Moreira de Rei é uma aldeia histórica a poucos minutos de carro de Trancoso que por estes dias atrai a curiosidade de investigadores e entusiastas de Arqueologia e História.
Pesquisem por Moreira de Rei no Google Maps e é provável que obtenham a localização da “Necrópole de Moreira de Rei”, assinalada mesmo no centro da povoação. É um exemplo de como o achado arqueológico parece ter suplantado, por agora, a própria identidade da vila, cujo nome remete para o período em que acolheu o rei D. Sancho II, no seu caminho para o exílio em Toledo.
Não é que faltem outros motivos para visitar a pequena povoação no concelho de Trancoso. Fazem parte do seu património quatro monumentos nacionais, com destaque para o original castelo assente sobre um colossal cabeço rochoso, conhecido por “Poio”.
Com vista para o castelo, a Igreja de Santa Maria é outro dos monumentos classificados. Trata-se de um templo originalmente românico, remodelado nos séculos XVI-XVII.
Seguindo pelas ruas da vila, chegamos ao que nos trouxe aqui: a visão de centenas de sepulturas com a forma de uma pessoa escavadas no granito e orientadas para Este. A Praça D. Sancho II foi praticamente toda levantada nos últimos três anos para desvendar a verdadeira dimensão da necrópole proto-cristã ali existente (isto é, dos primeiros tempos do cristianismo na Península Ibérica). Escavar sepulturas na rocha era uma prática de enterramento que se prolongou até aos finais da Idade Média.
Trata-se da maior necrópole medieval em Portugal e partilha o espaço, algo incongruentemente, com uma antiga igreja, um pelourinho manuelino (património classificado) e a entrada de várias casas particulares com sinais de serem habitadas.
A existência de uma necrópole no centro da vila já era conhecida, mas o local é agora o foco de um exame arqueológico que confirmou a existência de mais de 700 sepulturas antropomórficas. Quando as escavações tiveram início, em 2019, só estava identificada uma centena. "Mais do que até o número, o que nos surpreendeu foram os vestígios de ossadas" ainda presentes nas campas funerárias, assume a arqueóloga Maria do Céu Ferreira, que lidera a intervenção a cargo da Câmara Municipal de Trancoso.
"Foi um trabalho muito grande, muito exaustivo", garante a arqueóloga. "Os ossos são especialmente problemáticos, por raramente estarem em bom estado, sendo que o clima não favorece a sua conservação. Foi uma saga, destapar de manhã, cobrir à hora do almoço", conta. Os restos mortais encontrados foram catalogados e transferidos para o arquivo municipal, onde poderão vir a ser sujeitos a exames genéticos.
Por muito impressionante que seja, a visão do vasto espaço funerário é apenas temporária, estando os trabalhos de escavação na reta final. Antes da chegada das primeiras chuvas de outono, algumas sepulturas vão voltar a ser soterradas para assegurar a sua conservação. O futuro centro de interpretação da necrópole deverá ser instalado na antiga Igreja de Santa Marinha.
O SAPO Viagens visitou Moreira de Rei a convite do Turismo Centro de Portugal.
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