Sete anos depois, voltei ao Tua. O pretexto para este regresso foi o programa de Murça do Tua Walking Festival, mas a vontade já existia há muito – queria ver in loco a transformação provocada pela conclusão da barragem e pela subida das águas.

Na minha visita em 2016 percorri uma parte do antigo troço ferroviário que corria junto à margem leste do rio, na altura já sem carris e parcialmente encerrado. Apesar da grande polémica que a construção da barragem gerou, a obra acabou por ir avante e já estava quase terminada quando lá estive.

O enchimento da barragem começou poucos meses depois. Fait accompli, a polémica em torno do projecto esmoreceu e os ânimos hoje parecem estar tão calmos quanto a água represada do rio.

Desta vez, fiquei-me pela margem oposta. Percorri de carro a M596, que passa junto à aldeia do Amieiro, numa cota superior, e foi aí que tive o meu primeiro contacto visual com este “novo” Tua. O rio, que corria esguio e selvagem, pulando e redemoinhando sobre o leito rochoso, engordou e acomodou-se. As águas quase beijam a aldeia, que continua com ar sonolento, parada no tempo, e nem o toque do sino de Santa Luzia a traz à vida. Tal como o rio, a paisagem em volta agora parece mais domada, com áreas esparsas organizadas em socalcos bem comportados onde crescem vinhas e oliveiras. E nada mexe, não se vêem pessoas nem embarcações, nem sequer pássaros.

Tua
O rio Tua é um afluente da margem direita do rio Douro, no território da Terra Quente do Nordeste Transmontano créditos: Ana C. Borges

Uns quantos quilómetros mais abaixo, no Miradouro do Ujo, a atmosfera é diferente. Há alguns carros e motas que vão parando, e os passeantes sobem os degraus largos, de metal oxidado, para chegarem ao varandim e tirarem as fotografias da praxe. Estamos perto do troço final do rio e vê-se ao longe, meio despercebido entre o verde da água e das margens, o topo da estrutura da barragem. Entre as arribas apertadas, o Tua não tem autorização para se alargar e mantém-se rio, em curvas e ângulos rectos que contornam como podem o relevo orográfico. Também aqui se nota que os socalcos vão ganhando terreno, intercalados com manchas mais escuras de pinheiro bravo e outras espécies arbóreas.

Tua
A seguir o percurso do Tua créditos: Ana C. Borges

Junto à foz, onde se une ao Douro, a aldeia e a estação ferroviária transformaram-se em pontos turísticos, com restaurantes cheios e grupos barulhentos que aguardam a chegada do MiraDouro, puxado por uma das bem conhecidas locomotivas diesel-eléctricas da série 1400, agora pintadas na sua original cor azul.

Um festival de caminhadas

Criado por regulamento de 2013, o Parque Natural Regional do Vale do Tua (PNRVT) é o promotor do Tua Walking Festival que, como publicitado pela organização, “dá visibilidade à paisagem, património, cultura e tradição e aos produtos identitários do território”.

O PNRVT agrega cinco municípios – Alijó, Murça, Vila Flor, Carrazeda de Ansiães e Mirandela – e o programa do festival distribui-se por igual número de fins-de-semana, um em cada concelho. A base das actividades programadas é, obviamente, um percurso pedestre escolhido entre as 12 Pequenas Rotas criadas pelo PNRVT, devidamente homologadas e com manutenção permanente. Às caminhadas aliam-se outras actividades, sempre diferentes e que envolvem degustação de produtos locais, visitas a sítios emblemáticos, música, e até mesmo workshops e acções de formação.

