Já há muito tempo que tinha o Mosteiro de Alcobaça na minha wishlist. A beleza do monumento nunca me tinha passado ao lado, sabia que valia a pena vê-lo de perto e fotografá-lo.
No entanto, nunca tinha pensado em passar a noite nesta abadia. E não porque não goste de dormir em lugares diferentes, mas porque ainda não existia o Montebelo Mosteiro de Alcobaça Historic Hotel e o Claustro do Rachadouro – onde se encontra a unidade – devia estar muito degradado.
Talvez a partir de 2013 já pudesse sonhar com uma estadia no Mosteiro. Foi nesse ano que a Direção Geral do Património lançou o concurso público para a concessão do Claustro do Rachadouro.
Porém, confesso: nunca julgaria que só o iria visitar, pela primeira vez, uma década depois. Afinal, o Mosteiro fica a apenas cerca de 1h30 de Lisboa (o que me faz pensar que a proximidade poder ser uma das razões que me fez acabar por adiar tanto a ida).
O hotel do mosteiro nasce quase uma década depois no Claustro mais novo do Mosteiro, o do Rachadouro, que foi construído no século XVII por ser preciso mais espaço. A construção terá durado até ao século XVIII com a conclusão da Biblioteca que continha uma das maiores coleções de Portugal até ao ano do seu saque em 1833 e a posterior transferência para a Biblioteca Nacional.
Hoje, a Biblioteca ganhou nova vida e é o espaço do hotel para eventos que, para além de amplitude, beneficia de luz natural.
Para além da biblioteca, existiam no Claustro celas, que se transformaram em quartos, e oficinas, no rés-do-chão, que deram lugar ao restaurante, bar e spa.
O que esperar do Montebelo Mosteiro de Alcobaça Historic Hotel?
Ser-se surpreendido. Por muito que já se saiba para o que se vai, ver o trabalho de requalificação ao vivo de Eduardo Souto Moura deixa-nos de boca aberta. Se por um lado estamos num espaço moderno, por outro, sabemos que as paredes guardam histórias com séculos. Depois, há a decoração minimalista. Se a princípio pode parecer uma escolha fácil e até mais económica, depressa entendemos que há muito para descobrir no “vazio”.
Será difícil não se apaixonar pelos extensos corredores com tetos abobadados e reparar nas portas dos quartos, pois os tamanhos variam.
No quarto onde ficamos, em tons terra, havia apenas o necessário para uma estadia agradável: silêncio, tomada livre junto à cabeceira para, por exemplo, carregar o telemóvel, televisão (que raramente assistimos, mas que, por vezes, ligamos enquanto aguardamos que a casa de banho fique livre) e secretária para trabalharmos ou escrever.
E desengane-se quem acha que a casa de banho será um lugar descaracterizado: duche, banheira para um banho mais relaxado e um lavatório com um espelho grande são algumas das coisas que nos podem fazer demorar mais tempo nesta área. Contudo, não nos queríamos distrair muito por aqui visto existir a zona de spa (e nós queríamos muito ver a piscina e mergulhar – caso a água fosse mesmo aquecida).
Deste modo, seguimos para a zona do spa onde se encontra a piscina que já andávamos a “namorar” desde que vimos as primeiras imagens do hotel, na altura em que foi inaugurado.
Situada no interior da unidade, a piscina foi construída nas antigas cavalariças dos monges de Cister e incorpora as colunas que suportam o edifício. O ambiente criado pelas abóbadas e o azul da água remete-nos para outros tempos. Assim, à medida que descemos os degraus da piscina, sentimos que estamos a mergulhar, por exemplo, na Roma Antiga.
Depois de relaxarmos na piscina (que confirmamos ter água aquecida), vamos experimentar o banho turco que nos permite relaxar graças à luz e música relaxante que acompanha cada momento do banho. Tal como os espaços para massagens, o banho fica num compartimento móvel que pode ser retirado a qualquer altura sem ferir o edifício.
Esta terá sido uma das preocupações do arquiteto Souto Moura que, conforme nos explica António Machado Matos, diretor do hotel, procurou “devolver o mosteiro ao mosteiro”. Para tal, o arquiteto inspirou-se no minimalismo e desapego da vida conventual que caraterizou a vida inicial do edifício, limpando o mesmo das inúmeras intervenções mais recentes.
Os elementos que foram acrescentados ao edifício, seja por causa da iluminação ou aquecimento, foram integrados de forma cuidadosa e discreta parra respeitar a sua essência. Enquanto descobrimos a unidade e observamos o Claustro, percebemos que cada elemento, por mais simples que pareça, existe para desempenhar uma função e por determinada razão. Assim, descortinar o que está por trás de cada elemento, a razão da sua existência e da sua forma, acaba por ser um exercício interessante que nos fará valorizar e entender melhor o trabalho de Souto Moura.
