Mitsuo Tani, 64 anos, passou 46 anos a cozinhar baleia. Hoje, nas mesas e no balcão do seu restaurante há executivos com pressa, jovens sozinhos e reformados. A clientela do restaurante de Tani é bastante heterogénea.

A filete de baleia - 980 ienes ao meio-dia (7 euros) - é o prato mais pedido. Há também um sortido de sashimis de diferentes partes do cetáceo (carne, pele, fígado), acompanhando de arroz e sopa.

"A carne de baleia é cinco vezes menos calórica do que a de vaca, possui dez vezes menos colesterol, metade da gordura que o peito de frango, é rica em ferro, mas no exterior não se sabe disso", lamenta Tani.

Tani abriu o seu restaurante em Tóquio após ter sido forçado a encerrar o seu estabelecimento em Sendai (nordeste), devido ao tsunami de 2011. "Não conseguia mercadoria, era cada vez mais caro", conta, enquanto prepara duas fatias de "rosbife de baleia".

Restaurantes de baleia japoneses recuperam a esperança
créditos: AFP or licensors

Novas receitas

Na capital, o seu restaurante conquistou os paladares. Nunca houve problemas de abastecimento, nem mesmo durante as três décadas de moratória comercial (que tolerava apenas a caça com fins científicos).

"Com mais de 30 anos de interrupção de pesca comercial, ninguém lançou-se no ofício, e isso não acontecerá da noite para o dia, de modo que o regresso não mudará as coisas de repente", adverte Tani.

"Mesmo que alguns comecem agora, demorará 30 anos. E, se lhes parece um trabalho difícil demais, vão deixar de lado. A baleia tem que ser bem-feita, ou ninguém voltará a comê-la", completou.

Na sua opinião, o consumo de baleia faz parte da cultura culinária japonesa. Por isso, fica feliz com o regresso da caça comercial, embora continue preocupado: "Temo que a quantidade diminua".

No comando de outro estabelecimento de Tóquio, Sumiko Koizumi é mais otimista.

"O regresso da caça comercial é uma coisa excelente, temos a responsabilidade de divulgar os benefícios, de propor novas receitas", comentou.

"Itadakimasu"

Para os consumidores, "será mais fácil comê-la. Primeiro, porque os supermercados serão mais propensos a sugeri-la, e os distribuidores estarão mais atentos às necessidades e em condições de responder às mesmas", considera Koizumi.

Aos que se opõem à caça de baleia, alegando os riscos de desaparecimento de espécies, ou por ideologia, representantes do setor e autoridades respondem que as cotas (227 capturas entre julho e dezembro) foram fixadas justamente "para manter a população de baleias de forma sustentável".

Como não se pesca em alto-mar - na Antártica, concretamente -, "as espécies comerciais serão distintas, mas, em geral, acredito que a qualidade vai melhor", afirma Kenta Yodono, representante da companhia pesqueira de baleias Kyodo.

Aos defensores dos cetáceos que denunciam a crueldade da caça, Yodono responde que "os pescadores japoneses as capturam para reduzir o tempo de agonia".

"Qualquer animal que se come, primeiro, é preciso matá-lo", lembra Tani.

"Os japoneses são tão conscientes disso - afirma Yodono - que não começam nunca a comer sem antes agradecer às divindades da natureza pela comida que lhe dão". É o que significa a expressão "itadakimasu" (eu recebo).

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