Medelim tem uma longa história mas o seu património é determinado pela Guerra Peninsular, a quarta invasão, em Abril de 1812, em que a aldeia foi saqueada pelos franceses.
Muito do que existia, designadamente uma torre templária, terá sido destruída.
O povo, na sua perspectiva pragmática, aproveitou as pedras para construir muros e casas. Ficou o nome, Rua da Torre.
Não muito longe, seguindo a rua do Espírito Santo, vai-se dar à rua do Cavacal, o local do depósito comunitário de lenha, onde se iam buscar as cavacas para aquecer a casa e fazer comida.
Ao longo deste percurso, passamos em frente da Casa da Ti Paróquia, que terá sido residência de párocos e hoje a sua dona tem prazer em manter florida, com vasos que acompanham a escadaria.
Nesta parte da aldeia há ainda um solar que foi restaurado, é agora a Casa de Medelim.
Ao lado, a outrora igreja do Espírito Santo, agora designada igreja de S. Sebastião, é muito antiga e não é fácil conseguir-se a chave para visitar.
Para além do património religioso, Medelim ficou também conhecida como a aldeia dos balcões. Tem mais de 200.
O balcão é uma escadaria exterior com pedras de granito, cada uma delas de grande dimensão, e que dá acesso ao piso superior da casa.
Em alguns casos, a parte superior tem um alpendre e duas pedras na vertical a servirem de proteção.
A escadaria não é maciça, tem uma pequena concavidade onde se guardavam animais, o mais vulgar eram galinhas.
Muitos destes balcões foram restaurados e têm vasos de flores a quebrar o frio do granito.
Outro património singular é a Rua da Judiaria onde viveram muitos judeus até ao século XVI.
Alguns terão fugido de Espanha, com a expulsão dos Reis Católicos e tiveram refúgio na raia, junto à fronteira.
Ainda hoje se contam histórias de túneis e ligações entre as casas e de artefactos descobertos nas obras.
Por incrível que pareça, havia aqui um lugar de culto (talvez uma Sinagoga) e terá sido destruído há cerca de 50 anos!
Só agora é que este património está a ser valorizado. Foi restaurada uma casa-museu, nasceu uma casa de campo e um café com nomes inspirados na comunidade judaica.
Muito recentemente foi também aprovado um projeto para a salvaguarda e o estudo da cultura judaica.
O impulsionador é Albano Pires Marques, presidente da Junta de freguesia, e visa criar um centro de memória e de estudos dos sefarditas. Vai ser no antigo lagar que será também um espaço museológico.
Por outro lado, nos últimos anos tem sido celebrada uma festa judaico - cristã, assinalando a convivência pacífica entre pessoas de religiões diferentes.
Ainda em termos de iniciativas culturais, destacam-se os concertos que nos últimos anos se têm realizado em várias igrejas da aldeia, um deles, dedicado a música sefardita.
Tudo isto é interessante e merecedor de uma visita mas o que é imperdível, o melhor e o motivo pelo qual muita gente faz uma paragem na padaria de Medelim da Srª. Sofia, são os borrachões.
São feitos apenas de farinha, açúcar, azeite, ovo e canela.
Falta o pormenor determinante: chamam-se borrachões porque levam ainda uma pequena dose de aguardente e vinho para lhes dar sabor.
Estes biscoitos são fruto de uma terra pobre de recursos naturais, por isso têm poucos ingredientes.
Por outro lado, por força da mesma necessidade e escassez de recursos, precisava-se que durassem muito tempo, o que explica a sua consistência.
Nos últimos anos, Medelim, como as aldeias vizinhas, tem registado um significativo envelhecimento.
No último Censos tinha 272 habitantes e quando tem mais população é na última semana de Agosto, com o regresso dos medelinenses à festa da aldeia, do Senhor do Calvário.
É nesta altura que se juntam os Trapulhas, os Guadalupes, os Mai-nada, os Faitons, os Porros, os Canhotas, os Meio-quartilho... Por vezes, só pelas as alcunhas é que os regressados-visitantes são identificados pelos locais.
Medelim fica a 15 km da sede de concelho, Idanha-a-Nova, e tem um restaurante, o Prato Cheio, vários cafés, uma bomba de gasolina e a Casa de Campo Sefarad.
Medelim de judeus e dos borrachões faz parte do podcast semanal da Antena1 Vou Ali e Já Venho e pode ouvir aqui.
A emissão deste episódio, Medelim de judeus e dos borrachões, pode ouvir aqui.
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