Por mais belos que sejam os lugares ou por mais excelsas que sejam as paisagens, acreditamos que é a hospitalidade e a simpatia de quem nos recebe que nos faz querer voltar ao mesmo lugar.

O município de Oleiros e o seu turismo “constroem-se” com gente assim, de trato fácil, de sorriso genuíno, de um misto de candura e bravura, que só quem passa por agruras, como foram os incêndios que assolaram a região em 2017, parece poder ostentar. Resiliência e perseverança são os fios condutores, das muitas pessoas com quem nos cruzamos, que nos vão recordando, sem disso ter consciência, que "a vida é bela"!

Impõe-se, para todos quanto pretendam visitar o concelho de Oleiros e as suas dez freguesias, a seguinte questão: “Afinal, o que fazer em Oleiros?”. Partimos à descoberta de parte do território e contamos-lhe como passar uns dias inesquecíveis em Oleiros.

Onde dormir?

Dos muitos alojamentos, casas de campo e hotéis, distribuídos pelas freguesias, tivemos a felicidade de ficar hospedados em Vilar dos Condes, na Madeirã, magistralmente construído e gerido pela D. Teresa, com a ajuda preciosa da D. Daniela.

O Vilar conta com casas de xisto, totalmente recuperadas e equipadas, com uma ocupação total para mais de vinte pessoas. As casas individuais têm cozinha e casa de banho privativa, salamandras nos quartos e nas casas do Pátio, do Caniço, do Lagar, da Eira, da Camélia e do Forno, lugar para o Quarto do Bispo ou o Quarto dos Avós, entre uma panóplia de acessórios e peças decorativas, todas elas com uma história para contar. As casas distinguem-se também pelas cores, cada uma com uma cor predominante, patente nas almofadas, nos cobertores, nas mantas, nas toalhas ou nos naperons, com os utensílios de cozinha a fazer pandam com as restantes divisões.

Vimos fotos do estado da propriedade há cerca de quinze anos atrás, altura em que foi comprada pela atual proprietária, que transformou o lugar, no hoje conhecido “santuário do silêncio”.

Pouco haverá a dizer quando o sonho, o empenho e o sacrifício se unem e dão lugar a espaços encantados como é o Vilar dos Condes. O alojamento de turismo rural leva o “rural” à letra e não possui televisão, aquecimento central ou rede wi-fi, em propostas que roçam, por um lado, o isolamento e a reflexão e, por outro, o convívio social.

Vilar dos Condes
Vilar dos Condes Vilar dos Condes créditos: Paulo Soares

Desengane-se quem pensa que a ociosidade dos dias em Vilar dos Condes possa ser monótona ou solitária. Os jogos de tabuleiros e os jogos tradicionais bem como os livros, em português, francês e inglês, espalhados por cada casa são um claro convite ao convívio e à diversão familiar, com serões de jogos e leitura ao redor da salamandra ou da lareira.

Também numa divertida mensagem na casa principal pode ler-se "não temos televisão ou internet, ponha a escrita em dia!". Algo tão simples como uma caneta e uma folha de papel em branco podem ser um eficaz antídoto natural.

Para caminhantes, amantes de trilhos ou cicloturistas é importante realçar que a Grande Rota do Zêzere atravessa Vilar dos Condes e que junto da propriedade, um pequeno trilho circular, de cerca de três quilómetros, permite conhecer melhor a paisagem envolvente.

E, para os hóspedes mais “inquietos” que não conseguem relaxar num “dolce far niente”, ajudar na apanha de kiwis, de marmelos, nas vindimas ou outras tarefas do alojamento são algumas das sugestões possíveis.

O preço de uma noite, numa das casas, para duas pessoas, é de 50 euros, e 15 euros por cada pessoa extra, com pequeno-almoço incluído. O pequeno-almoço pode ser servido na casa principal ou entregue em cestas individuais.

Onde comer?

