Em declarações à agência Lusa, a propósito de uma nota hoje emitida sobre o assunto, o presidente da Câmara de Vila Nova de Cerveira disse que, do lado português, a certificação do Caminho de Nossa Senhora do Norte será formalizada ainda este ano junto do Turismo do Porto e Norte de Portugal (TPNP) e, do lado espanhol, junto do Xacobeo e do Turismo de Galiza.

“Informalmente já falei com o presidente da TPNP, mas agora temos de tratar do pedido de reconhecimento oficial desta variante. Para nós é importante, sob todos os pontos de vista, desde logo pelo fortalecimento das relações transfronteiriças, mas também pela valorização do património histórico do caminho e pela dinâmica turística e da economia local”, sustentou Rui Teixeira, admitindo tratar-se de “um processo que vai demorar”.

O projeto de reconhecimento e valorização do Caminho de Nossa Senhora do Norte, com uma extensão de mais de 200 quilómetros, foi iniciado há cerca de um ano pela eurocidade constituída por Cerveira e Tomiño, através de uma investigação histórica da variante que resultou num livro que vai a ser apresentado, do lado português, em junho, após as eleições autárquicas de 28 maio na Galiza.

Do lado galego, a publicação foi lançada na quarta-feira, no município galego de Tomiño, e colocada à disposição das comunidades dos dois lados do rio Minho.

O autarca socialista adiantou que “a nova variante começa em São Pedro de Rates, no concelho da Póvoa de Varzim, distrito do Porto, passa por Barcelos, no distrito de Braga, entra em Viana do Castelo, percorre Caminha até Vila Nova de Cerveira. Neste concelho do distrito de Viana do Castelo, os peregrinos podem cruzar o rio Minho, ou de barco ou pela ponte internacional, para Tomiño e continuar por Gondomar, Vigo e Redondela até Vilavella, onde se funde com o Caminho Central até Santiago de Compostela, capital da Galiza.

“Já contactei informalmente alguns dos presidentes de câmara do lado português e todos manifestaram interesse, por ser importante para o território e para a economia local”, disse.

Rui Teixeira adiantou que, em simultâneo com o processo de certificação, a eurocidade Cerveira e Tomiño irá “promover atividades para dar a conhecer a existência do caminho”.

Por “existir um apontamento histórico que relata a passagem dos peregrinos do Alto Minho para a Galiza através de uma barca, a “intenção” dos dois municípios vizinhos passa também pela aquisição de uma embarcação para essa finalidade, sendo que “atualmente existe um operador turístico local interessado em assegurar esse serviço”.

A limpeza e sinalização do caminho é um objetivo “prioritário” do projeto transfronteiriço que deverá avançar ainda este ano.

A pesquisa histórica que sustenta o projeto de certificação da nova variante foi feita pelo arquiteto e investigador António Soliño, que “documenta a passagem de peregrinos por Tomiño para Santiago de Compostela desde, pelo menos, 1295, ano que surge como a referência mais antiga conhecida”.

Segundo o investigador, citado na nota enviada à imprensa, “a origem da passagem do caminho pelo território Tomiño está na vila da Barca, entretanto já desaparecida situada na atual Goián, topónimo que certifica que era uma das passagens importantes do Minho”.

“Se algo caracteriza esta variante é o alto valor do património construído pela arquitetura de origem medieval e barroca, e sobretudo pela sua arquitetura militar e pelo elevado número de elementos etnográficos, especialmente os caniços, cruzeiros”, sustentou o historiador.

Os Caminhos de Santiago são uma rota milenar seguida por milhões de peregrinos desde o início do século IX, quando foi descoberto o sepulcro do apóstolo Santiago.

Do lado português há dois caminhos certificados: o central, que parte de Viseu e passa pelo Porto, e o da Costa, que parte do Porto e termina em Valença, este último num total de 138 quilómetros de extensão. Do lado espanhol, há oito caminhos certificados.

Em 2022, de acordo com dados revelados em março, 123.800 peregrinos percorreram os dois caminhos portugueses certificados para Santiago de Compostela, gerando receitas de 16 milhões de euros.

Aquele montante corresponde a 6% do impacto económico total gerado pelos 438 mil dos peregrinos que chegaram no ano passado a Santiago de Compostela.