"A vida é feita de nadas: de grandes serras paradas; à espera de movimento; de Searas onduladas pelo vento. De casas de moradias, caídas e com sinais, De ninhos que outrora havia nas Beiras; de poeira, de sombra de uma figueira; de ver esta maravilha: meu pai a erguer uma videira, como uma mãe que faz uma trança à filha"
É com este poema de Miguel Torga que a aldeia de xisto de Gondramaz, localizada na Serra da Lousã, concelho de Miranda do Corvo, recebe os seus visitantes. E como são apropriadas estas palavras…
Num mundo onde todos andamos a correr, ligados 24h por dia e preocupados com o tempo, chegar a um lugar como este, põe tudo em perspetiva. Dá-nos espaço para respirar, para partilhar um “bom dia” com a senhora que varre a entrada de sua casa, ou uma gargalhada com o artesão que vende bonecos “malandros” na pequena loja de souvenirs da aldeia.
Tempo para parar na capela e rezar uma pequena oração e tempo para sentar no banco de jardim a olhar as árvores.
Pequena, mas tão bonita com as suas casas em xisto de tonalidade distinta. Restaurada na perfeição. Gondramaz é hoje a casa de artistas plásticos e local de paragem obrigatória para praticantes de desportos como downhill ou BTT. É uma das mais belas aldeias de Portugal.
Percorro as suas ruas estreitas e sinuosas, fotografo o gato no telhado e todos os outros pequenos detalhes que encontro pelo caminho, como as pequenas estátuas que evocam santos ou figuras populares mais brejeiras.
E outro poema ecoa na minha cabeça:
“Da minha aldeia vejo quanto da terra se pode ver no Universo...
Por isso a minha aldeia é tão grande como outra terra qualquer
Porque eu sou do tamanho do que vejo
E não, do tamanho da minha altura...
Nas cidades a vida é mais pequena
Que aqui na minha casa no cimo deste outeiro.”
Alberto Caeiro, in "O Guardador de Rebanhos - Poema VII" - Heterónimo de Fernando Pessoa
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Artigo originalmente publicado no blogue The Travellight World
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