“O Alqueva significou e significa muito. Continuamos a apostar no projeto e muito dos seus princípios e valências têm sido concretizados”, diz à agência Lusa o presidente da Câmara de Portel, José Manuel Grilo.
Mas, num concelho que “continua a ser um dos mais pobres do distrito de Évora” e que quase não é abrangido pelos perímetros de rega do Alqueva, nem pela revolução agrícola provocada pelo regadio, os benefícios diretos do projeto tardam em aparecer.
“Como somos um dos concelhos a montante da barragem e não temos grande área de rega, a agricultura nunca foi a nossa esperança, mas sim a utilização do plano de água e o turismo”, em relação aos quais “ainda há entraves”, frisa o autarca.
Localizada no "coração" do Alentejo, no rio Guadiana, na “fronteira” entre os concelhos de Portel (Évora) e Moura (Beja), a barragem do Alqueva começou a encher a 08 de fevereiro de 2002 e, desde então, atingiu várias vezes o pleno armazenamento.
O empreendimento, no qual foram investidos mais de dois mil milhões de euros, é considerado “estruturante” para a região alentejana e abrange diversas valências, como a agrícola, o abastecimento público de água e a produção de energia hidroelétrica.
Na sua capacidade total de armazenamento, à cota de 152 metros, é o maior lago artificial da Europa, com uma área de 250 quilómetros quadrados e cerca de 1.160 quilómetros de margens.
“Nos últimos anos, o projeto virou-se muito para a agricultura e para o aproveitamento hidroelétrico e abandonou-se um bocado o Alqueva como projeto turístico, a nossa grande esperança”, argumenta o autarca de Portel.
As potencialidades turísticas da região “são muitas” e o “mar interior” proporcionado pela barragem fez crescer o “sonho” do desenvolvimento. Só que, até agora, a Amieira Marina, na zona de Amieira, foi o único projeto turístico diretamente ligado ao Alqueva a implantar-se no concelho.
Inaugurada em 2007, a marina disponibiliza várias ofertas turísticas no Grande Lago alentejano, como os “famosos” barcos-casa e passeios em barcos de cruzeiro.
“Esperávamos sempre ser mais um ‘player’ nesta zona, que já deveria ser um destino turístico. Na realidade, este território custa a evoluir para um destino, e, infelizmente, hoje em dia, se calhar, somos o ‘player’ principal do Alqueva”, afirma Eduardo Lucas, administrador da Amieira Marina.
Para o desenvolvimento turístico local, tanto o autarca como Eduardo Lucas consideram que o Estado tem de “puxar mais pelo território e projetá-lo, a nível nacional e internacional”, mas, sobretudo, tem de ser revisto o Plano de Ordenamento das Albufeiras do Alqueva e do Pedrógão (POAAP).
O plano, cuja primeira versão foi aprovada em Conselho de Ministros a 07 de fevereiro de 2002, dita as regras de utilização dos planos de água e das margens das duas principais albufeiras do empreendimento do Alqueva.
A sua única revisão foi aprovada pelo Governo em junho de 2006, tendo sido publicada em Diário da República dias depois.
“É urgente rever o plano porque, neste momento, é o que restringe mais o desenvolvimento”, frisa José Manuel Grilo, exemplificando que, com o atual POAAP, um empresário que queira avançar com um projeto turístico na zona “tem de possuir 100 hectares para fazer um plano de pormenor”.
“Isto impede o avanço dos pequenos projetos”, lamenta, indicando que estão também proibidas “algumas atividades náuticas e a criação de praias fluviais”, o que, para Eduardo Lucas, também já não faz sentido: “Esta revisão do POAAP surgiu quando grandes projetos turísticos se queriam impor no Alqueva, mas estes não avançaram e, por isso, o plano não devia ser tão restritivo”.
Mauro Henriques, presidente da União de Freguesias de Amieira e Alqueva, que engloba a aldeia que dá nome à barragem, critica, igualmente, as “burocracias” e defende “mais apoio para o turismo, principalmente para pequenas unidades”, para “prender a juventude” à terra e dar-lhes postos de trabalho, que escasseiam.
O Alqueva, celebrizado pela frase “Construam-me, porra!”, pintada na ensecadeira erguida nos anos 70 e que visou protestar contra décadas de adiamento das obras, fez evoluir o concelho, reconhece Mauro Henriques, mas os resultados, por enquanto, estão aquém do esperado.
“Durante as obras, havia muitos trabalhadores e o comércio ‘mexeu’ muito e, desde que a barragem está pronta, tem atraído muitos visitantes. Mas não trouxe toda aquela evolução que as pessoas estavam à espera”, afirma, com confiança no futuro: “Tenho esperança de que as coisas melhorem com o tempo”.
Na atual fase do projeto, que poderia ser resumida no concelho pela frase “Aproveitem-me, porra!”, esta esperança é partilhada pelo presidente da Câmara: “Acredito no potencial turístico e tenho fé que isto mude”.
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