Em Ovar, o início das tradições carnavalescas parecem datar do século XIX, quando as primeiras menções aparecem em 1887, num jornal local que noticiava um declínio na folia que os ovarenses dedicavam às festividades. O jornal notava nos anos seguintes as mesmas dificuldades e os ovarenses lamentavam a falta de empenho dos munícipes na dinamização da festividade, lembrando as festas que outrora enchiam o concelho. Estas festividades terão sido tão populares no século XIX que consistiam em várias partidas que eram pregadas à população, onde se destacavam jogos populares, jactos de água, produtos malcheirosos, testamentos de galos, etc. Mas este Carnaval terá atravessado uma crise tão forte que quase desapareceu, até que, já no século XX, surgiram os Bailes de Carnaval.
Eram os loucos anos 20 e 30 e, tal como em outras cidades europeias, o Carnaval começou a ser comemorado nos salões nobres (como o Orfeão e o Progresso), onde a elite ovarense e da região se reunia para bailes de máscaras. Os bailes começaram a atrair cada vez mais população e os salões deixaram de ser suficientes para reunir todos os interessados, pelo que o Carnaval voltaria às ruas da cidade depois do final da II Guerra Mundial. É desta altura que surge a inspiração dos “Grupos de Baile”, que mais tarde dariam origem aos “Grupos de Passerelle”. A vitória das potências ocidentais na guerra criou um novo ambiente de animação e, nos anos que se seguiram, o Carnaval encheu os bairros da cidade de Ovar. Cada bairro organizava pequenos grupos, que foram crescendo, e que animavam as ruas da cidade durante um desfile alegórico. Cada bairro promovia um camião decorado, acompanhado pela população fantasiada a preceito. As bandas de música alegravam o resto das festividades. Os bairros competiam entre si para terem as melhores fantasias e a mais bela decoração dos seus “carros alegóricos”. Esta competição faria elevar o glamour das festividades à medida que os anos iam passando. As festas populares de cada bairro ganharam tanto protagonismo que o Município decidiu que estava na hora de fazer dele uma atracção regional e nacional.
Em 1952, um grupo de três indivíduos criou um cortejo organizado na cidade e, desde essa altura, o Carnaval passou a fazer parte do roteiro turístico de Ovar. Mas antes da afirmação do Carnaval em Ovar, este ainda passaria por um momento bastante controverso. Os mascarados aproveitavam o seu anonimato para cometerem delitos, uns mais graves do que outros e, o Carnaval nos anos 50 passou por um período difícil em que muitos questionaram a sua viabilidade. Em Veneza, por exemplo, aconteceu o mesmo e as máscaras chegaram a ser proibidas. Este “Carnaval Sujo” passou por momentos de exagero, que apenas eram permitidos entre dois toques, dados alegadamente pela sirene dos bombeiros, entre os quais o centro de Ovar se transformava num campo de batalha onde quase tudo era permitido. A maioria dos vareiros não se revia neste Carnaval e o “Carnaval Sujo” terminou, dando lugar ao cortejo mais organizado com direito a Rei e Rainha de Carnaval (que inicialmente era um homem vestido de mulher), em que os ovarenses escolhiam uma pessoa que se destacasse socialmente na comunidade ovarense.
A década de 60 transforma-se na década dourada do Carnaval de Ovar, quando o cortejo começa a sair no domingo e na terça-feira, atraindo gente de todo o país. Mas, com o passar do tempo, o Carnaval começava a integrar as diferentes influências que chegavam a Portugal, nomeadamente piadas e sátiras políticas cada vez mais fortes, especialmente depois do final da ditadura e da Revolução do 25 Abril de 1974. A nova liberdade que se vivia em Portugal permitia a entrada de novas ideias e culturas e Portugal passou a receber cada vez mais estrangeiros e a abrir-se a um mundo novo. O regresso de emigrantes ovarenses, especialmente do Brasil, também terá acelerado estas mudanças e, na década de 80, o samba começou a marcar presença no Carnaval de Ovar, com a criação da primeira escola de Samba, a Costa de Prata, a desfilar.
Em menos de uma década, Ovar veria surgir seis Escolas de Samba no seu Carnaval. Os grupos de Carnaval, típicos dos bairros, tinham nova concorrência e apostavam cada vez mais na elaboração e criatividade das suas fantasias, elevando gradualmente os padrões do Carnaval de Ovar. Estes grupos passaram a designar-se “grupos carnavalescos”, contrastando com os “grupos de passerelle” que derivaram dos grupos de baile que vieram para as ruas.
Hoje a Câmara Municipal aposta cada vez mais no Carnaval de Ovar e esta é uma das suas principais imagens de marca. A par com o Turismo Balnear, cada vez mais complicado devido à forte erosão litoral que assola esta parte do território nacional, o Carnaval é capaz de dinamizar esta região do país, e foram inclusive criadas uma Comissão de Carnaval e a Fundação do Carnaval de Ovar. Desde o século XIX muita coisa mudou e agora há verbas para apoiar os grupos, que embora não cubram as despesas completas dos grupos, ajudam a minimizar os custos dos foliões.
Nos últimos anos, o Carnaval de Ovar já é muito mais do que os dois desfiles carnavalescos. Ovar reúne no seu cortejo um pouco da sua história e da história de Portugal. Continua a ter a forte presença popular e o ambiente de bairro dos “grupos carnavalescos”, o testemunho do Carnaval dos Bailes nos “grupos de Passerelle” e as marcas da diáspora portuguesa nas “Escolas de Samba”. A par disto, a sátira política continua a ter presença. Mas agora o Carnaval é muito mais do que isto. Há festas durante todos os fins-de-semana de Fevereiro, uma TentZone, uma tenda com música que faz as delícias dos foliões mais jovens, vários cortejos, desde o das escolas infantis ao dos seniores, e até exposições e concertos. Em 2013, a Câmara Municipal construiu um espaço, a chamada “Aldeia do Carnaval” para albergar o trabalho dos actuais 20 grupos carnavalescos e 4 Escolas de Samba que desfilam e animam as festividades daquele que é hoje conhecido como a “Vitamina Alegria”.
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