Murça

Vila pequena e tranquila, a proximidade do Tua não é o único motivo pelo qual vale a pena visitá-la. A parte antiga, onde predominam as tradicionais casas brancas com portas e janelas debruadas a cantaria, desenvolve-se à volta de duas praças ligadas por uma rua. No Largo 31 de Janeiro, a estrela é a célebre Porca de Murça, o símbolo maior da vila. Esta escultura proto-histórica de granito – uma entre as muitas estátuas de berrões encontradas no nordeste de Portugal e também em algumas províncias espanholas que fazem fronteira com o nosso país – é de origem e data incertas, mas crê-se ser a representação de um animal sagrado e que terá vindo de um castro da região, possivelmente associado à tribo pré-céltica dos Draganos. Quanto à lenda que a refere… bom, é apenas mais uma daquelas lendas que dão um sabor especial à nossa memória histórica.

Porca de Murça
A célebre Porca de Murça créditos: Ana C. Borges

Na praça 5 de Outubro, onde se ergue o edifício da Câmara Municipal, o motivo maior é o Pelourinho, obelisco de contornos simples que data do século XVI, presumivelmente esculpido após D. Manuel I ter concedido um Foral Novo à vila. Entre as duas praças está a Igreja Matriz, de estilo inconfundivelmente barroco com a sua torre sineira bulbosa e o costumeiro exagero de pináculos e volutas. No interior, o tecto pintado contrasta com as paredes brancas, e os brancos de madeira escura são o contraponto da profusão de retábulos de talha dourada.

Igreja Matriz de Murça
A Igreja Matriz de Murça créditos: Ana C. Borges

Também oitocentista, a Capela da Misericórdia é um exemplar bem mais interessante da arquitectura religiosa de Murça. Recentemente restaurada, perdida numa encruzilhada de ruas estreitinhas e apesar da sua fachada espartilhada entre casas comuns, é impossível ignorá-la, de tão bela que é. Na fachada, destacam-se as suas quatro colunas com parras, uvas e aves, e a cimalha e pináculos ricamente decorados com motivos semelhantes. No interior, os olhos vagueiam pela parede do altar, toda em mármore prodigamente trabalhado, e sobem até ao crucifixo gigante colocado no varandim e ao tecto decorado com um padrão em ouro e preto. Na tribuna superior, o destaque são os pequenos cadeirais dispostos lateralmente, com espaldar trabalhado e pintado com retratos de monges, que primam pela originalidade e se pensa terem vindo de algum mosteiro.

Pormenor da Capela da Misericórdia
Pormenor da Capela da Misericórdia créditos: Ana C. Borges

Para quem vem da A4, a entrada em Murça está assinalada por uma rotunda onde salta à vista um conjunto de esculturas de bronze que interagem com uma oliveira: é “O Ciclo da Azeitona”, monumento concebido por Laureano Ribatua em homenagem aos apanhadores do fruto que é uma das bases económicas mais importantes desta região. Ao lado, uma ponte de madeira faz a ligação ao parque urbano, mancha verde destinada ao lazer onde se encontra, tão bem dissimulado que mal se dá por ele, o Posto de Turismo que acumula a função de Porta de Entrada do PNRVT.

Mais acima na estrada, o Jardim Municipal foi o local escolhido para lembrar o Soldado Milhões. De seu nome Aníbal Augusto Milhais, foi um herói da 1ª Guerra Mundial, condecorado pela valente prestação na batalha de La Lys. Em honra dele, a toponímia da sua aldeia natal, que pertence ao concelho de Murça, foi alterada em 1924 para Valongo de Milhais, e a habitação onde nasceu é agora uma casa-museu, recentemente inaugurada. A título de curiosidade, o busto colocado no jardim em homenagem a esta personagem da nossa História, que já deu origem a filmes e livros, é também da autoria de Laureano Ribatua.

