A ilha do Faial faz parte do grupo central do arquipélago dos Açores e, juntamente com Pico e São Jorge, forma o conhecido e mágico triângulo açoriano.
Foram as hortênsias plantadas em vários pontos do Faial, a acompanhar estradas ou a demarcar terrenos, que inspiraram o escritor Raul Brandão a lhe dar a alcunha de “ilha azul”.
Nesta época do ano, entre o outono e o inverno, não vai encontrar a floração destas plantas (que tem o seu auge entre julho e agosto) e a cor dominante, em terra, será o verde que ganha ainda mais tonalidades nos dias de chuva. No mar, não há uma cor definida: o azul ao mesmo tempo profundo e cristalino dos Açores pode dar lugar ao cinzento-difuso ou ao prateado, dependendo do estado do tempo. O melhor é pôr na mala um impermeável e um fato de banho, sem esquecer um bom calçado para trilhos.
De uma levada mágica a uma volta à Caldeira
Os trilhos permitem fazer uma imersão na natureza, tendo o condão de desligar-nos do mundo. Naqueles momentos de comunhão, estamos focados nos nossos passos e naquilo que os nossos sentidos vão absorvendo. No Faial, não faltam opções de trilhos para serem percorridos em qualquer altura do ano.
Talvez o mais surpreendente seja o trilho da Levada, uma vez que não estamos à espera de encontrar uma construção deste género na ilha que é única no Faial e, aquando da sua inauguração em 1964, foi considerada a maior obra de engenharia dos Açores. De facto, ao percorrer o curso da levada conseguimos compreender a complexidade da obra.
Inserida na paisagem protegida do centro da ilha, este trilho linear de 7.6 quilómetros é marcado por belíssimas florestas de criptomérias, exemplares de flora Laurissilva, pontes e túneis que acrescentam um toque de magia ao percurso, sempre acompanhado pela levada.
É um trilho que ganha um encanto especial nos meses de outono e inverno, uma vez que a maior abundância de chuva faz com que os musgos que cobrem o caminho fiquem mais verdes e as ribeiras que cortam o trilho ganhem mais força, preenchendo o percurso com o som sempre presente da água a correr e pontuando-o com pequenas cascatas.
Se a Levada é o mais surpreendente, o trilho mais emblemático do Faial é o da Caldeira. Um percurso circular de 6.8 quilómetros que começa e termina no Miradouro da Caldeira, uma das principais atrações da ilha. Com dois quilómetros de diâmetro e 400 metros de profundidade, é a mais jovem caldeira dos Açores, com cerca de 1000 anos. Guarda um tesouro no seu interior – a flora endémica do arquipélago que ali se manteve preservada –, sendo, por isso, uma área protegida.
Mas os trilhos do Faial não ficam por aqui. É possível conhecer vários lugares relevantes da ilha a pé, começando pela bela baía de Porto Pim, na cidade da Horta, e os seus dois montes, o Queimado e o da Guia.
Neste simpático trilho, tem, além das belíssimas vistas para o Pico, a oportunidade de visitar dois espaços culturais da Horta: a Fábrica da Baleia de Porto Pim, um dos melhores exemplares da extinta indústria baleeira açoriana, e a Casa dos Dabney, onde ficamos a conhecer mais sobre esta família norte-americana que teve um papel relevante na história do Faial. Se o tempo assim o permitir pode também dar um mergulho nas águas apetecíveis e calmas da praia de Porto Pim, enquanto contempla também as antigas muralhas da cidade.
Da marina ao dragoeiro do Jardim Florêncio Terra
Uma visita pela Horta pode começar na marina, afinal, é uma das suas principais portas de entrada. É a mais importante dos Açores e a quarta marina mais visitada do mundo. A sua localização oferece um excelente abrigo contra os ventos de todas as direções e faz dela uma escala quase obrigatória para os veleiros que viajam das Caraíbas em direção ao Mediterrâneo. Quem por ali passa acaba sempre por ir parar ao Peter Café Sport, o espaço emblemático faz parte da lista de lugares "obrigatórios" de um roteiro pelo Faial.
Os mastros dos barcos marcam a paisagem da marina com vista para o Pico, mas são as pinturas no chão que mais chamam atenção. É uma tradição cumprida por quem ali passa: deixar uma marca alusiva à embarcação e à viagem. Diz-se que também é um ato de boa sorte para o resto da jornada. Ponto de encontro entre iatistas e aventureiros que cruzam os mares, a bela marina é a essência desta cidade virada para o Atlântico.
