
Nas regiões de olival, há um numero significativo de exemplares de lagares de vara que ainda preservam o engenho para fazer o azeite.

Muitos desses lagares estiveram a funcionar até há algumas décadas. Mais recentemente, alguns foram transformados em lugares museológicos e nem se sabia bem o que estava no interior por estarem cobertos de silvas.
Foi o caso do Lagar de Varas de Vila Velha de Ródão que fica mesmo ao lado da Ribeira do Enxarrique que uns metros à frente vai desaguar ao Tejo e onde andaram os últimos elefantes europeus.
O Lagar de Varas é uma longa janela no tempo e na tecnologia.

No mesmo edifício podemos ver como se fazia o azeite com duas enormes varas ou troncos, com tração animal e também com um hidráulico. Logo à entrada, vemos rodas enormes de granito com diâmetro superior a um metro.

Chama-se o “moinho de boi” porque era de tração animal. Ao lado está, o estábulo onde os animais descansavam de tanto andar à roda que até tinham de lhe tapar os olhos.
A sala maior é a da prensa de varas. Dois troncos de quase sete metros cada atravessam a área e o extremo mais estreito está fixado na parede.

Os troncos funcionam individualmente. As ceiras cheias de pasta de azeitona eram colocadas numa pilha debaixo do tronco. Com um fuso, um ou dois homens, dependia da força, fazia baixar o tronco para prensar as ceiras e escorrer o azeite.

Quando a pressão era muito grande deitavam água quente sobre as ceiras para fazer escorrer a gordura. O azeite escorria para latas grandes. É aqui que descobrimos “o ladrão”. Quem levava a azeitona para fazer o azeite pagava uma maquia. Segundo Ana Silva, do gabinete de Turismo, em Vila Velha de Ródão era metade em azeite e metade em dinheiro.

Além de receber a maquia, o mestre do lagar aproveitava a água com gordura que seguia primeiro para um poço interno, antes de chegar ao poço no exterior. Ele coava o azeite e depois vendia-o ficando com todo o rendimento.
No interior do lagar não se consegue ver o “poço do ladrão”. Há ainda um motor hidráulico e muitos outros objetos para transporte e consumo do azeite.

Podemos ver ainda publicidade antiga a marcas da região.
O espaço é muito visitado por pessoas com alguma idade que ainda têm memória dos lagares tradicionais.O lagar é de xisto e tem ao lado cinco tulhas onde se guardava a azeitona para ser moída.

A visita ao lagar pode ser complementada com uma deslocação ao Núcleo Museológico do Azeite em Sarnadas de Ródão.
Ao longo de séculos a zona de Vila Velha de Ródão teve uma economia familiar muito dependente da azeitona e do azeite. Hoje a atividade económica é diferente mas as famílias não dispensam a apanha da azeitona.

Muita gente tira férias em Novembro para a apanha da azeitona e “é quase um orgulho para a família ter a sua própria azeitona e azeite. Além do mais, chegam à consoada e já podem regar o bacalhau com azeite novo.”
O Lagar das Varas está aberto ao público e alberga ainda o posto de turismo de Vila Velha de Ródão. Quem quiser pode ter visita guiada. Para grupos convém marcação prévia. Nos tempos que correm, há sempre que levar em conta as regras e as restrições impostas pela COVID-19.
Uma nota final. O mestre Manuel Cargaleiro nasceu em Vila Velha de Ródão e está associado ao Lagar das Varas com a produção de ilustrações sobre o azeite de Ródão.
O ladrão no lagar de varas faz parte do programa da Antena1, Vou Ali e Já Venho, e a emissão deste episódio pode ouvir aqui.
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