Imagem: Rúdisicyon / CC
Diz quem sabe e quem ainda se lembra, que durante décadas serviu para ligar a charmosa vila costeira às aldeias saloias do Cobre, Pampilheira, Murches, Birre e Zambujeiro. Facilitava as trocas comerciais entre as comunidades que subsistiam da agricultura e que viviam na zona mais interior do concelho, e as comunidades piscatórias e cosmopolitas que habitavam no litoral. Hoje, no entanto, é o lugar perfeito para um tranquilo passeio de fim de semana.
O trilho até agora recuperado conta com mais de sete quilómetros no meio da natureza, que pode ser percorrido a pé, de bicicleta ou a cavalo. É um espaço verde, com uma imensa riqueza ecológica, que atravessa a Vila de Cascais até ao Parque Natural Sintra-Cascais.
Um olhar mais atento permite descobrir as 52 tampas de drenagem das águas pluviais que se encontram ao longo do caminho. Estão disfarçadas com obras do artista urbano Tiago Hacker e retratam as aves, os mamíferos e os répteis que existem na região e também as antigas casas saloias que evocam a ancestral ligação entre Cascais e a suas origens rurais, promovendo desta forma a memória coletiva e a identidade municipal.
A Ribeira das Vinhas integra uma linha de água com vários quilómetros de extensão que tem origem na Serra de Sintra e foz na Praia dos Pescadores. Das vinhas pelo qual a ribeira era conhecida pouco restou — parece que a praga de míldio matou tudo há mais de um século. Porém, um ou outro marmeleiro ainda existe, o que explica a ribeira ter o nome popular de “Rio Marmeleiro”.
Mas para além da bela paisagem, a Ribeira das Vinhas apresenta ainda um conjunto importantíssimo de património histórico, ao qual se juntam um complexo de grutas onde outrora, segundo contam os antigos, se escondia a população aquando dos ataques piratas (a esse propósito, vale a pena recordar que o Outeiro da Vela em Cascais tem esse nome porque os cascalenses ali se revezavam na "vela" da barra, vigiando a entrada de embarcações indesejadas na baía). Uma dessas grutas (Gruta de Porto Covo) terá mesmo assumido funções idênticas às do Poço Velho (grutas naturais localizadas na margem direita da Ribeira das Vinhas), guardando no seu interior vestígios pré-históricos de ocupação humana.
Foi através deste caminho da Ribeira das Vinhas, que durante décadas chegaram a Cascais bens essenciais como o leite, o pão, a farinha, o queijo e as hortaliças. E era também através dele que, em cima de burros, as lavadeiras transportavam a roupa para lavar nas suas aldeias. Imagino que naquela época os caminhos deviam ser desconfortáveis e cheios de solavancos, mas hoje é um trilho que se faz muito bem.
É perfeito para quem gosta de caminhar e contemplar a natureza. Estamos perto do centro de Cascais, mas podíamos estar no campo. Dá para ouvir pássaros a cantar, ver coelhos a correr e até um rebanho de ovelhas a pastar. É uma paisagem bucólica onde podemos encontrar girassóis e muitas outras flores, pequenas hortas, oliveiras, laranjeiras… Há até quintas onde os proprietários e caseiros colocam caixas com fruta que vai caindo das árvores junto às grades para que quem passa as possa levar.
É um belo passeio de fim de semana. Fica a sugestão!
Para mais inspiração e ideias para férias e fins de semana sigam as minhas stories no Instagram
Artigo originalmente publicado no blogue The Travellight World
Comentários