Murça
O Jardim Municipal de Murça foi o local escolhido para lembrar o Soldado Milhões créditos: Ana C. Borges

Um atributo importante de Murça, sobretudo para quem é guloso como eu, é a sua doçaria tradicional, em que a vedeta é o toucinho do céu. Algo diferente do bolo-pudim que é mais comum encontrar por aí, o de Murça leva obrigatoriamente doce de gila, além de amêndoa, farinha, açúcar, gordura e uma quantidade insana de gemas de ovos. Fabricado há mais de 400 anos segundo o mesmo método, para continuar a preservar e defender o carácter genuíno desta relíquia gastronómica foi há pouco tempo criada a Real Confraria do Toucinho do Céu de Murça. Outro doce típico famoso são as queijadas, que não têm nada a ver com outras que conhecemos. Igualmente feitas à base de gila, o conceito de queijada neste caso cinge-se ao facto de existir uma massa exterior, confeccionada em separado, que é depois recheada com um preparado semelhante ao do toucinho do céu.

O programa de Murça

A aparente pacatez de Murça dissimula um tecido agrícola empresarial em crescimento e com rasgos de inovação. Prova disso é a Cooperativa dos Olivicultores, onde decorreu a primeira visita guiada incluída no programa do Festival. A funcionar desde 1956, ali se produz “Azeite de Trás-os-Montes”, que é Denominação de Origem Protegida. Os seus azeites virgem extra, comercializados com as marcas “Porca de Murça” e “Senhor de Murça”, têm recebido inúmeros prémios em concursos nacionais e mundiais – e não é por acaso que a Cooperativa ocupa o 28º lugar no top 100 das sociedades oleícolas do mundo. Dotada de maquinaria moderna, organizada em salas muito amplas onde o verde alterna com o brilho metalizado do aço, a memória das técnicas tradicionais da extracção de azeite é mantida viva num Núcleo Museológico instalado num espaço exterior, onde as máquinas mais antigas estão em exposição. A mais recente “aventura” da Cooperativa, em termos de produto inovador a ser lançado brevemente no mercado, foi desvendada pelo seu presidente e guia desta visita, Francisco Vilela, que nos deu a provar o “Cacau fused”, um condimento que mistura o azeite ali produzido com o cacau da Roça Diogo Vaz de São Tomé. Aqui que ninguém nos ouve, posso garantir-vos que é absolutamente delicioso!

Inserida na Região Demarcada do Douro, que é “só” a mais antiga região vitícola regulamentada do mundo, está claro que outro produto famoso da região de Murça teria de ser o vinho. Da Adega Cooperativa instalada na vila saem os vinhos “Caves de Murça” (nas variedades branco, tinto, espumante e porto), “Foral de Murça” (tinto) e “Adega de Murça” (frisante e de mesa), alguns dos quais provámos durante o jantar, incluído no programa do Festival, que foi servido na Adega. Esta Cooperativa foi fundada em 1963 e a sua face mais visível é um edifício simples e aparentemente pequeno, que disfarça com sucesso os gigantescos depósitos metálicos instalados nas traseiras. Por baixo, esconde-se a enorme cave onde vão envelhecendo os vinhos das diversas colheitas, ciosamente protegidos em tonéis cónicos avantajados ou barricas colocadas na horizontal. As uvas de que são produzidos provêm de 800 hectares de vinha, que pertencem aos cerca de 750 agricultores que fazem actualmente parte da Cooperativa.

Adega Cooperativa
Adega Cooperativa de Murça créditos: Ana C. Borges

No programa criado para a edição de Murça não faltou a música, em registos e ocasiões diferentes. Na noite de sábado, ao lado do plinto onde está instalada a Porca, foi dado palco à Ivette Band. Repertório variado, entre o tradicional e o quase jazzístico, os dotes vocais e a energia da artista que dá o nome à banda animaram a noite fresca e puseram a audiência a dançar e cantar. No dia a seguir a música foi de outro cariz, harpa e trompete para temas a puxarem ao recolhimento, magistralmente interpretados por dois jovens na Capela da Misericórdia.

