O turismo atraiu a Lisboa mais pessoas e com elas novas atividades. A história da revolução está inserida nos percursos vendidos na categoria “história e estilo de vida”, que leva os visitantes pelos bairros da capital.

O relato é semelhante e faz-se quase simultaneamente em inglês, francês, espanhol, de acordo com a nacionalidade de cada grupo. Pode também acontecer em alemão, polaco, italiano ou russo.

As pessoas começam a juntar-se pela manhã no largo Camões, onde os guias explicam: “A história é importante para sabermos onde estamos”.

Seguem para o Carmo, palco da rendição do antigo regime, onde se encontrava o então presidente do Conselho, Marcelo Caetano, e alguns membros do Governo, ou como narraria Fialho Gouveia na RTP o “centro das operações”, o “coração de todo o problema”, mas também onde se concentravam “as maiores esperanças”.

Grande parte dos visitantes do museu da GNR, instalado no quartel, é proveniente do estrangeiro países, conta à Lusa a capitão Raquel Valente. No livro de honra, à saída, alguém deixou uma mensagem alusiva: “Viva Lisboa libre y solidária”.

Na parte da exposição dedicada à revolução, encontra-se um volume da Grande Enciclopédia Portuguesa atingido por uma bala na tarde de 25 de abril de 1974. O projétil que o rasgou está exposto ao lado, na mesma direção em que seguiu.

Na parede, a célebre frase de Humberto Delgado, em 1958, sobre o destino de Salazar, caso vencesse as eleições presidenciais: “Obviamente demito-o”.

Lá fora, um guia fala da atmosfera política vivida na altura.

É assim todos os dias desde que o turismo enche o largo do Carmo, as esplanadas e restaurantes da zona.

Maria Sales veio do Brasil há 28 anos e conduz um dos ‘tuk-tuk’ estacionados no largo. Sempre que faz aquele percurso fala dos acontecimentos políticos de 1974 e das ruínas do convento destruído pelo terramoto de 1755.

“Muitos sabem o que aconteceu, os franceses sabem, geralmente são muito cultos, os espanhóis pela proximidade, e alguns russos”, afirma.

Pelas contas da guia, 60% dos turistas têm interesse em saber a história do local, os outros “querem mais passear”.

“Quando passo aqui, menciono o 25 de Abril, digo que foi uma revolução que acabou com a ditadura e marcou o início da democracia. Não aprofundo muito, porque o nosso objetivo aqui não é dar uma aula de história, é um passeio”, justifica.

Nos guias de bolso que os turistas compram, há também lugar para uma breve descrição da revolução de abril.

É assim que Ermes, um italiano que de Portugal apenas conhecia o fado, Amália e Ronaldo, fica a saber que o lugar onde descansa enquanto toma uma cerveja, foi palco de uma revolução. A opinião não podia ser melhor: “Bom! Deviam exportar isso”.

Também Dona e Joe, um casal de reformados que viajou de São Francisco com um grupo de pessoas de vários pontos dos EUA, apreciam a história da revolução portuguesa.

“O ditador foi deposto pelas pessoas da revolução e venceu a vontade do povo. As pessoas queriam a revolução”, resume Dona, com satisfação.

O Carmo vive hoje rodeado por pessoas de todas as nacionalidades, aberto a todas as culturas, 44 anos passados sobre os acontecimentos documentados nas imagens a preto e branco da RTP, a única televisão existente na altura, sob as quais Fialho Gouveia descrevia o quartel cercado pelos militares: “São soldados de Portugal, ao serviço da causa de Portugal”.

Reportagem: Lusa

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