Para além das suas praias de águas transparentes, gastronomia de sabores ricos e intensos e um povo que comunica através do sorriso e da gentileza, eu sabia que existia uma Tailândia que ainda tinha muito para me mostrar e ensinar. E foi isso que me levou, mais uma vez, a fazer a mala e partir rumo a um destino que tantas vezes me fez sorrir nos últimos anos.

Phuket, a porta de entrada do Sul

O sul da Tailândia não me era totalmente estranho. Em 2014, durante a minha primeira visita ao país, já tinha dado por mim a explorar as praias de águas quentes do Mar de Andamão, embora a minha entrada tivesse sido feita por Krabi.

Desta vez o meu percurso incluiu um voo pela Emirates rumo a Phuket, um destino bastante conhecido para milhões de turistas que visitam anualmente este país. Confesso que a imagem que tinha feito desta pequena ilha não era a que mais me atraía. Imaginava-a como um mero ponto de passagem para outros destinos que servem de matéria prima para sonhos, como as paradisíacas ilhas Phi Phi, por exemplo. Felizmente, esta quarta visita mostrou-me um outro lado bastante mais interessante.

A noite já entrava pela madrugada dentro quando cheguei ao Hotel The Gallery by Katathani. Apesar do cansaço que teimava em toldar-me o raciocínio e os movimentos, não consegui deixar de largar um “Uau” ao entrar no quarto de hotel. Espaçoso, com uma cama king size, uma vista que oferecia um ângulo privilegiado sobre as águas azuis do Mar de Andamão, e uma varanda complementada por uma banheira exterior (porque não?), não conseguia imaginar melhor local para soltar o cansaço da viagem.

Depois de uma noite de sono que me fez rejuvenescer 10 anos, parto à descoberta da cidade. Composta por uma população maioritariamente muçulmana (cerca de 60%), Phuket, apesar de bastante virada para o turismo, tem os seus encantos. O seu centro histórico, também conhecido por Old Town, está preenchido por vários edifícios de arquitetura sino-portuguesa, muitos dos quais entretanto convertidos em bares, guesthouses e pitorescos cafés. Num passeio pela cidade é possível encontrar restaurantes que vão desde o mais moderno, ao mais tradicional, como por exemplo o mítico restaurante de Rotis chamado Aroon onde assisti a uma demonstração da fascinante preparação do Cha Chak, um típico chá gelado tailandês.

A saída de Phuket, rumo à Tailândia continental, faz-se a pé, através da ponte Saphan Sarasin. Os seus 660 metros de extensão são percorridos diariamente por vários locais que ali acorrem ao pôr-do-sol. A vista a Oeste sobre o Mar de Andamão e a Este sobre a Baía de Phang Nga, iluminada pelos tons quentes do sol a pôr-se, são um dos seus grandes atrativos. Em 2011 foi construída ao seu lado a ponte Thepkasattri para tráfego rodoviário. Não resisti a aventurar-me pela zona por baixo da ponte onde se encontra um pequeno mercado de comida de rua. Nada é turístico aqui e sentimos-nos espectadores de uma versão mais real e autêntica.

O testemunho da criatividade natural em Krabi

A uns curtos 20 minutos de Krabi - a cidade que orgulhosamente se apresenta com o lema “a cidade habitável, com um povo amigável” - encontra-se o Parque Natural Tha Pom Khlong Song Nam. Se nunca ouviu falar deste local é porque, de facto, é um dos tesouros mais bem “escondidos” da região. É conhecido como “o local onde as águas se juntam”. Concretamente, onde a água salgada do mar se encontra com a água doce que ali chega, vinda das nascentes que existem por baixo das imponentes falésias calcárias, fortes elementos distintivos da paisagem do sul da Tailândia.

Parque Natural Tha Pom Khlong Song Nam
Parque Natural Tha Pom Khlong Song Nam créditos: Joland
Parque Natural Tha Pom Khlong Song Nam
Parque Natural Tha Pom Khlong Song Nam créditos: Joland

Em tempos apenas visitado através de um longboat (barco típico tailandês), é hoje possível percorrer o parque a pé através de um passadiço de madeira que se estende por 1200 mt. Imagine-se no meio de uma paisagem luxuriante, acompanhado por uma banda sonora feita de sons da natureza, e rodeado por águas esmeralda e azuis cristalinas. Se não estivesse já provada a capacidade infinita de adaptação da Natureza ao meio ambiente, este seria o local que o provaria. É fascinante ver a forma como as plantas e árvores se usam mutuamente para chegarem mais facilmente aos elementos cruciais para a sua sobrevivência: a água e a luz do sol. As raízes das árvores erguem-se como cobras do chão para se alimentarem dos raios solares, num habitat de iguanas, aranhas, peixes variados e extraordinárias orquídeas selvagens.

