Ramon Alonso, Pedro Cunha Pereira, Lickair (José Luís Lickfold), Hélder Guerreiro e a Patrulha Fantasma (Carlos Costa e José Figueiredo), foram os pilotos que conseguiram estar presentes no Careto AirShow24, o Festival de acrobacia aérea que desde 2016 acontece em Bragança e já se tornou numa referência ibérica.

A programação foi toda alterada dois dias antes do evento, devido às adversidades meteorológicas, mas mesmo sem reunir as condições atmosféricas ideais, e sem nunca comprometer a segurança, o espetáculo de acrobacia aérea, o evento principal do Careto AiShow, realizou-se com enorme brilhantismo.

Os F16 da Força Aérea Portuguesa, como já é tradição, sobrevoaram o aeródromo de Bragança e deram o sinal de arranque. Logo a seguir quatro aviões surgiram em formação, para homenagear Manuel Rey, conhecido por “Coco”, o piloto da patrulha YAKSTAR que morreu há pouco mais de um mês num acidente aéreo em Beja. Sem combinação prévia, Pedro Cunha Pereira, Lickair e a Patrulha Fantasma, alinharam-se rapidamente para substituir a Fundación António Quintana (que não conseguiu estar presente), para realizar o ritual de “Missing Man”, usado para homenagear os que partem. O momento, carregado de simbolismo, arrancou emoções contraditórias na plateia, assinalando a consternação e a tristeza com uma enorme salva de palmas.

O Aero Clube de Bragança (ACB), que juntamente com a Câmara Municipal de Bragança organiza este Festival, também assinalou a recente perda para a comunidade aeronáutica, homenageando cada um dos pilotos acrobáticos presentes, que receberam uma medalha com a Nossa Senhora do Ar (Nossa Senhora do Loreto), padroeira da aviação, estilizada, como símbolo de proteção.

O ACB dirigiu uma mensagem especial a estes homens que encontram no sentir a razão de ser. “Olhamos para vós e vemos poetas dos ares, artistas malabaristas, dançarinos e equilibristas que contornam o vento, rasgam as nuvens e seduzem as estrelas mais brilhantes. Sustemos a respiração quando percebemos como, em cada voo, vos entregais como se fosse inquebrável a vossa existência, como em cada voo nos mostrais como é possível viver a liberdade sem limites”, refere a mensagem.

E foi com esta carga emocional, de quem se entrega de coração, com a força, a paixão, à acrobacia aérea que cada um dos pilotos acrobáticos se “excedeu” na qualidade da execução de cada manobra, nas piruetas, loops, voos invertidos, voos rasos e danças no ar.

Ramon Alonso, com títulos de Campeão do Mundo e Campeão da Europa, é sempre brilhante, voando com banda sonora a acompanhar. Cada compasso musical tem uma manobra específica e o resultado é harmonioso, surpreendentemente belo, por vezes assustador, ouvindo vozes no público a dizer “impossível”. Com a mesma graciosidade que dança nas nuvens o piloto espanhol desce à terra, sai do avião e agradece ao público e recebe uma entusiasmada ovação. Ninguém fica indiferente ao “mito”.

Pedro Cunha Pereira, com o famoso avião CITABRIA, revela a paixão pelos ares de quem deu os primeiros voos aos três anos de idade e nunca mais parou. Aos 16 anos já tinha licença de piloto (carta de avião). O pai, Francisco Cunha Pereira, também ex-piloto comercial e acrobático, que acompanha o filho nas exibições, é a personificação do orgulho e entusiasmo de quem sabe que o filho encontra a plenitude a mais de 1500 pés, em rodopios, loops e voos invertidos.  O entusiasmo deste piloto é contagiante, sempre disposto a alargar o tempo de atuação do espetáculo, se a organização assim precisar.

José Luís Lickfold (Lickair), com o Pitts S2A, era o mais jovem piloto acrobático do evento. A primeira vez que participou num Festival Aéreo foi em Bragança, no Careto Airhow, em 2022.

Estuda as manobras, treina a performance, mas cada exibição é uma surpresa porque se deixa levar pela criatividade, pelo instinto e estado de espírito, que dentro do Pitts é sempre de felicidade. O espetáculo é, igualmente, de entusiasmo, e com facilidade interage com a assistência arrancando ora silêncios de suspense, ora aplausos de aclamação.

Este ano, pela primeira vez, juntou-se às exibições em Bragança, Hélder Guerreiro, no seu RV 007. O registo é semelhante aos colegas anteriores, voando literalmente de pernas para o ar, rasgando as nuvens e rodopiando no céu.

Ainda a demonstração de performance da Patrulha Fantasma, constituída por Carlos Cunha e José Figueiredo, que comandam duas aeronaves completamente distintas e exóticas e irreverentes. A sua atuação consiste num voo de formação com cruzamentos, ruturas que deixam em suspense o público. Estes dois amigos voam juntos há quase duas décadas e na sua atuação, dificultada pelo facto de terem de voar de forma coordenada com aviões completamente diferentes, sente-se consistência, domínio e precisão.

Não podiam faltar os Saltos dos Paraquedistas Caretos, que já se tornaram numa das imagens de marca identificativas deste festival. Mesmo com o tempo fosco e com algum vento, a perícia dos paraquedistas surpreende sempre, conseguindo pousar exatamente no ponto definido, em frente ao público, para gáudio da assistência.

Este Festival tem uma forte componente social e solidária. Uma vez mais serviu para cerca de 400 pessoas, das quais uma centena que nunca tinham voado e não tinham meios de o fazer, entre elas muitas crianças de famílias vulneráveis, pudessem usufruir desta experiência, graças aos voos feitos pela Força Aérea Portuguesa, às empresas Sevenair e Nortavia e ao próprio ACB.

O Careto AirShow tem sempre um farto programa em terra, com exposições diversas, simulador de voo, atuações de crianças, artesanato, street food, atuações dos tradicionais Caretos, festa dos Anos 80, arraial e este ano também um espetáculo de humor com Eduardo Madeira.

As ameaças de chuva e trovoada, que obrigaram à alteração da calendarização de alguns espetáculos, intimidaram também a participação do público, mas ainda assim, largas centenas de pessoas visitaram em diferentes momentos o evento e alguns milhares acudiram ao Espetáculo Acrobático. Apesar da sua dimensão, este festival continua a ser organizado pelo ACB, que recorre a uma equipa com quase uma centena de voluntários, para conseguir planear e organizar o evento.