Foto: Pedro Marques

Na margem esquerda do estuário do Tejo encontramos as Salinas do Samouco, uma reserva natural de 360 hectares e exemplo vivo daquela que foi, durante muito tempo, a principal atividade económica de Alcochete: a salicultura.

É enquanto apreciamos a beleza natural deste lugar e descobrimos a sua biodiversidade que chegamos à Marinha do Canto, a única salina que continua ativa das 56 que, outrora, funcionaram neste complexo. Esta é também a única salina a produzir em todo o Tejo e permite-nos, nos dias de hoje, conhecer melhor o trabalho árduo que aqui era feito, uma vez que a produção segue os moldes artesanais. A ideia, segundo explica-nos André Baptista, educador ambiental da Fundação das Salinas do Samouco, é manter a tradição viva, pois é “aqui que está a base do povo de Alcochete”.

Salinas do Samouco
Salinas do Samouco André Baptista. créditos: Ana Oliveira

Assim sendo, existirá melhor ponto de partida para descobrir Alcochete do que este lugar?

De grande produtora de sal a santuário de aves

Salinas do Samouco
Salinas do Samouco

Como medida de minimização ambiental associada à construção e exploração da Ponte Vasco Gama, a área das salinas do Samouco foi expropriada para dar lugar a atual área protegida de conservação da natureza.

Aliada à produção de sal, as salinas também albergam um projeto ecológico e ambiental de proteção e conservação que serve de refúgio, alimentação e nidificação a milhares de aves e outras espécies.

Assim, ao entrarmos nas salinas, passamos a assistir in loco a vida no meio da natureza. Tornamo-nos espetadores de um espetáculo ímpar protagonizado por diferentes espécies de aves como as de flamingos, alfaiates, pernilongos, águias pesqueiras, entre outras.

Os flamingos são a espécie que mais atrai visitantes e aquela que avistamos (ou reconhecemos) primeiro – são fáceis de identificar devido às suas cores e dimensões. Com fascínio, ficamos a observar a sua elegância a caminhar e desengonço a voar. De repente, quase sem darmos conta, estamos a descobrir outras espécies e a querer saber mais, sem procurar incomodar ou aproximar muito para que o “show” possa continuar.

Flamingos
Flamingos

De acordo com André Baptista, anualmente passam pelas salinas entre 120 mil a 200 mil aves, tendo sido avistadas cerca de 203 espécies diferentes. “As salinas são um importante posto de combustível para as aves”, explica-nos, acrescentando que embora seja um habitat artificial tem grande valor para estas devido à destruição dos habitats naturais.

Para quem ainda não conhecia este projeto, importa saber que a educação ambiental é o principal foco da Fundação das Salinas do Samouco e não o turismo. É por essa razão que promovem visitas guiadas que nos permitem aumentar o nosso conhecimento sobre as aves, os seus hábitos e fluxos migratórios.

Nas salinas, existem percursos pedestres e de bicicleta com 2 km, 4,7 km e 6 km.

Percorra a fotogaleria para descobrir as Salinas do Samouco:

A bordo do Bote Leão

Bote Leão
Bote Leão Foto: Pedro Marques

A partir da Ponte do Cais embarcamos num barco de linhas elegantes e cores garridas: o famoso bote Leão. A embarcação não é a original, mas uma réplica mandada construir pela Câmara Municipal de Alcochete para preservar a história.

O bote Leão simboliza a história e tradição marítima do povo de Alcochete. A embarcação original navegou no Tejo até à década de 60 do século XX e fazia o transporte de pessoas entre Alcochete e Lisboa. O barco também era conhecido como o “Rei dos Nordestes” devido à forma graciosa e veloz que cortava as águas do Tejo, conforme o vento que sopra de norte.

Boto Leão
Boto Leão

Atualmente, o bote Leão serve o turismo local, navegando à vela ou a motor consoante o vento. A réplica, inaugurada em junho de 2016, foi construída de raiz com base nos desenhos da embarcação original e segundo as antigas técnicas de construção naval das embarcações tradicionais do estuário do rio Tejo.

A embarcação é espaçosa, consegue levar até 45 passageiros, incluindo a tripulação e permite-nos conhecer mais do património natural e paisagístico de Alcochete.

Cavalos Alcochete
Cavalos Alcochete créditos: Ana Oliveira

Num percurso que passa pela frente ribeirinha da vila e pela Reserva Natural do Estuário do Tejo não faltaram oportunidades para avistar flamingos e cavalos em contexto selvagem.

Ao longo do passeio ainda ficamos a conhecer mais sobre a vila e a vida em Alcochete ao descobrirmos histórias de marítimos de outros tempos.