Em alguns locais específicos do Parque, aqueles que permitem o mergulho nas suas águas, é frequente encontrarem-se crianças locais a exercerem o seu primordial direito enquanto criança: ser livre e feliz.

Railay Beach

Da selva a viagem continuou rumo a uma península que dá pelo nome de Railay. O objetivo desta viagem em particular não passava por dias de relaxamento total deitada em areias brancas, intervalado por mergulhos na água quente do Mar de Andamão por isso sabia que havia algo mais à minha espera em Railay. Apesar de ligada a terra, o acesso à península a partir do continente está bloqueado por imponentes falésias calcárias. Assim, vi-me no cais Nam Mao, à espera do barco que me levaria a um destino em relação ao qual não tinha quaisquer expectativas. Vinte minutos depois chegava a Railay East. Não demorei muito mais tempo a perceber qual o interesse desta península, para além das suas praias.

Railay Beach
Railay Beach créditos: Joland

Este pequeno paraíso é ideal para quem não consegue ficar muito tempo parado. Desde caminhadas nos seus vários trilhos, a escaladas nas imponentes falésias, e aventuras em grutas como a Diamond Cave, ou outras menos exploradas, há sempre algo para fazer e descobrir em Railay. Os mais aventureiros que se atreverem a fazer o, por vezes desafiante, trilho até ao miradouro, são premiados, não só com uma vista memorável sobre a península, como com a oportunidade de mergulharem nas águas azuis da Lagoa de Railay.

Deixei as escaladas para outras aventuras, e continuei o trilho mais simples e tranquilo que me levou de Railay East até à praia de Phra Nang. Aqui, dezenas de barcos ancorados serviam de restaurantes para os vários turistas que relaxavam na praia. Não resisti a comer o meu primeiro Pad Thai desde a minha chegada à Tailândia poucos dias antes. No fundo da praia, uma caverna repleta de vários objetos que não conseguia identificar corretamente chamou-me a atenção. Ao aproximar-me percebi que esta era a Caverna da Princesa (conhecida como Tham Phra Nang Nok, em tailandês.) Diz a lenda que a caverna é local de peregrinação de casais que sonham em ser pais. Depositam esse seu desejo e, caso este se concretize, é suposto regressarem à caverna, onde deixam um objeto de formato fálico como agradecimento.

Railay Beach
Railay Beach créditos: Joland

A essência da cultura tailandesa em Nakhon Si Thammarat

Nakhon Si Thammarat é um daqueles destinos que grande parte dos turistas não se vê a incluir nos seus roteiros de viagem pela Tailândia. Quem o faz dá por si envolvido num pote de cultura e tradições milenares que definem a essência do país. Este foi o destino seguinte da minha viagem e um dos que mais momentos memoráveis me ofereceu.

Usando como base o Hotel Grand Fortune Nakhon Si Thammarat, parti à descoberta da cidade que, em tempos, foi conhecida como a capital do Reino do Sul. Uma visita ao templo Wat Phra Mahathat Woramahawihan, o maior e mais famoso da cidade, revelou fascinantes rotinas e rituais religiosos que marcam a vida dos habitantes locais. Não deixei de participar também, incentivada por quem ali exercia a sua fé. Desde a queima de incenso ao depositar de moedas em dezenas de pequenas taças, e ao esfregar de gongos com as mãos até produzir som de forma a atrair a sorte, é impossível não nos perdermos neste misto de fé, rituais de homenagem e tradições que caracterizam o Budismo.

Dos rituais religiosos passei para uma das artes que a mim mais me fascinam: os fantoches de sombras. O Museu dos Fantoches de Sombra, conhecido em tailandês por Ban Nang Talung Suchart Subsin, oferece uma visão extremamente interessante sobre uma das mais antigas artes de contar histórias do Sudeste Asiático, através de uma homenagem ao antigo proprietário e habitante desta tradicional casa tailandesa, e um dos maiores mestres desta arte, Lung Suchart, entretanto falecido.

Tive a oportunidade de assistir a um pequeno workshop de criação dos fantoches em couro e a um espetáculo privado onde tive acesso ao backstage, o local onde a magia acontece. Por trás da cortina, um mestre manipulava os fantoches, enquanto uma outra pessoa estava responsável pela banda sonora, tocando uma série de instrumentos tradicionais. Apesar de se tratar oficialmente de um museu, a sensação que temos ao visitar este espaço é que entramos numa casa de uma família local, que nos recebe com um sorriso na cara, orgulhosa pelo interesse demonstrado pela sua arte.