Quem conhece um pouco da tradição gastronómica de Oleiros, sabe que o cabrito estonado é “A” iguaria do município. Todavia, são poucos os restaurantes que o servem e menos ainda aqueles que o fazem sem reserva prévia.

Como nos explica D. Conceição Rocha, uma das proprietárias da Adega dos Apalaches, "o cabrito estonado mantém a pele do animal, sendo apenas o pelo retirado. A receita implica acender o forno a lenha às 8 horas da manhã, pôr o cabrito no forno por volta das 10 horas e retirá-lo por volta das 13 horas. Depois disso, o cabrito tem que sair do forno e ir logo para a mesa". Aliás, como afirma D.Conceição "as pessoas têm de esperar pelo cabrito, mas o cabrito não pode esperar pelas pessoas".

Fernanda, a cozinheira responsável, confessa algumas particularidades da preparação do cabrito estonado, sem nunca revelar a receita especial, que torna o prato tão apreciado. A boa matéria prima e o tempero prévio durante dois dias são alguns desses pontos, enfatizando o facto do cabrito ser temperado e não marinado.

Adega dos Apalaches
Adega dos Apalaches Adega dos Apalaches créditos: Paulo Soares

A Adega dos Apalaches, no Roqueiro, chega a confecionar dez cabritos por dia, nos dois fornos a lenha, para servir mais de 100 pessoas, com uma maior afluência aos fins de semana.

O espaço, muitas vezes lotado, é ponto de encontro familiar, de membros espalhados pelo país que se encontram na Adega e um espaço muito apreciado pelos motards, que viajam pela EN2. O menu de cabrito estonado, com entradas, sopa, cabrito, sobremesa, bebida e café custa 29 euros.

A Adega dos Apalaches é, também, reconhecida pela sua comida regional confecionada em panelas de ferro e fogo a lenha, onde não faltam os menus e pratos do dia, incluindo um menu infantil.

O espaço, com exterior em xisto e interior em madeira, convida ao convívio entre amigos e fins de tarde à lareira, com uma belíssima paisagem natural circundante. A pensar numa degustação lenta e almoços ou jantares que se prolongam no tempo, a Ageda dos Apalaches apresenta um rodízio de petiscos, por 27.50 euros, com três tábuas de petiscos variados e sobremesa.

O que fazer?

Para começar, e de forma totalmente lúdica e gratuita, participar na apanha de medronho, azeitona ou marmelo, pode ser a melhor forma de conviver com os residentes e ficar a conhecer as histórias anónimas de percursos de vida singulares. Parafraseando uma letra de Jorge Fernando "Há gente que fica na história / Da história da gente".

Para os amantes de natureza, as propostas são mais do que muitas, da Cascata da Fraga d’Alta, em Orvalho, uma paisagem absolutamente deslumbrante, com passadiços que conduzem ao vale, onde a grandeza e a beleza da natureza nos assoberba, passando pelo Miradouro do Cabeço, também em Orvalho, e as Grandes e Pequenas Rotas de percursos pedestres que atravessam o território, como a Grande Rota Murandal Pangeia Trilho Internacional dos Apalaches, o “maior trilho de pegadas humanas do mundo” ou os trilhos de Álvaro, Estreito e Isna.

Orvalho
Orvalho Cascata da Fraga d’Alta, Orvalho créditos: Paulo Soares

A oferta pedestre conta ainda pela rota do religioso, na vila de Oleiros, um percurso circular de 6.5 km, que permite conhecer diversas capelas e igrejas ancestrais.

No verão, as opções passam pelas praias fluviais de Cambas, de Álvaro, ambas banhadas pelo rio Zêzere ou a praia fluvial Açude Pinto, na Ribeira de Oleiros.

Nota ainda para alguns eventos anuais, como o Festival do Cabrito Estonado e do Vinho Callum, a Feira do Pinhal ou a Mostra de Frutos de Outono, sugestões gastronómicas e artesanais para conhecer melhor, o que de melhor Oleiros tem para oferecer.

R.P. Por Aí visitaram a região a convite do Município de Oleiros