A página de instagram do Simão - @simao_the_beagle – gerida por Vanessa Vilas Boas - tem conteúdos turisticamente relevantes e com uma boa pedagogia sobre a história de cada lugar português (focando Lisboa) através de uma galeria animada sempre pelo animal de estimação da família. Vanessa Vilas Boas revela a sua insatisfação:

“Hoje tive uma situação infeliz que muito me entristeceu…os cães já não são permitidos no Castelo de São Jorge.” – assim começou o que motivou este artigo sui generis.

No sábado passado, quando a família chegou com o Simão, pela trela, ao Castelo de São Jorge (e que costuma ser um passeio habitual para esta família como podem ver na página @simao_the_beagle: Simão – Lisbon Storyteller), ficou estarrecida.

Mas além do caso do Simão, o beagle que já é bastante conhecido, nas redes sociais, por ser cicerone de portugueses e estrangeiros no que respeita ao contar de histórias das belezas da cidade de Lisboa, houve centenas (!) de queixas de portugueses que reagiram a esta situação e decidiram partilhar o que está a acontecer com Lisboa e com os animais. É o caso de Inês que é veterinária e que costumava passear o seu cão, o Caju, no Castelo. Hoje guarda uma galeria linda do Caju no @amy.footprints e algumas das imagens são em São Jorge. Tendo falecido o seu cão…chegou ao lar a cadela Amy. É a vez de levar a Amy ao Castelo, mas ficou igualmente inconformada quando viu a proibição estatelada na porta do Castelo. Também Margarida Cardoso Barradas (@marg_gram) comenta na mesma posição face ao que está a ocorrer: “não vejo nenhuma razão para um animal de estimação ser proibido de entrar num espaço público, com trela e com o(s) dono(s). (…)”.

Cães proibidos de entrar no Castelo de São Jorge: as reações de quem defende o turismo “pet friendly”
Cães proibidos de entrar no Castelo de São Jorge: as reações de quem defende o turismo “pet friendly”

E há mais críticas, por exemplo chega-nos de Cristina (@the_red_postcards) o seguinte: “Com muita tristeza o Simão relatou que já não podia entrar num espaço público como o Castelo de São Jorge. Nos últimos anos tenho visto a nossa bonita cidade a caminhar (…) mas infelizmente tivemos um retrocesso. Existe uma percepção comum de que os cães fazem confusão e aumentam a manutenção e conservação dos espaços públicos (…).

A @d9859a concorda com o retrocesso referido: “ (…) Portugal com tantas ridículas imposições e restrições está a ficar retrógrado. Tentem fazer um abaixo-assinado. Aqui em Londres é o que fazemos quando não se está de acordo com alguma coisa”.

Segundo o @o_alfacinha_viajante que reagiu à história do Simão preso na sua liberdade de passeio e de ‘humanidade’: “A grande indignação que sinto é ver um lugar público como é o Castelo de São Jorge privar o acesso à entrada de cães. Lisboa é de todos e isso inclui o castelo”. Também este senhor menciona o adjetivo ‘retrógrada’ para a mentalidade que, assim, Lisboa e as autoridades de governo revelam neste domínio.

Segundo @behind_susy_eyes: “Eu tenho 2 cães e efectivamente sinto-me revoltada por os meus animais que são devidamente educados, não poderem entrar no Castelo, uma vez que é suposto nos dias de hoje as cidades caminharem em direcção a mais espaços pet friendly. (…) certamente também já tiveram problemas com humanos, não? Estes foram proibidos de entrar também?? Indignada!!”.

Caes Castelo Sao Jorge
Caes Castelo Sao Jorge

A Doutora Vanessa, cuidadora do bonito Simão, conta-nos – “antes era permitido e deixou de ser. Era verdadeiramente um direito que existia e deixou de existir. É um retrocesso para aquilo que representa a inclusão dos animais na vida da cidade”.

Sentiu “um murro no estômago” – revela – à porta do Castelo, com o Simão pela mão. Lembrem-se: o cão celebrava o seu aniversário, era um momento de celebração para a família.   Adianta ainda que tem tido um esforço nos últimos três anos para “tentar mostrar como é que os animais bem-educados podem conviver pacificamente nos lugares públicos (…) constatar que todas as cidades europeias estão a evoluir nesse sentido e a nossa cidade (…) está a dar passos atrás”.

Efetivamente, se verificarmos, os passeios familiares nas cidades europeias são muito pet friendly e com o bom intuito de relacionar a comunidade com os edifícios históricos, preservando-os e enaltecendo-os com fotos sempre muito apelativas e que ficam na memória. Sobretudo promovendo o bem-estar familiar e qualidade de vida. Agora o cenário mudou drasticamente e várias pessoas estão irritadas com a forma como viajar pelo Património…se tornou segregadora.

De notar que a conta de instagram do Simão é pro bono e tem como missão a inclusão de animais no turismo, com a consciência constante de devidas precauções quanto à manutenção (higiene e comportamento do animal sempre supervisionados pelos donos). O problema está no facto de algumas pessoas que não têm animais não compreenderem o impacto deste tipo de proibições súbitas na vida e no bem-estar do animal. O animal tem de ficar ainda mais sozinho em casa ou as pessoas têm de deixar de fazer os seus roteiros de visita – ou hábitos de rotina no exterior - na sua própria cidade! Quem nos fala em nome do Simão e de todos os animais do mundo, lembremos, é médica (Vanessa Vilas Boas) e alerta para a necessidade de cuidar o animal e reconhecer a evidência científica sobre o apoio emocional que os animais podem providenciar. “Já não se trata apenas de cão-guia”. Então, porque nos despojarmos de quem trata bem de nós por causa de um sinal inconsciente colocado na porta de um castelo que retira a liberdade aos animais e às pessoas?

Caes castelo sao jorge
Caes castelo sao jorge

É caso para eu dizer: estamos com saudades de isolamento da COVID-19? Não chega de laivos desta pandemia ainda por terminar? Abram portas! O património precisa, afinal, de voltar a ser lembrado…agora que a liberdade tem voltado às ruas.

Sobre liberdade e passeio com animais, a Doutora ainda explica que tem de se ter atenção a regras quanto à permanência de animais em espaços: muitos donos não sabem lidar com o comportamento dos bichinhos e tornam-se (os donos) irresponsáveis: “todos teríamos a ganhar com uma inclusão maior”. A entrevistada sugere e muito bem uma espécie de certificado de treino, até determinado por lei, para permitir a entrada dos cães que merecem continuar a estar nos locais, fora de casa, em convívio com os donos, com outras pessoas e outros animais.

Durante três anos, o Simão sempre pode entrar no Castelo e fazer as suas poses a que nos habituou (ver galeria aqui) e este sábado, dia 23 de Outubro, foi barrado à porta. Muitas pessoas se solidarizaram com esta situação, mas creio que mais surgirão quando virem esta notícia que nasceu da publicação “alerta” na página @simao_the_beagle.

Quem concorda com turismo português “pet friendly”? Sobretudo quem concorda com um Portugal avançado e humanista? Perguntei eu no meu instagram e também porque sou amante de animais e de viagens. Pergunto-vos eu, agora e aqui.