O centro da vila de Alcochete

Vila Alcochete
Vila Alcochete

Da Ponte Cais seguimos para o centro da vila onde existem vários pontos de interesse. Logo ali, na frente ribeirinha, a Igreja da Misericórdia, um edifício dos finais do século XVI que alberga o núcleo de arte sacra do museu de Alcochete. Pouco acima, vemos a Capela Nossa Senhora da Vida (século XVI) que é associada ao hospital da misericórdia.

Seguimos para o Bairro das Barrocas que foi construído no século XIX para as classes mais desfavorecidas que também representavam a força trabalhadora da vila: salineiros, pescadores e marítimos. O Bairro composto por casas brancas com barras coloridas acolhe atualmente unidades de alojamento local.

A contrastar com o humilde Bairro das Barrocas, cujas cores dizem ter influência árabe, encontra-se o largo de São João, de onde emergiu a classe burguesa. No século XVI, lidavam-se touros neste largo na festa em honra do Santo Padroeiro de Alcochete – São João Baptista. Na época, o largo ficava fora do aglomerado populacional, porém, a partir do século XIX, a vila expandiu-se e o largo ganhou uma nova centralidade.

Largo de São João em Alcochete
Largo de São João em Alcochete Estátua do do Padre Francisco Rodrigues da Cruz no Largo de São João créditos: Ana Oliveira

A tauromaquia também faz parte da identidade cultural da vila, chegando a dizer-se que não pode ser dissociada do ser e sentir alcochetano. Os alcochetanos manifestam essa paixão durante momentos festivos como nas Festas do Barrete Verde e das Salinas, que são organizadas pelo grupo de forcados amador “Aposento do Barrete Verde" em conjunto com a Câmara Municipal de Alcochete. Criada em 1941, é uma festa conhecida pela largadas de touro nas ruas da vila e onde se vive o espírito de convívio dos alcochetanos.

As ruas da vila vão contando histórias sobre as suas gentes, feitos e tradições de Alcochete. A título de exemplo, há a estátua do Padre Francisco Rodrigues da Cruz que evoca a vida deste sacerdote nascido nesta vila ou a estátua de tamanho exagerado do salineiro, que homenageia o salineiro rapador, recordando também a greve dos salineiros durante o Estado Novo. Os salineiros foram a única classe operária a fazer greve nessa altura.

Estátua do Salineiro
Estátua do Salineiro Estátua do Salineiro

Entre as várias atrações, destaca-se a Igreja matriz quatrocentista, no Largo de São João, de traça tardo-gótica e o Museu Municipal de Alcochete, dedicado à história, arqueologia e etnografia do concelho.

Este é só um ponto de partida, ideal para uma escapadinha, pois há mais para descobrir nesta vila associada ao turismo de compras devido ao Freeport e à sua gastronomia também marcada pelo Tejo e que, por isso, enriquece qualquer viagem.  Sugerimos a caldeirada alcochetana por nos remeter para a vida a bordo dos barqueiros, pois era lá que era preparada. Para quem procura sabores mais singulares, existe o ensopado de enguias com aroma a coentros e hortelã e o arroz doce alcochetano, que tem a particularidade de ser cozinhado sem ovos.

Uma viagem a Alcochete não fica completa se não provarmos a fogaça, um bolo quinhentista que está sempre presente nas festividades e no dia a dia dos alcochetanos.

Pode experimentar o sabores de Alcochete nos restaurantes Alfoz ou Barrete Verde. Se preferir um petisco ou provar sabores de outros lugares, visite o restaurante Alternativa ou o Al'Sal.

Veja mais imagens da vila na fotogaleria:

Onde ficar

Resort Praia do Sal
Resort Praia do Sal Pôr do Sol. Foto: DR

Junto à Praia dos Moinhos, encontra-se o resort Praia do Sal que é um complemento ou ponto de partida perfeito para uma escapadinha em Alcochete.

Para além de quartos equipados com cozinha (kitchenette nos estúdios) a pensar nas famílias, o resort, pensado numa lógica de apartamentos, conta com uma piscina infinita que faz furor nas redes sociais, um spa, uma piscina interior aquecida e um ginásio sustentável.

Resort Praia do Sal
Resort Praia do Sal

Para complementar a oferta gastronómica da vila, o restaurante serve, no Omaggio, comida italiana. A carta, assinada pelo chef Fábio Paixão da Silva, aposta nos produtos, sabores e aromas clássicos italianos.

É neste resort que o dia na vila termina de forma memorável, graças à magnífica vista do pôr-do-sol.

*O SAPO Viagens visitou Alcochete a convite do resort Praia do Sal e da Câmara Municipal de Alcochete