As casas estão concentradas junto a uma ribeira e alinhados ao longo do monte. Domina o xisto em ruelas muito estreitas, com traçado medieval.
A aldeia foi construída como uma fortaleza. As casas estão juntas e formam uma proteção como se fosse uma muralha. As entradas para o casario tinham uma cancela. Eram usadas durante a noite nos séculos XVII e XVIII para evitar a entrada de lobos.
As cancelas ainda lá estão e no interior do casario permanecem os estábulos e pequenas construções em pedra para guardar as galinhas.
Outra particularidade de Figueira é o sistema de marcação no forno comunitário. O agendamento era feito numa tábua com 32 furos. Cada um correspondia a uma família. A marcação era feita com um pequeno pau e depois articulavam uns com os outros.
O forno ainda está a funcionar e vê-se lá a tábua. É a família de João Matias que lhe dá maior uso para fazer comida para o restaurante Casa Ti’Augusta de que são proprietários. Cozem pão todos os dias e cozinham pratos típicos da região, como por exemplo tijeladas, feijoada beirã e cabrito assado. Muito esporadicamente, só em alturas festivas, como Natal e Páscoa, é que outras famílias também usam o forno.
Na aldeia vivem apenas uma dezena de pessoas, a larga maioria quase centenária. Residem em casas pequenas, algumas caiadas de branco e na rua principal.
É nesta rua que fica a Loja de Xisto, o restaurante e uma casa maior que tem uma capela onde antes havia missa todas as semanas. Destaca-se a entrada devido ao trabalho na porta. Muitas casas estão decoradas com flores e a via é relativamente larga.
O interior do casario é diferente. Foi fustigado por um incêndio há três anos e algumas casas foram consumidas pelo fogo. Outras estão em ruína e meia dúzia foram recuperadas.
Os caminhos levam-nos para um labirinto com ruas estreitas e sinuosas.
Algumas casas ainda mantêm os traços da origem de alguns séculos. No entanto, em apenas duas décadas, nos anos 60 e 70, ficaram quase vazias devido ao êxodo de uma geração. Principalmente o núcleo mais antigo, no interior das cancelas, ficou quase desertificado.
Os mais novos emigraram para o litoral e não regressaram nem compuseram as casas de família. A vaga migratória foi enorme. Famílias com uma dezena de filhos ficaram com as casas só habitadas pelos mais velhos. Os que ficaram acabaram por morrer e as casas ficaram como estavam.
Este é um dos principais motivos porque o casario tem poucos sinais de modernidade e é uma fotografia do que seria aldeia há muitas décadas atrás.
Além da descoberta da aldeia e dos habitantes, pode-se fazer um caminho pedestre, descobrir moinhos de água e encontrar rebanhos de cabras.
Relativamente próximo fica Sobreira Formosa e ao longo do caminho facilmente se percebe a vida austera destas comunidades agrícolas que tinham na produção de azeite um dos rendimentos mais importantes. A expectativa é que o turismo possa dinamizar a economia local.
A aldeia fortaleza de Figueira faz parte do programa da Antena1, Vou Ali e Já Venho, e pode ouvir aqui.
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