Elvas foi a “sentinela” do Reino de Portugal. Segundo o historiador Rafael Moreira, “do rigor teórico à urgência prática: a arquitectura militar, História da Arte em Portugal, vol. 8”, a cidade alentejana de Elvas foi o primeiro espaço fronteiriço a ser “fortificado de modo permanente” durante e depois da Guerra da Restauração em 1640, sendo então designada capital militar do Alentejo e a mais importante praça-forte que assegurava a Independência de Portugal, em virtude de estar a menos de 10 km da fronteira luso-espanhola. Esta vila alentejana, citando J.H.Saraiva (RTP Ensina), é um dos  lugares “mais ensanguentados e mais martirizados” do território português. Afinal, a 14 de Janeiro de 1659, foi aqui que ocorreu a Batalha das Linhas de Elvas.

Incorporado no seio das fortificações abaluartadas (1645-1653), da autoria do jesuíta João de Cosmander, designadamente nas antigas instalações do Regimento de Infantaria 8 (Convento de São Domingos, a Muralha Fernandina e parte das muralhas e baluartes Seiscentistas), o Museu Militar de Elvas tem inúmeros pontos e elementos  expositivos de interesse, tais como, o Centro de Interpretação do Património de Elvas, a História do Serviço de Saúde do Exército, o salão de Hipomóveis e Arreios Militares e inúmeras viaturas bélicas que fizeram parte da história-militar de Portugal do séc. XX. Tem como missão a “a promoção, a valorização, o enriquecimento e a exposição do património histórico-militar à sua guarda”, pode ler-se no site. Faz parte da Rede Portuguesa de Museus (RPM) da Direção Geral do Património Cultural (DGPC).

Museu Militar de Elvas: descobrir a história da
créditos: OLIRAF

Trata-se do maior museu em área de implantação de Portugal. Ao todo são 150.000m2 e uma área coberta de 14.000m2. Atualmente a área deste espaço museológico ultrapassa os 3.500m2. Com uma elevada carga arquitetónica e histórica, este espaço tem um valiosíssimo património onde se conta a história da cidade de Elvas e de Portugal. Pedras com História.

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O Quartel do Casarão faz parte de antigas dependências construídas no séc. XVIII, depois da campanha de 1762-63 pelo engenheiro militar Valleré, autor da traça do Forte de Nossa Senhora da Graça. Trata-se de um conjunto de antigas Casernas do Quartel da Cavalaria, hoje ocupadas por circuito expositivo sobre as comunicações do Exército Português. Cada uma ostenta um nome de um combate onde a arma de cavalaria se notabilizou, designadamente nos sertões de África nos finais do séc.XIX. mantendo ainda hoje a sua traça original.

O Salão Hipomóvel está localizado numa sala do inicio do séc XIX, quando uma parte do espaço era ocupado quartel de cavalaria, houve a necessidade de construir cavalariças para alojar 500 cavalos e milhares de soldados, estas desenvolviam se ao longo de toda a atual parada Mouzinho de Albuquerque, num comprimento total de 120 metros. Chegados a meados do séc XX, com a sucessiva substituição da força motora dos equinos pelos automóveis, e com a necessidade de proporcionar condições mais dignas aos militares que aqui prestavam serviço, foi desanexada parte da cavalariça para adaptação a refeitório de praças.

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As salas de dedicadas ao armamento rebocado por animais (Hipomóveis), na sua quase totalidade artilharia, podemos encontrar exposto os seguintes objectos bélicos: tiro de Artilharia composto por 3 parelhas, armão de transporte de munições e peça“Scheneider Canet” de 7,5 mm Modelo 1904; Canhão revolve “Hotckiss”de 40mm Modelo 1904. Carro de Ferramenta de Esquadrão Modelo 1907. Peça de Artilharia 11,4 cm tiro rápido Modelo 1917; Ambulância de Campanha Modelo Francês do ano 1890; Peça “AB Bofors” calibre 75mm. Modelo 1934; Caixa de Cirurgia de Campanha com instrumentos e material sanitário.

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O “amarelo militar” é uma constante ao longo do espaço exterior do Museu de Elvas, à exceção de um pequeno troço que contém as antigas muralhas fernandinas do séc.XIV. Ainda no exterior, o visitante poderá contactar com armamento pesado exposto ao ar livre, com inúmeras peças de artilharia rebocada. Em primeiro plano, obus de campanha 150mm, “Bofors”, de fabrico sueco, no ano de 1885. Em segundo plano, um obus de campanha de 150mm modelo 1937, de origem nipónica, desconhecendo-se a sua chegada ao nosso país. Ao fundo, podemos visualizar dois obuses de campanha de 140mm modelo 1942, de origem inglesa.

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No espaço exterior do Museu Militar, o visitante pode contemplar a área envolvente das fortificações e muralhas abaluartadas da cidade de Elvas. É o caso do Forte de Nossa Senhora da Graça. Para mim, uma das mais belas fortificações do nosso país e, quiçá, do mundo. De facto, a vista aérea deste fortificação do séc.XVIII espelha a beleza arquitetónica, enquadrada estrategicamente com a paisagem à sua volta. À primeira vista, desde o Quartel do Casarão, esta fortificação parece-nos “inofensiva” à distância. Foi erigido a pensar para resistir a cercos prolongados, atestando a sua solidez e à prova de bomba.

A Coleção de Viaturas Militares do Museu Militar de Elvas contém inúmeras viaturas histórico-militares que fizeram parte da História Militar de Portugal.  Na imagem, temos o “burro do mato” Mercedes Benz UNIMOG 411, de fabrico alemão,  foram intensamente usados desde 1957 até aos anos 80. Também esta é uma das viaturas emblemáticas das campanhas de África, podia transportar 10 militares, sem qualquer proteção, mas dispostos (costas com costas) de modo a poderem saltar rapidamente da viatura e reagir a emboscadas.  A icónica CHAIMITE V-200, veículo da Revolução de 25 de Abril de 1974, que fazia uma visita-guiada pelos espaços do acervo do Museu Militar de Elvas.

Museu Militar de Elvas
créditos: OLIRAF
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As reservas do Museu Militar de Elvas: junto às muralhas e baluartes seiscentistas existem inúmeras “carcaças” e peças de antigos carros de combate, veículos de transporte de tropas e artilharia rebocada que fizeram, e fazem, parte do nosso imaginário coletivo e alguns escreveram as páginas da História de Portugal e do Mundo. A maioria das reservas chegou dos inúmeros depósitos de material bélico do Exército Português, encontram-se a céu aberto aguardando a sua hora para recuperação, bem como outras estão colocadas em armazéns.

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Artigo originalmente publicado no blogue OLIRAF