
São Cucufate e a origem do Vinho de Talha
Trazido para a Península Ibérica pelos romanos, o processo de produção do Vinho de Talha terá sido desenvolvido precisamente em locais como São Cucufate — possivelmente, a maior villa romana existente em Portugal.
Hoje, o complexo, cronologicamente balizado entre e o século I d.C. e os séculos V/VI d.C, está em ruínas, mas ainda impressiona pela sua grandeza e imponência. Estudos e escavações arqueológicas deste local identificaram vestígios de uma luxuosa casa senhorial romana, termas, um templo e uma zona de produção agrícola.
Foram também recolhidos fragmentos de talhas de barro e um conjunto de grainhas de uva fossilizadas que confirmam a existência de um lagar para a produção vinícola. Estas grainhas estão atualmente em exibição numa das vitrinas do Centro Interpretativo do Vinho de Talha, em Vila de Frades, um espaço interativo, com experiências para todas as idades, onde também se pode descobrir o artesanato local inspirado nas talhas e no vinho.

Uma tradição familiar
Em Vila de Frades, a história dos homens confunde-se e funde-se com a história do vinho.
Na região, a técnica da vinificação em talhas de barro tem mais de 2000 anos e é uma arte perpetuada, geração após geração, por famílias apaixonadas e interessadas em preservar antigos conhecimentos e saberes.
Vila de Frades é uma das poucas vilas no mundo a manter esta técnica de produção de vinho conforme os seus termos originais, porém, mais importante do que os utensílios, apetrechos e instrumentos que encontramos nas adegas centenárias, está lá o amor pelo processo e por aquilo que dele resulta: os aromas, sabores e texturas dos vinhos de talha.
É só entrar na Adega do Chato e ouvir o Sr. Alexandre Frade, da “Talha de Frades”, a falar sobre o processo natural de produção que aprendeu com o seu pai, ou ver como brilham os olhos da Teresa Caeiro, da “Gerações da Talha”, quando nos explica as qualidades do vinho “Farrapo”, o primeiro vinho que lançou (batizado em homenagem ao nome por que eram conhecidos os habitantes de Vila de Frades), ou a escolha do desenho do rótulo da garrafa “Natalha”, criado quando estava grávida da filha Leonor, que com cinco anos, também já tem a sua própria talha e anda a aprender a fazer vinho.
A Vitifrades, evento de promoção do Vinho de Talha, criado em 1998, que neste mês de dezembro foi palco da Candidatura do Baixo Alentejo a Capital Europeia do Vinho 2026, tem vindo ano a pós ano, a mostrar o enorme potencial deste produto tanto a nível nacional como internacional.
Os vinhos de talha são geralmente muito aromáticos, saborosos e frescos. Podem ser brancos, tintos ou petroleiros, também conhecidos como palhete (misturam uva branca e tinta). Não há melhor forma de os provar do que almoçando numa adega, com petiscos preparados pelo Chef Carlos Duarte Afonso, tendo por música de fundo o Cante Alentejano.

O Cante Alentejano
Quem nunca se emocionou a ouvir o coro de vozes afinadas de um grupo de Cante Alentejano?
Esta tradição que se ouve, e que se sente, foi reconhecido pela UNESCO como Património Imaterial da Humanidade e constitui, hoje tal como ontem, um aspeto fundamental da vida social das comunidades alentejanas.
As suas origens perderam-se no tempo. Talvez tenha nascido dos cânticos árabes, talvez dos coros gregorianos, não se sabe, mas o certo é que a sua transmissão continuou a passar dos mais velhos para os mais jovens, reforçando o diálogo entre diferentes gerações, géneros e indivíduos de diferentes origens, contribuindo assim para a coesão social.
Uma visita ao Museu do Cante, em Serpa, ajuda a compreender melhor este estilo musical único que exalta a alma das suas gentes, fazendo uma viagem pela sua história e dando a conhecer os seus aspetos mais importantes.
Aprendemos que, sem fazer recurso a qualquer instrumento musical, os grupos de cante podem reunir até 30 cantores, entre estes duas vozes solistas: o “ponto”, que inicia a moda, e o “alto”, que duplica a melodia com variantes de escala e ornamentos. Estes solistas alternam com o coro de vozes onde também participam.

Longe vai o tempo em que o cante acontecia no campo, quando homens e mulheres cantavam para aliviar o trabalho duro na agricultura. Hoje, o cante internacionalizou-se, profissionalizou-se e até faz parcerias com outros estilos musicais, mas se percorrermos as ruas em noites de festa, como o fim de semana da Vitifrades, ainda encontramos muitas pessoas que se juntam para cantar modas nas tabernas, aquecendo a voz com o vinho de talha, que ajuda a acentuar o sentimento, a emoção e o forte sentido de identidade do povo alentejano.
O Sapo Viagens visitou o Baixo Alentejo a convite do Turismo do Alentejo
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