A partir daí, a cidade da Horta vai subindo pelas encostas com as construções de vários períodos a formarem um interessante e colorido tétris arquitetónico. As igrejas (São Francisco e Matriz) ganham destaque neste alinhamento, bem como o Império do Divino Espírito Santo dos Nobres ou o edifício da sociedade maçónica Amor da Pátria.
Os jardins urbanos, muito bem cuidados, fazem-nos um convite a sentar num dos bancos vermelhos e apreciar a vida tranquila da cidade. Um dos recantos mais especiais é o que encontramos junto ao belíssimo dragoeiro do Jardim Florêncio Terra.
Na Horta, e também pela ilha, não faltam opções de restaurantes para todos os gostos e carteiras (deixamos algumas sugestões no fim do texto). Por fim, para sentir-se integrado na vida cultural da cidade, pode ir ver um espetáculo ou um filme no belo e bem conservado Teatro Faialense.
De um farol em ruínas a uma praia digna de cartão-postal
A cidade da Horta é muito acolhedora, mas, tendo um carro à disposição, o melhor que tem a fazer é percorrer as boas estradas da ilha e, em pouco tempo, vai alcançar paisagens surreais, como o grandioso Morro de Castelo Branco ou a bonita Praia de Almoxarife.
No Poço das Asas, conseguimos ver a elegante cascata a cair com alguma intensidade, seguindo, depois, para as antigas pias lavadeiras do Poço da Faia da freguesia de Pedro Miguel. O espaço foi recentemente restaurado, ajudando, desta forma, a preservar um património histórico daquela parte da ilha. Os dois lugares transfiguram-se nos dias de chuva, sendo, portanto, uma boa oportunidade para visitá-los.
Também entre um céu carregado, a visão do Farol da Ribeirinha toma outra dramaticidade. O edifício foi gravemente afetado pelo sismo de 1998, tendo sido abandonado, mas a torre do farol continua de pé, cheia de “cicatrizes” deixadas pelo abalo, provocando aquela sensação de que pode desmoronar a qualquer momento.
Toda a envolvência do lugar é fantástica: o silêncio, só quebrado pelo vento e pelo cantar dos grilos, as vistas largas para o mar e para as ilhas de São Jorge e Pico (se o tempo assim o permitir), com aquele toque de mistério que só um sítio em ruínas consegue dar. Se quiser espreitar outro edifício que ainda guarda cicatrizes do sismo de 1998, faça uma paragem na Igreja de São Mateus, também na freguesia da Ribeirinha.
Do lado oposto da ilha, encontramos a praia que faltava incluir nos tops das mais belas de Portugal e que talvez ainda seja um segredo bem guardado – os mais críticos irão dizer que não deveria ter sido aqui revelado. A Praia da Fajã conquista-nos pelos contrastes do mar azul com o negro da areia e o verde das altas encostas.
A Fajã da Praia do Norte é um lugar que surpreende pela sua quietude e pelo seu microclima que permite o cultivo de vinhas ou árvores de frutos. Vale a pena percorrer o trilho circular da Rocha da Fajã para conhecer melhor esta parte menos explorada da ilha. Um lugar que se formou na escoada lávica resultante da erupção do vulcão do Cabeço do Fogo, em 1672/73.
Bem mais recente, em 1957/58, a erupção do vulcão dos Capelinhos mudou por completo a vida na ilha do Faial. Além de ter destruído casas e terrenos agrícolas, foi a primeira erupção submarina estudada e acompanhada pela comunidade científica e o “passaporte” de saída para milhares de açorianos com destino aos Estados Unidos.
Ainda hoje, é impossível ficar indiferente a esta paisagem quase lunar que nos esmaga pela grandiosidade e nos coloca no nosso devido lugar. Visitar o vulcão e o seu centro interpretativo faz parte dos roteiros “obrigatórios” que não referem, contudo, outra experiência inesquecível a ter ali naquela ponta da ilha: contemplar o pôr do sol. Podendo, é ir e ver com os próprios olhos. Agradeçam-nos depois.
O SAPO Viagens visitou o Faial a convite da Associação de Turismo Sustentável do Faial
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