Lugares de Abril: no posto de Comando do MFA, coração operacional do 25 de Abril de 1974

Localizado no Quartel da Pontinha, Odivelas, este espaço histórico é um Núcleo Museológico do Museu Militar de Lisboa, um Monumento Nacional desde o ano 2015 e um dos lugares emblemáticos de Abril.
Lugares de Abril: no posto de Comando do MFA, coração operacional do 25 de Abril de 1974

A 24 de Abril de 1974, o concelho de Odivelas não existia. Estávamos na “fronteira” dos municípios de Loures e de Lisboa, como assinala o marco de pedra à entrada da Porta de Armas do antigo Regimento de Engenharia Nº 1 (RE1), hoje uma unidade militar especial da GNR: o Grupo de Intervenção Rápida (GIR) e o de Ordem Pública – GIOP da Unidade de Intervenção da Guarda Nacional Republicana. Ironias da História. As duas forças (Exército e GNR) que se confrontaram durante as operações militares no Terreiro do Paço, Ribeira das Naus e no Quartel do Carmo.

Porquê do RE1 da Pontinha como posto de comando?

O RE1 ficava próximo da capital, era uma unidade militar de confiança que tinha aderido ao Movimento das Forças Armadas e era uma arma do exército que não necessitava de grande movimento de forças (artilharia, infantaria e cavalaria) para o teatro de operações que se estava a desenhar. Para tal foi escolhido um Coberto de instrução – “uma espécie de barracão” – situado na zona alta da unidade e na periferia da unidade militar. Do lado de Carnide era visível, ao contrário do portão de armas. Foi necessário colocar cobertores militares nas janelas para evitar que viesse luz do interior. O relativo isolamento, austeridade e discrição das instalações eram excelentes para a “Operação Fim Regime“.

"Neste edifício esteve instalado o Posto de Comando do Movimento das Forças Armadas em 25 de Abril de 1974”, refere uma lápide à entrada do antigo pavilhão de instrução coberto do RE1. O Posto de Comando do MFA, de 24 a 26 de abril de 1974, foi o ponto a partir do qual estiveram reunidos os oficiais que comandaram todas as operações da Revolução de 25 de abril de 1974. Trata-se de um espaço cheio de memória coletiva e tão relevante para o fim do regime ditatorial , de cariz fascista e repressivo, que governou Portugal durante 48 anos.

Sob a divisa “Maiorvm Natv Arma Proponimvs​”, o Museu Militar de Lisboa (MusMil Lisboa) promove a valorização, o enriquecimento e a exposição do património histórico-militar a si atribuído, onde se inclui o Núcleo Museológico do Buçaco, o Núcleo Museológico da Artilharia de Costa, o Espaço Museológico do Posto de Comando do Movimento das Forças Armadas e o Núcleo Museológico de Fardamento e Equipamento.

O Núcleo Museológico tem como objetivo “perpetuar na história os acontecimentos de Abril” reproduzindo, fielmente, as condições do espaço no dia 25 de abril de 1974, com a sala de operações integralmente montada, uma sala de exposição permanente e uma sala de exposições temporárias, um auditório e uma sala de audiovisuais. Destacamos, por exemplo, o famoso mapa de Portugal do Automóvel Club de Portugal.

Lugares de Abril: posto de Comando do MFA (Pontinha), coração operacional do 25 de Abril de 1974

O núcleo museológico apresenta diversos espaços interiores e exteriores

Sala de exposição permanente

Trata-se de uma visita aos acontecimentos mais importantes do 25 de Abril, organizada cronologicamente entre as 22h00 do dia 24 e as 8h15 do dia 26. Começa pelo funcionamento do Posto de Comando na noite de 24 de Abril, podendo observar-se a sucessão dos momentos decisivos do dia 25 até à queda do regime, e termina com a primeira conferência de imprensa da Junta de Salvação Nacional, disponível online na RTP Arquivos, no Regimento de Engenharia N.º 1, na manhã de 26 de abril, em que o General António Spínola responde às questões dos jornalistas nacionais e estrangeiros.

Sala de exposições temáticas temporárias

Neste espaço são apresentadas exposições temporárias com temas relacionados com a revolução de Abril, a sua época, objetos e acontecimentos. É o caso das exposições com fotografias da época que documentam as horas decisivas deste dia. Salientamos dois nomes indissociáveis da fotografia e do fotojornalismo português, Alfredo Cunha e Eduardo Gageiro, eternamente recordados como os olhos de Portugal durante os acontecimentos que fizeram a revolução de 25 de Abril de 1974.

Sala do Posto de Comando

Esta é a sala onde esteve instalado o Posto de Comando, com mobiliário, livros, armários, armas, telefones, rádio, mapas e todas as caraterísticas que tinha em 25 de Abril de 1974. Também estão presentes os “Capitães de abril” através de figuras representativas, tais como, o Major Otelo Saraiva de Carvalho, Capitão-Tenente Vítor Crespo, Major Sanches Osório, Ten-Cor. Garcia dos Santos, Ten-Cor. Fisher Lopes Pires e o Major Hugo dos Santos. O Capitão Luís Macedo, oficial da unidade, garantia a segurança do Posto de Comando. Presente ainda o Major José Maria Azevedo dando apoio ao Posto de Comando.

Auditório Capitães de abril

Este espaço, com capacidade para 70 pessoas, está preparado para a realização de debates, conferências, encontros e pequenos espetáculos relacionados com a temática do 25 de Abril. Neste auditório, os visitantes podem assistir ao visionamento de excertos do documentário da SIC “A Hora da Liberdade”, uma ficção documental emitida em 1999, que retrata os diversos acontecimentos que pautaram o golpe militar de 25 de Abril de 1974.

Veículos Militares da Revolução dos Cravos

No exterior, é possível fotografar, visualizar e conhecer as viaturas de transporte e carros de combate que, simbolicamente, participaram nas operações militares da Golpe de Estado do 25 Abril de 1974 (Revolução dos Cravos). A maioria pertencia à Escola Prática de Cavalaria (EPC) de Santarém, a coluna militar do capitão Salgueiro Maia e as forças fiéis ao regime (GNR, Cavalaria 7 |e Lanceiros 2):

  • Panhard EBR 75 17 Ton. 7,5cm 8X8 M/1959 (Viatura Blindada de Reconhecimento);
  • Carro de Combate M48A5 (substitui o modelo M47 Patton das forças leais ao regime do Regimento de Cavalaria 7, comandada pelo Brigadeiro Junqueira dos Reis, segundo-comandante da Região Militar de Lisboa);
  • Bravia Chaimite V-200 (auto-metralhadora e viatura blindada de transporte de tropas);
  • Berliet Tramagal GBA (veiculo de transporte de tropas);
  • Viatura Blindada de Reconhecimento (AML) Panhard HE60-12,7, 4,8 Ton 6cm 4X4 M/1965, vulgarmente conhecidas por AML 60 ou Autometralhadora Ligeira Panhard;
  • Jeep Willys CJ5 (de Comando).

Os fotógrafos do jornal O Século Alfredo da Cunha e Eduardo Gajeiro captaram com as suas máquinas fotográficas muitas delas expostas no exterior. É uma tarefa “hercúlea” para um fotógrafo selecionar os melhores planos e captar as perspetivas sem “apanhar” na foto as viaturas descaracterizadas da GNR – GOEI | Grupo de Intervenção Rápida – estacionadas ao lado das mesmas.

Descubra mais locais relevantes durante a revolução de 25 de Abril de 1974, na cidade de Lisboa aqui.

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Artigo originalmente publicado no blogue OLIRAF

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