De barco há vários cruzeiros, alguns deles com viagens de poucas horas, mas suficientes para nos apercebermos da beleza do rio a espelhar a grandeza dos socalcos da vinha.
A opção de comboio também é interessante, com a linha férrea a beijar as águas do Douro e, por vezes, entalada entre o rio e escarpas enormes. Só dá para a linha férrea. Há serviços especiais como o Comboio Presidencial ou o Comboio Histórico do Douro entre Peso da Régua e Tua.
Outra possibilidade é o regional da linha do Douro, fica mais barato e tem paragens em lugares de extrema beleza e relevância histórica como por exemplo no Apeadeiro do Vesúvio. Junto a uma das maiores quintas do Douro e com uma forte carga simbólica porque viveu aqui D. António, a “Ferreirinha”, uma das figuras mais representativas da tenacidade das gentes do Douro.
O apeadeiro fica mesmo ao lado do solar, a algumas dezenas de metros da margem sul do rio. Devido às barragens o Douro está domesticado, é mais um espelho das vinhas que dão um colorido diferente consoante a estação do ano.
Algumas das serras, que acompanham as duas margens do rio, são muito altas o que acentua a ideia de um refúgio. Ao lado da estação, vemos a vinha a subir uma enorme encosta inspirada em arquitetura paisagística. A antiga casa de Dona Antónia abraça o rio e na outra margem um pequeno núcleo urbano reflete-se na água.
A história e a beleza do lugar fazem do Vesúvio um ponto de paragem obrigatória para os turistas. A estação continua também a ser utilizada pelos locais que vão de comboio até à Régua ou ao Porto. No entanto, o comboio é mais para os turistas. “Há muitos que vêm aqui, procuram o que há para visitar e vão a Foz Côa”.
Falei com Marlene Melo no lugar de Sequeira, junto à Nacional 222, a meia dúzia de quilómetros do Vesúvio. Muitos visitantes alargam o seu roteiro a outros pontos de interesse do concelho de Foz Côa, o único que tem classificado no seu território dois patrimónios da humanidade, como salienta João Paulo Lucas, vice-presidente do município.
“O Parque arqueológico com o Museu do Côa e o Alto Douro Vinhateiro. Estamos a falar de vinhos, do enoturismo e do ecoturismo. As pessoas podem, por exemplo visitar as quintas e os museus das próprias quintas como é o caso da Ervamoira”.
A Quinta de Ervamoira está integrada no Parque Arqueológico do Vale do Côa.
No Douro há também quintas com espaços museológicos e, no caso da Quinta do Vesúvio, destaca-se uma enorme
adega do século XIX e a manutenção da prática de pisar a uva. É um dos poucos casos em que se mantém esta tradição.
A agricultura, a vinha, mudou muito nas últimas décadas, em comparação com o tempo em que quase toda a população vivia da agricultura. Como refere Marlene Melo, “as pessoas, antigamente, viviam só da agricultura. Há muitas quintas, é disto que maioritariamente as pessoas vivem, mas antigamente viviam mais. Por outro lado, a produção foi automatizada.”
A própria disposição de algumas vinhas foi alterada. Em muitos lugares, a paisagem de linhas circulares foi substituída por linhas verticais que sobrem a encosta mais suave e que dispensa muito trabalho humano. Com o turismo surgiram também espaços de arquitetura paisagística na vinha. Uma escrita ou traços geométricos que fazem esquecer a vida rude e tenaz desta gente que, com o engenho e esforço sobre-humano, construiu uma das obras mais notáveis em Portugal.
O desvio da nacional 222 que nos leva ao Vesúvio, ou para o outro lado, para Custóias, revela-nos muitas destas paisagens. Uma das mais sublimes é depois do núcleo urbano da Quinta dos Quatro Ventos.
Do alto da serra, do miradouro que cada um de nós pode improvisar junto à estrada, temos uma vista sublime e profunda do vale que nos leva ao Douro e ao apeadeiro do Vesúvio. É uma vista panorâmica que se alonga até ao infinito, de ondulações suaves da vinha e das encostas, outras em forma de cone e, por fim, serras muito altas cobrem o horizonte.
O Vesúvio do Douro faz parte do programa da Antena1 Vou Ali e Já Venho, e a emissão deste episódio pode ouvir aqui.
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