Baan Kiriwong: arte inspirada pelo ar mais puro da Tailândia

Visitei a aldeia de Baan Kiriwong, na província de Nakhon Si Thammarat, na expectativa de descobrir um pouco mais sobre o artesanato local. Num sistema de cooperação comunitária, a população local é ensinada a produzir artesanato em forma de bijuteria, acessários e peças decorativas, utilizando sementes, pedras e outros materiais de origem natural, que depois é vendido no centro de artes locais da aldeia.

Baan Kiriwong: arte inspirada pelo ar mais puro da Tailândia
Baan Kiriwong: arte inspirada pelo ar mais puro da Tailândia créditos: Joland

Todas as artes aqui praticadas, que incluem também o Batik e o “tye-dye”, associadas ao tingir de tecidos, estão assentes em produtos e matérias-primas de origem natural, como tintas provenientes de frutos, plantas e raízes, todas produzidas no local, não fosse Baan Kiriwong um premiado destino de ecoturismo. O seu nome traduz-se por “local rodeado por montanhas e rios”, e diz-se que é o destino na Tailândia com o ar mais puro. Não tenho forma de atestar a pureza do ar, mas posso confirmar a autenticidade e serenidade do ambiente que ali se vive.

A liberdade em tons de rosa em Surat Thani

O destino que se seguia nesta viagem pelo sul da Tailândia era Surat Thani. Ainda em Nakhon esperava-me uma viagem de longboat por uma paisagem de beleza natural irrepreensível. Seguia, entre imponentes montanhas cobertas por um manto verde, atenta a todos os movimentos que detectava na água. Procurava qualquer vestígio de uma barbatana ou cauda a emergir da água, na expectativa de um encontro com um dos mais surpreendentes animais que já tinha ouvido falar, os golfinhos cor de rosa.

Mais de uma hora depois, e já no regresso a terra, convencia-me que não seria desta que os veria ao vivo. Decidi focar-me em aproveitar a paisagem, bebendo cada detalhe de um momento que dificilmente voltaria a viver. E foi precisamente naquele instante que, subitamente, o capitão pára o barco e chama a atenção para as barbatanas que se viam a alguns metros de distância. Foram só alguns segundos, mas valeram para uma vida inteira.

Surat Thani foi cenário de outro dos momentos que mais me surpreenderam durante a minha quarta visita à Tailândia. O dia começava cedo, às 8h tinha de estar no cais da Aldeia de Ban Bai Mai, lar de uma comunidade que vive de pesca e cultivo de cocos. Pelo que me dizem, a comunidade é agora maioritariamente composta por membros mais velhos, já que os mais novos decidiram mudar-se para a cidade em busca de melhores oportunidades. A visita consistia num passeio de barco pelo canal que desemboca no rio Tapi, o mesmo que banha Surat Thani.

Pensei que fosse apenas mais um passeio de barco normal, mas o que me esperava era uma viagem entre túneis de verdejantes palmeiras de mangue, que ofereciam o cenário mais mágico que alguma vez tinha visto. O barco em que eu seguia era o único que circulava àquela hora pelo canal. Na água passeavam-se lagartos-monitor, e das árvores nasciam frutos que me disseram ser o ingrediente preferido para doces tradicionais, vinagre e xaropes. As casas, algumas, erguiam-se ali, à beira da água, há mais de 200 anos. Depois de uma hora de passeio nos canais, entrámos pelo rio adentro. Nas margens, duas pessoas que abasteciam os seus barcos de combustível diziam-me adeus. A mim, a única turista embasbacada com aquele cenário num raio de vários km.

Ao entardecer passeei pelas ruas da cidade de Surat Thani. Junto ao rio, dezenas de mulheres faziam ginástica ao ar livre sob as ordens de dois instrutores posicionados em cima de palcos. Por todo o lado, flores. O passeio levou-me até ao mercado noturno. Como me fascinam os mercados noturnos tailandeses. Rodeada de bancas com os mais variados tipos de comida, não resisti a provar um pouco de quase cada uma das iguarias que via. Haveria melhor forma de terminar esta viagem pela Tailândia desconhecida?

Viagens para a Tailândia

Apesar de quase três meses sem contágios locais e os números positivos no que diz respeito ao combate da COVID-19 (terceiro país no ranking mundial dos 184 países que registaram a maior recuperação da pandemia), as autoridades tailandesas anunciaram o prolongamento do estado de emergência até 30 de setembro.

Viajei para a Tailândia a convite da Autoridade de Turismo da Tailândia. As opiniões expressas neste artigo são, no entanto, inteiramente minhas sem qualquer influência de terceiros.

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