"A melhor vista é para baixo, se quiserem saber", avisa-nos o funcionário da EMEL. Estamos a bordo do funicular da Graça, posto em funcionamento esta terça-feira, praticamente 15 anos depois de anunciado pela Câmara Municipal de Lisboa (CML), e mais de meio ano depois da conclusão das obras. A espera, todavia, parece ter valido a pena, sobretudo para quem mora ou trabalha na Graça e tem agora um meio alternativo de descer e subir a colina.

Na Mouraria, ontem à tarde, o equipamento ainda passava despercebido na rua dos Lagares, onde está aninhado num edifício praticamente sem janelas que abre para um pequeno átrio que podia confundir-se com a receção de um hotel, não fosse a enorme porta pintada em "amarelo Carris" no seu interior. Apesar da cor, o funicular é operado, para já, pela EMEL, a empresa que gere o estacionamento público da cidade.

Momentos depois, chega o funicular, também ele em amarelo, que ajuda a superar a subida até ao miradouro Sophia de Mello Breyner Andresen, na Graça. A cabine tem capacidade para 14 pessoas e, além da cor exterior, só guarda um traço de familiaridade com os seus "colegas" mais antigos da cidade: o chão, em ripas de madeira. Totalmente envidraçado de um dos lados, parece mais aparentado com um elevador ou uma cabine de esqui e oferece uma vista panorâmica da cidade à altura desse parentesco. Há um banco para quem se precisar de sentar, mas a viagem demora menos de 1 minuto e 20 segundos a completar — mais em linha com a duração de um reel do instagram do que com a tradicional e "esforçada" ascensão a que estamos habituados nas outras colinas da cidade.

O funicular foi projetado de modo a não obstruir a vista a partir do miradouro da Graça, pelo que a sua presença não é visível à multidão que se reúne ali todos os dias ao final do dia para assistir a um dos pores do sol mais amplos da cidade (só rivalizado, talvez, por aquele oferecido, ali perto, pelo miradouro da Senhora do Monte). Umas escadinhas (e um elevador propriamente dito) completam a ligação do equipamento ao nível da rua.

Miradouro da Graça
O ambiente ontem, ao pôr-do-sol, no miradouro Sophia de Mello Breyner Andresen créditos: Pedro Neves

O efeito de novidade, e a gratuitidade atual, devem atrair mais passageiros ao longo dos próximos dias, embora ainda falte afinar alguns "detalhes". Quanto custará uma viagem, por exemplo? As notícias dão conta que os passes Navegante serão aceites e que o preço dos bilhetes comprados no local será equivalente aos valores praticados nos equipamentos similares da Carris (4,10€, atualmente), ainda não sabemos a partir de quando (atualização: a CML indica que viajar no funicular será gratuito no seu primeiro mês de funcionamento). E qual será a sua frequência? Ontem, os funcionários no local ainda não sabiam dar uma resposta definitiva (embora o horário de funcionamento seja entre as 9h00 e 21h00). Nada que motivasse queixa por parte dos passageiros mais curiosos (eu incluído) na primeira tarde de funcionamento, que aproveitaram o sobe & desce contínuo.