a experiência, mas a brincadeira não sai propriamente barata, o aluguer do barco + combustível rondou os 200€.
Só sei que aquele sítio arruinou as praias portuguesas para mim. Aliás, agora percebo porque é que nem por isso se vêm muitos italianos no Algarve. Com praias daquelas, fora para surf não vêm para cá fazer nada.
O homem passou o dia todo a perguntar quando é que nos mudávamos para ali e, realmente, não era nada má ideia...
Entretanto, se eu já andava há montes de anos com vontade de tirar a carta de patrão local, aquilo serviu para me deixar com mais vontade ainda. Adorei conduzir o barco, foi super divertido.
A Isa escreve sobre as suas aventuras no lost in wonderland, onde uma versão deste texto foi originalmente publicada.
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