A arquitetura é singular porque a origem do café-restaurante é uma antiga igreja, vizinha do mosteiro de Santa Cruz.
A construção remonta a meados do século XVI. Com o fim das ordens religiosas, passou pelas mais diversas funções, desde armazém de ferragens, quartel de bombeiros ou carpintaria.
Em maio de 1923 foi adaptada a café-restaurante e manteve a traça original no interior. Destacam-se abóbadas definidas por arcos em pedra.
Está decorada com representações de flor de lótus, o sol ou a lua. Mais tarde foram acrescentados os espaldares de madeira que cobrem as paredes.
A maior transformação quando da transformação em café foi na fachada de pedra. O estilo é renascentista e marcado por enormes e bonitos vitrais.
Muitos destes elementos chegam aos dias de hoje. Diz um dos clientes habituais que “é dos poucos em Coimbra que mantém a sua traça antiga. Havia outros, como por exemplo aqui ao lado na Ferreira Borges. O café Santa Cruz mantém o mobiliário, a traça, o seu estilo de café antigo, com tradição e que também se tenta modernizar.”
Falei com Paulo Ramires ao final de uma tarde de domingo. Ele estava na bonita esplanada com vista panorâmica para, pelo menos, oito séculos de história.
“Estamos na Praça 8 de Maio. Tem ao lado a igreja de Santa Cruz onde estão os dois primeiros reis de Portugal. Existe ainda a Câmara Municipal.
É um sítio de confluência. Vem dar aqui a rua Direita que é a que mais depressa nos leva ao centro da cidade. A praça é uma das salas de visita de Coimbra e é agradável estar aqui.”
Com o incremento do turismo o café Santa Cruz é um dos lugares mais procurados de Coimbra.
Na opinião de Paulo Ramires, o Santa Cruz continua a ter alguma da clientela tradicional, que cumpre o ritual do café, “embora esta zona de Coimbra esteja um pouco despovoada. Articulam-se as duas. A antiga de Coimbra com a dos turistas. Talvez já não exista tanto a antiga que vai envelhecendo.”
Na tradição coimbrã esteve muito associado à tertúlia do União de Coimbra. Era o café dos futricas, em contraposição ao antigo Arcádia, com a clientela afeta à Académica.
Uma outra característica do café Santa Cruz é a realização de uma grande variedade de iniciativas culturais e, frequentemente, cativam a atenção de muita gente.
“Há mais gente quando desses eventos. Há sempre turistas, mas é nessa altura que se vê mais gente de Coimbra. Vêm assistir a essas atividades, música, teatro...”
Um desses eventos estava a começar. Uma sessão de fados de Coimbra e captava a atenção de vários clientes, muitos deles estrangeiros. O concerto era numa ala recuada onde teria sido a capela-mor da antiga igreja.
O templo foi construída em 1530 para servir a comunidade religiosa e resguardar o acesso publico ao convento e ao panteão dos dois primeiros reis de Portugal. D. Afonso Henriques e D. Sancho I.
O mosteiro de Santa Cruz está quase a fazer 900 anos. A igreja, claustro e capelas foram reconstruídas no século XVI, também com influência do estilo renascentista.
Merece igualmente uma visita e, curiosamente, voltou a ter serviços religiosos abertos à comunidade.
Um outro legado é o Cruzio. Um doce com creme de ovo e amêndoa laminada.
Cruzio era o nome dado aos cónegos que faziam parte da Ordem Terceira de Santa Cruz.
O café preserva também a tradição de oferecer a leitura de um jornal – o Diário de Coimbra – aos seus clientes.
O edifício do café Santa Cruz está classificado como Monumento Nacional e o café foi reconhecido pelo município como entidade de interesse cultural e histórico.
Parabéns ao café Santa Cruz de Coimbra que faz hoje 100 anos faz parte do programa da Antena1 Vou Ali e Já Venho e a emissão deste episódio pode ouvir aqui.
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