O percurso pedestre

A proposta era uma caminhada no Trilho dos Passadiços do Tinhela, um percurso circular fácil de 6,5 km, em que apenas o final – a subida algo íngreme de regresso à vila – é mais desafiante para quem já não tem 20 anos. De resto, e ao contrário do que o nome dado ao percurso parece indicar, as partes em passadiço de madeira são curtas (e ainda bem!), reduzindo-se a uma escadaria na descida para o rio e a uns poucos troços curtos na margem direita do Tinhela, onde os desníveis são mais perigosos.

O percurso deste trilho começa junto à Porta de Entrada de Murça do PNRVT, e por isso mesmo tem uma parte inicial em ambiente urbano. No entanto, não demoramos muito a deixar para trás as últimas casas da vila. Seguimos baixando por um carreiro largo até à N15 onde, junto à Ponte Nova sobre o Tinhela (que foi construída em 1872, pelo que neste caso o “nova” é apenas para a distinguir da ponte medieval, mais antiga), está bem assinalada a escadaria de madeira que facilita a descida até à cota do rio.

Ponte Nova de Tinhela
Ponte Nova de Tinhela créditos: Ana C. Borges

O rio Tinhela é um afluente do Tua com poucas dezenas de quilómetros de comprimento, mas que abriga na sua área uma diversidade de habitats. Foi por isso definida nas suas margens uma microrreserva, onde é possível encontrar 23 espécies raras ou endémicas de musgos e líquenes. Não é sem razão que é considerado como um dos rios mais bem preservados da Europa. Depois de uma paragem mais prolongada no final da escadaria – porque, mesmo por baixo da ponte, o Tinhela salta sobre a rocha e forma uma pequena e fotogénica cascata – seguimos o trilho durante pouco mais de um quilómetro, ao longo da margem esquerda do rio, até que chegamos à ponte medieval. Antes da construção da Ponte Nova, este era o único local de passagem sobre o rio na estrada de Vila Real a Bragança, que se prolongava pelo troço de uma antiga via romana que em tempos ligou Astorga à foz do Douro. O que sobreviveu dessa via romana é hoje a Calçada de Murça, e é também uma alternativa de regresso à vila, para quem não quiser continuar a percorrer o trilho.

Cruzada a ponte, o percurso continua pela margem direita do Tinhela, mais íngreme e selvagem, mas onde as dificuldades são simplificadas pelos pequenos trechos de passadiço e escadas em madeira. O próprio curso do rio estreita e torna-se mais acidentado, com a água a correr apertada entre a vegetação densa e sobre rochas desgastadas ao longo do tempo pela sua passagem.

Margens do Rio Tinhela
Margens do rio Tinhela créditos: Ana C. Borges

A subida final até à vila é feita já sem a protecção das árvores, mas com a vantagem de podermos apreciar a paisagem em volta. A encosta do lado direito está marcada pelas linhas geométricas dos olivais e dos socalcos vinhateiros, enquanto do outro lado do rio as elevações são coloridas pelo cinzento dos granitos, misturado com o verde e com as manchas de amarelo intenso das giestas em flor. A Primavera é sem dúvida uma altura ideal para visitar esta região.

Outros pontos de interesse

A sul de Murça e também à beira do Tinhela, com um viaduto da A4 lá no alto, fica a praia fluvial de Rebelos, que será certamente bem apetecível em dias de calor. É um local sossegado, apesar de estar junto à estrada municipal, e o rio aqui corre manso. Uma das margens tem relva, uma zona de merendas e um bar que funciona no Verão, enquanto na outra margem há uma espécie de areal.

A uma quinzena de quilómetros de Murça, vale a pena visitar o Santuário do Senhor de Perafita, lugar de romaria no mês de Agosto. Tão encaixada entre as habitações da aldeia que só é visível quando lá estamos mesmo ao pé, a igreja de finais do século XVII tem como particularidades mais interessantes a sua nave octogonal e a ausência de torre sineira – que na realidade existe, e é bem imponente, mas está do outro lado da rua. Junto a ela, a Casa dos Milagres, um núcleo museológico que expõe uma colecção fora do comum de ex-votos. Uma escadaria de granito dá acesso ao calvário, cinco cruzeiros singelos que se espalham pela encosta acima até à Capela do Senhor dos Milagres.

