Convento da Arrábida
O Convento da Arrábida e a vista para o mar créditos: Cláudia Miguel

Bilhete-postal de Setúbal, pela Cláudia Miguel

Há muito que o Convento da Arrábida estava na minha lista de locais a visitar em Portugal, e este passado domingo foi o dia!

Toda a experiência foi muito aprazível: desde a simpatia no contacto estabelecido via e-mail e telefone, como também no local, à visita em si. Adorei!

O espaço, sob a alçada da Fundação Oriente, pode ser visitado às quartas-feiras feiras, sábados e domingos apenas e só sob marcação. No entanto, o processo de marcação é super simples. Enviei um e-mail, confirmaram a passibilidade para o dia que pretendia e indicaram-me o horário possível para a visita. Depois contactaram-me a informar que até poderia ir mais cedo uma vez que o grupo anterior tinha algumas desistências.

Convento da Arrábida
créditos: Cláudia Miguel

Se o silêncio, a introspeção e a serenidade tivessem um som, seria este, da Arrábida com as cigarras a cantar, o vento a acariciar as árvores e o mar a ouvir-se muito ao longe.

E foi isto mesmo que os frades franciscanos procuraram aqui, quando erigiram no século XVI este convento nas terras de 25 hectares doadas pelos duques de Aveiro a Frei Martinho de Santa Maria em 1542 que terá dito «se não estou no Céu, estou nos seus arrabaldes». Um dos primeiros frades arrábidos foi, por exemplo, São Pedro de Alcântara.

O espaço sofreu diversas alterações e acrescentos com o tempo e mediante as necessidades dos  frades, mas sempre com o foco nos seus votos de pobreza e solidão, sendo essencialmente isto que visitamos na visita guiada pelo Convento.

Este espaço de veneração não surgiu do nada no século XVI, reza a lenda que no século XIII o mercador Hildebrant no seu caminho para Lisboa se deparou com  uma tempestade e a embarcação onde seguia fica à deriva e todos os marinheiros temiam embater nas rochas da costa na noite escura. O mercador particularmente devoto a Nossa Senhora, corre até ao seu camarote para rezar à imagem que trazia, mas não a encontra. Sem perder o fervor pede a todos para rezarem pedindo a Nossa Senhora a saída incólume de tal tempestade, quando lhes surge um clarão, da noite se fez dia, a tempestade amaina. Guiados pela luz navegam até à costa da Arrábida em segurança. Na manhã seguinte Hildebrant e marinheiros sobem a serra em busca do local onde tinham visto a luz que os guiara. Vão, então, descobrir a imagem de Nossa Senhora que Hildebrant tinha no navio. O mercador constrói no local uma ermida, tornando-se um local de culto e romaria, hoje conhecido como a Ermida da Memória.

As características que encantaram Hildebrant ainda são evidentes. O afastamento do mundo da cidade, sem prescindir da proximidade do mar, parece convidar ao exercício da espiritualidade, uma dimensão que parece ter cativado todos aqueles que ocuparam aquele território ao longo dos tempos. A própria palavra Arrábida, por exemplo, pode ter ido beber inspiração ao termo arábe de Ribât, que descreve um complexo fortificado que também cumpre funções religiosas.

Convento da Arrábida
créditos: Cláudia Miguel

Pelas características geográficas do local, de solitude, e pelas próprias grutas naturais, este seria efetivamente um local de eleição de monges muçulmanos para implantação de um ribat, como pude verificar também durante as escavações arqueológicas ao Ribat da Arrifana, em Aljezur, onde se nota a tendência para reocupar os locais mantendo as suas funções originais.

Dicas adicionais para visitar o Convento da Arrábida:

  • usem os contactos via e-mail ou telefone para marcações;
  • prefiram visitas o mais cedo possível, pois o sol é quente sobre a Arrábida;
  • calçado confortável, vão subir e descer muitas escadinhas.

A Cláudia Miguel é a autora do blog A Borboleta Verde, onde regista as suas viagens e paixão pela fotografia.