Seguimos a expressão popular, Há de tudo como na farmácia e, no Museu da Farmácia, mais ainda. Acrescenta-se o fascínio. “Claro. Quando uma pessoa olha para um objeto que temos aqui, a Pedra Filosofal, a que nós temos foi criada em Goa por cientistas portugueses, jesuítas, as pessoas admiram-se".
“Pedra Filosofal! Isso era doutra região, do Harry Potter!”. Sim, mas nós temos e foi feita no século XVII por cientistas portugueses, farmacêuticos portugueses, está cá. Podem ver. Podem também pegar num corno de unicórnio. Nós temos um unicórnio, agora é preciso é acreditar. Ele está cá.”
A motivação não se fica pelo fascínio de milhares de objetos com histórias fantásticas e reveladoras das mais variadas facetas da condição humana e da sua luta pelo bem-estar e sobrevivência.
Um desses objetos de que nos fala com entusiasmo João Neto, um dos diretores do Museu da Farmácia, a Pedra Filosofal, está revestida a ouro ao lado de uma taça que tinha pedras de Goa.
Tratava-se de um medicamento secreto, composto pelos jesuítas no século XVII, a partir de vários materiais, designadamente pedra de bezoar. No caso, era um cálculo do estômago de caprinos. Acreditava-se que dava saúde e era antídoto para veneno.
O revestimento a ouro reflete a intensidade da luz e combina o elixir da vida e da pedra filosofal.
O Museu da Farmácia tem um pólo no Porto que abriu as portas em 2010, mas o que visitei foi a enorme coleção que podemos ver em Lisboa e que constitui “o único museu de história universal em Portugal".
"Todas as culturas e todas as civilizações estão aqui representadas. Dou um exemplo: uma das receitas médicas mais antigas da humanidade, da Mesopotâmia, está aqui. A farmácia portátil utilizada pela NASA no ano 2000 no Space Shuttle não está nos EUA. Está em Portugal".
"A única farmácia de um palácio islâmico, Otomano, do século XIX, está em Portugal. Entre os museus de farmácia no mundo, existem sensivelmente 900 museus da história da saúde, se há um que presta uma homenagem a todas as civilizações e a todas as culturas, é este museu.”
Esta visão universal que João Neto salienta também abrange a farmácia portátil que esteve na Estação Espacial Internacional e chegou a Portugal através do Embaixador da Rússia.
Graças aos mesmos préstimos podemos ver uma das últimas novidades do Museu, a vacina Sputnik V, contra a COVID-19 e produzida na Rússia.
Algumas peças são muito antigas. Um vaso tem cerca de 5 mil anos. Há também um sarcófago egípcio, tamanho “extra large”. O pó das múmias foi utilizado como medicamento. Instrumentos, produtos naturais, químicos, crenças, ciência, tudo confina para o mesmo fim e é uma marca da humanidade. “Tem esta componente imediata que é o criar bem-estar porque ninguém gosta de estar doente.”
A experiência recente com a urgência das vacinas, para travar a expansão da pandemia, é um exemplo da relevância do medicamento para a nossa sobrevivência.
No museu encontramos este esforço permanente sob os mais diferentes pontos de vista. “É uma das mais valias deste museu. É um museu cronológico e de várias dimensões".
"Quer do ponto de vista espiritual, mágico, mas também científico. São estas dimensões que levam o homem a caminhar e a tentar sempre a ultrapassar os seus problemas na área da saúde.”
Farmácias, laboratórios e cientistas portugueses que se distinguiram na área da saúde também merecem a nossa atenção. É o caso da investigadora Odette Ferreira.
Podemos entrar em antigas farmácias como a de Paço de Sousa. Também há uma que veio de Macau e revela características da medicina tradicional chinesa.
Entre milhares de peças das mais variadas culturas destacam-se as de Portugal e que estiveram na génese do museu. Resulta do contributo das farmácias portugueses que ofereceram 9 mil peças.
“Tudo surge em 1981 quando há a sensação de que a evolução positiva do espaço farmácia podia ter um dado menos bom que era o desaparecimento desse património histórico. Quando avançámos para o Museu da Farmácia, em 1981, foi exatamente com o sentido de preservar essa memória. Uma memória real, de objetos e de saber fazer".
"A partir de 1981 pedimos apoio a todas as farmácias. É um caso, do ponto de vista empresarial, raríssimo no nosso país, em que uma classe com cerca de 2 mil empresas se sentiram unidas para criar um museu".
"Primeiro um museu para preservar a sua história, a sua identidade, e depois para criar um museu que representasse a universalidade do medicamento e dos povos.”
Um pouco antes da inauguração do Museu da Farmácia, em 1996, iniciaram o processo de recolha de peças a nível internacional e todas são originais.
A Pedra Filosofal e a vacina contra Covid-19 no Museu da Farmácia faz parte do programa da Antena1 Vou Ali e Já Venho e a emissão deste episódio pode ouvir aqui.
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