Outro santuário na região é o de Nossa Senhora da Saúde de Saudel, perto de Sabrosa. Aqui acorrem todos os anos milhares de devotos, na peregrinação que também tem lugar em Agosto. A capela, de traça exterior simples e elementos maneiristas, está situada num grande parque com relva e árvores, bem cuidado, onde não faltam mesas e cadeiras de pedra, um lago, dois coretos e uma fonte termal que se diz ter poderes curativos milagrosos. No interior da capela destacam-se os retábulos laterais barrocos e um outro, neoclássico, acima do altar-mor, e ainda o tecto pintado, dourados e cores fortes em contraste com o friso de azulejos em tons discretos que corre na parte inferior das paredes.

Pertencendo ao concelho de Sabrosa, a aldeia de Parada de Pinhão tem história de muitos séculos – D. Afonso III concedeu-lhe foral em 1256. É a terra-natal de personagens ilustres do nosso país, como Aires Torres, poeta, actor, militar e revolucionário de inícios do século XX, ou Manuel Hermínio Monteiro, que dirigiu de forma notável a editora Assírio & Alvim. Foi aqui que fiquei alojada durante o meu fim-de-semana prolongado na região, na Casa do Adro de Parada – e não podia ter feito melhor escolha. Situada mesmo ao pé da Igreja Matriz da aldeia, esta casa tradicional de granito mantém a sua traça exterior, mas tanto o edifício principal como os adjacentes foram renovados e preparados para receber hóspedes com todo o conforto possível. Transposto o portão, há lugar para estacionar carros, uma piscina com uma sala de lazer adjacente, sardinheiras na varanda e mil e um pormenores de decoração originais. Os pequenos-almoços são servidos numa salinha envidraçada e à boa maneira portuguesa, tanto em quantidade como qualidade, onde não falta nada – nem sequer uma vista alargada e relaxante sobre a paisagem duriense. Quanto ao acolhimento, mais caloroso e eficiente não podia ser. É um daqueles lugares onde apetece mesmo ficar mais uns dias.

Casa do Adro da Parada
Casa do Adro da Parada créditos: Ana C. Borges
Casa do Adro da Parada
O pequeno-almoço créditos: Ana C. Borges

Parada de Pinhão também tem um santuário, este dedicado ao Senhor Jesus do Calvário. Situa-se numa elevação no extremo oeste da aldeia, o que faz dele um excelente miradouro. A capela tem uma dimensão considerável e um estilo moderno, indicando remodelação redente. O espaço circundante é um misto de adro e parque, com um cruzeiro barroco, coretos, árvores e flores. A devoção religiosa das gentes do Alto Douro é incontestável.

Nestes sete anos que mediaram as minhas visitas à região do Tua, alguma coisa parece ter mudado. Tal como no resto do país, sente-se que está a ser feita uma aposta forte no turismo, tanto interno como externo. A renovação do interior de Portugal está a ser aparentemente bem sucedida: as estradas estão boas, as ruas limpas, a oferta de alojamentos e restauração continua a aumentar, cada vez se vêem mais casas recuperadas. Há uma divulgação crescente do nosso património natural, que já se percebeu ser uma mais-valia importante, e à boleia dela progride também a valorização do património cultural e arquitectónico das nossas regiões antes mais esquecidas. Se vamos conseguir levar estas transformações a bom porto sem que se perca a genuinidade e a identidade de cada uma delas, isso só o futuro o dirá.

A Ana é a autora do blogue Viajar porque sim, onde uma versão deste artigo foi publicada originalmente, e escreve segundo as normas do antigo Acordo Ortográfico.