Conforme o comunicado da Visabeira, a visão de Souto Moura “conseguiu destacar o virtuosismo e qualidade de materiais nobres como a pedra, a madeira, as peles, o aço, o betão e o vidro, em perfeita união com as seculares raízes do edifício e o irrepreensível respeito pelas pré-existências e pela história do Mosteiro”.
A decoração, em parceria com o arquiteto Siza Vieira, e o design do mobiliário também estiveram a cargo de Souto Moura. Enquanto tomávamos o pequeno-almoço, cruzamo-nos com um pequeno grupo de arquitetos que quis visitar a unidade para apreciar o trabalho exemplar de requalificação do premiado arquiteto.
O hotel tem em exposição fotografias do Claustro que mostram o estado de degradação avançado que se encontrava antes da intervenção. Vale a pena espreitar durante a estadia.
Entre os sabores de Alcobaça e do Montebelo
Como já conhecia o restaurante do Montebelo Vista Alegre Ílhavo Hotel e o Zambeze Restaurante & Rooftop Bar, não podia deixar de experimentar o restaurante da nova unidade. Seria uma boa forma de começar a descobrir a gastronomia local.
O menu do restaurante é variado e conta com opções vegan e para os mais novos. As entradas vão do Carpaccio de bacalhau com pickles de legumes ao Estaladiço de rabo de boi, passado pela Triologia de cogumelos com queijo de cabra , sem esquecer a Sopa de Peixe.
Entre os pratos principais de carne (existem ainda os de peixe e os vegetarianos): Coxa de frango em falsa púcara, Lombinho de porco Malhado com batata parisiense e cebolinhas, encontramos o Arroz de cabrito com castanhas e cogumelos à Chef Cristina Almeida, que homenageia a chef do grupo que partiu durante a pandemia. Vemos ali uma partilha mais humana do Montebelo, que deixa de ser apenas uma cadeia e passa a ser igualmente um lugar que nos é mais familiar, feito por pessoas e com alguma história.
Terminamos a refeição com o doce Estaladiço do Mosteiro (crocante de massa filo, com doce de ovos, amêndoa, nozes e gelado de ginja), mas há mais sobremesas que gostávamos de provar (talvez no dia seguinte) como o Cheesecake de chocolate e coulis de frutos vermelhos, o Folhado de maçã com gelado de baunilha e o Cremoso de quinoa e crocante de arroz tufado.
Um espaço para descobrir e sentir
Tal como comenta António Machado Santos, este é um hotel para se estar, “descobrir e sentir”. Sem grandes adornos ou extravagâncias, a unidade foca-se na experiência e bem-estar do hóspede, tendo versatilidade para se adaptar e corresponder às necessidades de cada um.
O Montebelo Mosteiro de Alcobaça pode ser o refúgio perfeito para quem quer fazer uma introspeção, reconectar-se com o seu eu, como para uma escapadinha romântica a dois ou de relaxamento. Devido à localização, pode ainda servir de base para quem quer visitar Nazaré, São Martinho do Porto ou as Grutas de Mira de Aire e as Grutas de Alvados.
Nós decidimos ficar apenas pelo hotel. Depois de mergulharmos na piscina, relaxarmos no banho turco e de um delicioso jantar, dormimos de alma leve (e mente relaxada) como os monges. Acordamos sem despertador, tomamos um pequeno-almoço no buffet bastante completo do hotel e, de seguida, recebemos uma massagem de corpo inteiro que eu não sabia, mas que, afinal, precisava (especialmente no pescoço). Foi a cereja no topo do bolo. Senti que saí da massagem renovada. Foi, sem dúvida, um momento zen e de relaxamento. Depois, ainda deu para fazer mais um circuito piscina, banho turco e almoçar no restaurante.
Ainda que a experiência tenha acontecido de forma relaxada, sem necessidade de estar sempre a olhar para o relógio, faltou tempo para me sentar no exterior a ler um livro ou mesmo num dos corredores do hotel. É para o que nos apela este lugar. A encontrarmos a nossa terapia. Senti que a minha seria ler, mas para outros pode ser pintar, escrever ou ouvir música. Em algum momento, olhamos para alguns dos espaços e imaginamo-nos a fazer algo neles. Será que é por isso que vamos querer voltar?
A lição de luxo que precisamos
Para quem já foi ao Dubai e visitou o hotel Burj Al Arab Jumeirah (que leva o luxo ao extremo), o Montebelo Mosteiro Historic Hotel não se mostra modesto e ensina-nos que mesmo para usufruir de uma vida de luxo, não precisamos de muita coisa, muito menos de extravagâncias.
Numa altura em que a luta contra o desperdício deve fazer parte da vida de todos, sabe bem conhecer lugares como o Montebelo Mosteiro Historic Hotel que sem abusar do dourado ou de amenities conseguem proporcionar aos hóspedes uma experiência de qualidade e, convenhamos, é um luxo poder dormir num mosteiro secular com conforto, privacidade, segurança e comodidades da nossa era.
*O SAPO visitou o Montebelo Mosteiro Historic Hotel a convite da unidade
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