É em pleno coração da Serra da Gardunha que encontramos Alcongosta, uma pacata aldeia a cerca de três quilómetros da cidade do Fundão. A sua história é antiga, e bem anterior à formação de Portugal. Por aqui passava uma via romana — da qual ainda existem vestígios — e de onde provavelmente deriva o seu nome, já que “congosta” é uma palavra latina que significa “caminho estreito”. O prefixo “al” foi acrescentado posteriormente pelos árabes, mas foram os romanos que trouxeram a cereja, hoje tão famosa na região.

Beneficiando do resguardo proporcionado pelos montes da Serra da Gardunha, das linhas de água e dos vales férteis, as cerejeiras cresceram e prosperaram em Alcongosta e em meados do século XX já metade dos habitantes da aldeia eram cesteiros enquanto a outra metade vendia a fruta. 

As cerejeiras necessitam de muitos dias de frio para produzir satisfatoriamente os seus deliciosos frutos de cor vermelho rubi e florescem tarde para escapar das geadas. É curto o seu período de floração, mas a sua beleza e exuberância é tal que justifica plenamente a deslocação de centenas de quilómetros só para assistir ao efémero momento em que quase 10 mil hectares de árvores se cobrem por completo de flores brancas, lembrando a neve nos montes gelados da vizinha Serra da Estrela.

Para comemorar o evento o município do Fundão, organiza um programa que inclui atividades como passeios de comboio turístico e tuk tuk pelos pomares de cerejeiras, piqueniques e apadrinhamento de árvores.

Porém, quem quiser explorar a região por conta própria e maravilhar-se com o belo cenário das cerejeiras em flor, não tem qualquer dificuldade de descobrir trilhos de caminhada que, a partir do centro de Alcongosta, cobrem parte da “rota da cereja”.

Alcongosta guarda também o saber de transformar a matéria-prima dos castanheiros, que crescem na Gardunha, em escadas e cestos para a apanha de fruta. Os cestos de madeira de castanheiro são macios e arejados e, por isso, ideais para serem usados na colheita da cereja já que não “magoam” a fruta. 

Grande parte dos pisos térreos das casas em granito, de arquitetura tradicional beirã, eram antigamente ocupados por oficinas de cesteiros e esparteiros. O esparto (uma espécie vegetal que cresce nas cotas mais elevadas da serra da Gardunha) era matéria-prima para a produção artesanal de ceiras, que serviam de filtros, essenciais ao funcionamento dos antigos lagares de azeite.

Tudo isto podemos aprender com uma visita à Casa da Cereja, um lugar que funciona na antiga Escola Primária de Alcongosta, e assume-se como um espaço museológico e de aprendizagem sobre tudo o que tem a ver com o "ouro vermelho" da serra da Gardunha.

Casa da Cereja
créditos: Travellight e H.Borges

Visitar Alcongosta na época da floração é uma experiência maravilhosa e inesquecível, que deixa a qualquer visitante a vontade de regressar à aldeia em junho, para o Festival da Cereja — uma celebração anual dos sabores locais!

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