Budapeste é a nona maior cidade da Europa e uma das capitais europeias mais visitadas nos últimos anos. O fascínio poderá dever-se à rica e trágica história que tem vindo a moldar os seus habitantes e à cultura vibrante underground resultante dos vários anos de opressão. Fundada em 1873 através da união de três cidades distintas, Buda e Ôbuda, na margem direita do Danúbio, e Peste, na margem esquerda, Budapeste foi a última cidade que visitei em 2023.

Apesar de ter sido fortemente devastada durante a II Guerra Mundial, a cidade e os seus habitantes souberam reerguer-se e criar uma atmosfera acolhedora para todos os visitantes. A arte e a arquitectura, muito característica desta cidade, andam de mãos dadas: murais espalhados pela cidade, mini-estátuas para descobrir, os bolos chaminé para provar, os magníficos banhos termais em Széchenyi Thermal Bath para aproveitar e os famosos bares em ruinas. Tudo isto ganha uma cor diferente se forem na altura do Natal!

Já ouvi maravilhas do pôr-do-sol “infinito” que acontece no Inverno da Islândia, mas nunca tinha ouvido falar da qualidade da luz que a cidade de Budapeste tem no Inverno. Não tem um pôr-do-sol que dura horas, mas está desde o nascer-do-sol até ao pôr-do-sol numa luz que, normalmente, só se obtém quando se está quase a chegar ao fim do dia. É difícil de explicar por palavras, mas o sol está sempre baixo e a luz é perfeita para fotografar em qualquer altura do dia.

Não tem um pôr-do-sol que dura horas, mas está desde o nascer-do-sol até ao pôr-do-sol numa luz que, normalmente, só se obtém quando se está quase a chegar ao fim do dia.

O rio Danúbio é uma presença habitual em qualquer miradouro ou ponto alto na cidade, este desempenha um papel vital no turismo da cidade e, historicamente, no transporte de mercadorias. É difícil fotografar a cidade sem ter o rio como parte integrante da composição, principalmente por ser parte da identidade da cidade. Fotografar as margens do Danúbio, especialmente do lado de Peste, com uma luz suave e difundida pelo nevoeiro, pode render imagens únicas e cativantes: foi na última manhã que a luz atingiu este estado de beleza. Como tal, decidimos aproveitar estas condições para fazermos o caminho até à Ilha Margarida junto ao rio. Num aparte, esta pequena caminhada permite ver alguns pontos icónicos da cidade: o Parlamento da Hungria, a ponte das correntes e “Cipők a Duna parton” (Sapatos à beira do Danúbio).

Esta luz que tanto falo, proporcionou-me a melhor fotografia de toda a viagem: aquela fotografia que olhamos e ficamos com orgulho; aquela que entra automaticamente nas melhores do ano. O nevoeiro proporciona um ponto de ancoragem para o olhar do observador e contrasta com o lado esquerdo mais escuro da fotografia. Estes dois contrastes de luz são unidos pela cor vibrante de uma das atrações de Budapeste: a carruagem do metro. A rede de metropolitano foi inaugurada em 1896 e é um dos mais antigos do Mundo, sendo que a linha M1 (linha milenar) é Património Mundial da UNESCO e é a segunda linha subterrânea mais antiga do continente europeu. Esta não é uma simples fotografia, os vários elementos contam uma parte da história da cidade (a ocupação soviética) e o olhar mais atento consegue identificar a cidade onde foi tirada. Às vezes uma fotografia, é o suficiente para contar a história!

Budapeste
Budapeste "A melhor fotografia de toda a viagem: aquela fotografia que olhamos e ficamos com orgulho", diz o Guilherme. créditos: Guilherme Teixeira

O decorrer desta manhã revelou-nos um monumento que tinha estado submerso nos últimos dias devido às cheias que estavam a afectar a cidade (o Danúbio atingiu a marca histórica dos seis metros de altura): os sapatos à beira do Danúbio. Este memorial homenageia os judeus que foram executados durante a II Guerra Mundial e consiste em 60 pares de sapatos de ferro que representam o calçado que foi deixado para trás por todos aqueles que foram executados junto ao rio. Não considero que fotografar este memorial com uma luz perfeita seja um desrespeito ao seu significado, mas sim uma forma de preservar a memória e mostra que mesmo nos momentos mais difíceis há uma esperança de melhoria. Não podemos mudar o passado, mas podemos usar o passado para melhorar o futuro!

À medida que o nevoeiro avança suavemente pelas águas do Danúbio, os contornos dos edifícios mais icónicos de Peste emergem gradualmente, revelando-se como silhuetas majestosas nas últimas marcas que o transbordar do Danúbio deixou. O Parlamento Húngaro, com a sua imponente arquitectura gótica, assume uma presença ainda mais grandiosa quando envolto no nevoeiro. A luz suave confere uma qualidade etérea às cenas urbanas que ajuda a suavizar as sombras e a destacar os detalhes arquitectónicos. Os reflexos difusos na superfície do Danúbio adicionam uma camada de complexidade visual, transformando o rio num espelho que reflete a beleza serena da manhã na cidade de Budapeste.

Sapatos à beira do Danúbio
Sapatos à beira do Danúbio O memorial "Sapatos à beira do Danúbio" créditos: Guilherme Teixeira

A experiência de fotografar neste cenário é um exercício artístico que tem como objectivo capturar a delicadeza da luz e do nevoeiro. Cada disparo da máquina revela uma cena única, com a luz suave a moldar o cenário; os tons suaves e os contrastes subtis proporcionam uma paleta visual única para explorar. A margem do Danúbio, envolta na suavidade da luz e do nevoeiro, oferece uma oportunidade única para os fotógrafos capturarem a cidade de uma maneira evocativa e emocional. É uma experiência que transcende a simples técnica fotográfica, permitindo a imersão numa atmosfera única que revela a beleza intemporal de Budapeste.

Podem seguir as viagens e experiências fotográficas do Guilherme no seu blog, Raw Traveller, onde uma versão deste artigo foi publicada originalmente, e no instagram.