As danças têm motivação religiosa mas são, habitualmente, uma manifestação de cultura popular que nos últimos anos tem juntado muita gente do concelho.

Danças tradiconais da Lousa

As danças remontam a 1640 quando o povo foi agradecer a Nossa Senhora dos Altos Céus ter correspondido à súplica dos agricultores e pastores para afastar uma praga de gafanhotos.

Danças tradiconais da Lousa

As danças exprimem esse contentamento, no início eram protagonizadas por raparigas de 12, 13 anos e, por isso, ficou com o nome de Dança das Virgens. Mais tarde, associaram o nome de "Dança das Donzelas".

Danças tradiconais da Lousa

Um dos pormenores da dança é “sem música vocal, só acompanhada de guitarra portuguesa”. Acrescenta João Miguel Baltazar, presidente da União das Freguesias de Escalos de Cima e Lousa, que “a única parte onde elas têm intervenção vocal é no início, antes das danças, onde declaram versos dedicados à Nossa Senhora dos Altos Céus. Os versos são também alusivos aos elementos que organizam a festa, o juiz, o tesoureiro e o escrivão”.

Danças tradiconais da Lousa
créditos: andarilho.pt

Seguindo ainda a tradição, as raparigas levam vários ornamentos em ouro e faz parte do ritual “o guardião” das danças". “Usava uma espada e acompanhava as donzelas na procissão para afastar o público. Não se sabe se era para guardar o ouro ou a integridade física das donzelas.”

Danças tradiconais da Lousa

As oito donzelas vestem de branco, têm uma coroa na cabeça e um lenço para acompanhar os movimentos que fazem na execução das danças.

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Movimentam-se com passos simples, descrevem rodas e arcos, sempre com o som de fundo da guitarra e o olhar muito atento de centenas de pessoas.

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créditos: andarilho.pt

Vestem de branco mas antes era azul, da cor do céu e da senhora dos Altos Céus. A prática da Dança das Virgens foi transmitida oralmente e o registo fotográfico mais antigo é de 1919.
As dança das donzelas estiveram interrompidas cerca de duas décadas, foram retomadas em 1977 e agora a maior dificuldade tem a ver com o envelhecimento da população.
“Antigamente, na altura da minha mãe e da minha sogra, que fizeram também parte das danças, havia mais juventude. Atualmente estamos a ficar sem jovens devido ao envelhecimento da população.”

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Esta é uma das dificuldades e que torna menos exigente o critério de seleção. “Quem tem vontade e disponibilidade vai executar as danças. Antigamente, pelo que conta a minha mãe e a minha avó, havia uma seleção mais apertada. Escolhiam as mais esbeltas e fisicamente mais dotadas para as danças. Havia um certo empenhamento em que as executantes fossem dignas e quando achavam que não estavam em condições não pactuavam”.

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Independentemente da faixa etária há uma condição permanente: “eram solteiras. Jamais atuaram pessoas casadas.”

Outra tendência é a participação de jovens com menos idade. “A partir dos 16, 17 anos é difícil que aceitem. Os casos que existem são exceções. “

A dança começa no adro da igreja, depois de recolhida a imagem da santa. As donzelas participam na procissão, assim como os homens que também dançam no adro da igreja.

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“É mais colorida, mais rítmica. Os seis homens que a compõem envergam também um traje branco, uma fita vermelha à cintura e na cabeça colocam uma capela com fitas coloridas. Houve uma altura em que a fita à cintura era azul porque se queria identificar com o céu, com a cor de Nossa Senhora dos Altos Céus. Entretanto repôs-se o laço azul. A dança é acompanhada pela viola beiroa.”

Danças tradiconais da Lousa

Os seis adultos são acompanhados por três crianças, “meninos vestidos de menina, são as madames e levam um instrumento parecido com uma pandeireta.”
Dos seis homens, cinco tocam a viola beiroa e um as genébres. “É um instrumento musical que agora se vai vendo em mais lugares, mas antigamente só se via na Beira Baixa e nas danças da Lousa. É um reco-reco e marca o compasso da dança.”

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créditos: andarilho.pt

A terceira dança é a das Tesouras e realiza-se na segunda-feira. “É completamente diferente das outras. Simbolicamente é a tosquia das ovelhas. Todos os elementos têm camisa branca e calça preta. Há um “capataz” que segura um pau. Os tosquiadores têm uma tenaz e fingem afiar o pau. Depois aparecem umas crianças com casacos de pele, mas virados do avesso, com os “carneirinhos” à mostra, passam pelo meio dos tosquiadores que fingem que as tosquiam. “

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créditos: andarilho.pt

As danças foram inscritas no Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial, concretizando um sonho da população e de muitos estudiosos que em várias áreas de saber inventariaram e analisaram as Danças da Lousa que têm uma forte adesão popular. Não nestes últimos dois anos devido à pandemia, mas nos anos anteriores, no terceiro domingo de Maio o povo vem assistir às danças. Também se deslocam muitos forasteiros, estudiosos, fotógrafos...

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créditos: andarilho.pt

É o dia maior da Lousa. É um dia em que as pessoas têm um empenhamento totalmente diferente. Enfeitam as ruas com ramagens. Todas as artérias por onde passa a procissão são preparadas com rigor pela população e também por pessoas que vêm ajudar e gostam de participar na colocação dos tapetes florais em todo o recinto. É também feito um embelezamento das janelas e varandas com colchas.”

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Quem não consegue ver as danças no terceiro domingo de Maio pode visitar o Núcleo Etnográfico da Lousa que tem  informação, instrumentos, musicas e peças de roupa usadas nas três danças.

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créditos: andarilho.pt

A organização das danças tradicionais estão a cargo da Lousarte, uma associação cultural que recolhe e divulga o património da Lousa.

Danças tradicionais da Lousa: Virgens, Homens e das Tesouras faz parte do programa da Antena1 Vou Ali e Já Venho e a emissão deste episódio pode ouvir aqui.