As salinas de Rio Maior mantêm um processo de fabrico artesanal e começam a despertar para o turismo. O local, considerado imóvel de interesse público e património nacional, pode ser visitado através da Cooperativa Agrícola dos Produtores de Sal de Rio Maior.
O Parque Natural das Serras de Aire e Candeeiros, inserido nos territórios dos concelhos de Alcobaça, Porto de Mós, Alcanena, Rio Maior, Santarém, Torres Novas e Ourém, é conhecido pela riqueza faunística e floral. Mas não só. A geologia também cria caprichos e particularidades. As serras de Aire e Candeeiros caracterizam-se por elevados índices de calcário com fraturas na rocha. Esta recebe a chuva que se infiltra nas falhas, formando cursos de água subterrâneos. Cursos estes que alimentam uma intensa vida muitos metros abaixo do solo do parque. Uma atividade que, por vezes, acaba por se ver refletida à superfície, como é o caso das salinas de Rio Maior.
A mais de 30 quilómetros do litoral há, desta forma, salinas cujas águas são oriundas das profundezas da terra. Uma das correntes de água formadas pelas chuvas atravessa uma extensa e profunda jazida de sal-gema. É aqui que o poço das salinas de Rio Maior “se alimenta”. A estrutura impõe-se no centro de um conjunto de 470 talhos (tanques). Os salineiros extraem a água do poço e conduzem-na para os talhos onde, mais tarde, surgirá o sal.
Esta jazida de sal-gema ocupa uma extensa área da Estremadura Portuguesa, entre Leiria e Torres Vedras. Formou-se há milhões de anos, depois do recuo do mar que outrora ocupou a região.
O sal proveniente das salinas de Rio Maior, não sendo um sal de origem marítima, é originário de uma água sete vezes mais salgada que a do mar. Aqui, o sal oscila entre 97% e 99% de cloreto de sódio, o que significa que se pode considerar um produto praticamente cristalino e puro.
Os trabalhos nas salinas remontam a 1177 e desde então a atividade nunca mais parou. O método de produção nas salinas de sal-gema de Rio Maior continua artesanal, tendo ao longo dos tempos sido introduzidas poucas alterações.
Inicialmente a água era retirada do poço através de duas picotas, o que exigia um esforço enorme dos salineiros, hoje em dia é retirada do poço através de uma moto-bomba. A água era tirada, de dia e de noite, pelos ‘marinheiros’, por intermédio de dois baldes de madeira acionados por outras tantas ‘picotas’ ou ‘cegonhas’. Era extremamente duro o trabalho nestas salinas, pois cada marinheiro que tomava a vara da ‘picota’ tinha que tirar 100 baldes de água seguidos, designando-se como uma ‘pega’ esta tarefa.
Este trabalho de extração manual da água tinha inerente o esforço físico, mas deixou algumas histórias para contar. Durante a noite, a extração da água era dificultada pela fraca iluminação e os salineiros adormeciam caindo no poço. O cansaço e a sonolência faziam com que os ‘marinheiros’ caíssem frequentemente no poço, havendo por isso uma escada de madeira dentro do poço, para que os homens pudessem voltar para cima e retomar o serviço interrompido. Os tempos mudaram e os processos para extração de água atenuaram os esforços de uma atividade que continua a ser árdua.
Nas salinas recolhe-se ainda flor de sal. Como explica a Câmara Municipal de Rio Maior: “Nos dias mais quentes e sem vento forma-se à superfície como que uma película de cristais de sal muito finos, que é cuidadosamente recolhida e posteriormente seca e que vem a ser a Flor de Sal. Hoje em dia é bastante procurada pelos verdadeiros apreciadores, sendo a sua maior virtude a de realçar o sabor dos alimentos, visto não ter os tratamentos químicos que o vulgar sal de mesa contém”.
Neste local pitoresco, há ainda outra curiosidade que dá pelo nome de queijinhos de sal. A designação surge do formato redondo, “o sal é moldado com sinchos e depois cozido em forno de lenha. Conservam-se por muito tempo e podem ser utilizados como tempero, para o que basta raspá-los com uma faca”, explica o município.
As salinas de Rio Maior estão rodeadas de serranias. À volta do tanque e dos talhos construíram-se casas de madeira, que serviam de armazéns de sal.
As casas foram recuperadas e integram um complexo turístico que nasce em torno destas salinas do interior. “Os antigos armazéns de sal estão, hoje, em grande parte, transformados em casas de comércio, uma vez que a maior parte do sal passou a ser guardada nos armazéns da cooperativa. A madeira foi o material escolhido de forma a evitar a corrosão do sal. Os suportes laterais exteriores são troncos de oliveira”, diz a Câmara Municipal.
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