Na entrada da localidade de Santa Maria, por onde passa todo o turismo de Cabo Verde, sobretudo de sol e praia, o “viveiro” começou a nascer pela mão da família Mariani há 14 anos, com o único propósito de produzir a relva perfeita para o primeiro campo de golfe relvado do arquipélago.
O campo está pronto a inaugurar e o viveiro, que ainda cumpre o propósito original, nos últimos anos foi-se transformando. Passou a ser jardim botânico, abriu portas aos animais da ilha e de fora. Depois chegaram os turistas para conhecer a fauna e a flora que, entretanto, ali nasceu, e desde 2015 passou a ser o Pachamama (mãe Terra) EcoPark, que concentra toda a atenção de Paola Mariani.
“Tenho quase 300 animais. Não era a ideia. A ideia era ter duas cabrinhas e um burro”, brinca, enquanto recorda, à conversa com a Lusa, a evolução daquele espaço, que conta ainda com 200 espécies de flora, todas já adaptadas a Cabo Verde e nomeadamente à aridez do Sal, onde simplesmente não chove todo o ano.
“São todas nascidas aqui desde sementes, estão habituadas a este clima, que não é o clima mais fácil do mundo para desenvolver folhas verdes”, explica.
Hoje com 38 anos, Paola chegou a Cabo Verde em 1997, com o pai, Giannino Marinai, que investiu no turismo. Gosta da ilha, mas recorda no que pensou na altura: “Nunca vou morar no Sal”.
Especializada em relações públicas e línguas, acabaria por mudar-se com o marido argentino, Camilo, de Milão para a ilha mais turística de Cabo Verde em 2007, aprendeu português e há muito que fala perfeitamente o crioulo cabo-verdiano.
Dedicou-se por inteiro ao viveiro, criado para “alimentar” a relva – adaptada à água salgada - do campo de golfe e que continua a “produzir plantas”, garantindo igualmente serviços de ajardinamento.
Foi então que lhe surgiu a ideia: “Tenho plantas, tem espaço, o que é que faço? Um jardim, para dar a possibilidade tanto à população local como ao turista de conhecer um pouco uma natureza diferente da natureza seca do Sal. Hoje, a relva é a única coisa importada que se encontra aqui”.
Da obrigatória tamareira, a mais autóctone de Cabo Verde e que mais resiste ao clima do Sal, passando pela sombra fresca da acácia, são vários hectares de verde no meio da aridez de uma ilha que vive do turismo nas praias.
Com o viveiro transformado num verdadeiro jardim botânico de Cabo Verde, e já aberto ao público, criando uma alternativa turística, o espaço volta a transformar-se em 2014, quando Paola encontra uma burra amarrada na lixeira do Sal.
Batizada mais tarde de ‘Joaninha’, levou a burra a pé até ao jardim botânico, que rapidamente teve de voltar a mudar de nome, já que se seguiu a chegada de animais oferecidos por conhecidos e amigos, das várias ilhas.
“As pessoas começaram a trazer os animais para aqui, porque os viam bem cuidadinhos”, explica, recordando que sobre cada uma das espécies que recebeu procurou adaptar-se para garantir a melhor alimentação e cuidados. Rejeita por isso chamar de zoológico ao espaço: “Os animais andam por aqui e não vão a lado nenhum”.
Em 2015, já com o circuito turístico implementado, o Pachamama EcoPark chega ao espaço atual, que mistura a flora mais típica de Cabo Verde, com araras, papagaios e vários tipos de pássaros, cabras, perus, pavões, burros, tartarugas, cágados macacos e até um camaleão.
A resposta dos turistas foi imediata e o verde do parque passou a fechar o roteiro da volta à ilha do Sal. Em 2019, aberto sete dias por semana, o Pachamama EcoPark recebeu 70 turistas por dia, além de grupos de escolas e crianças do Sal.
“Não é só um jardim botânico, mas é um jardim botânico. Tem animais, mas não é só de animais. Podes vir e passar o dia no bar sem nem ver os animais”, conta.
Também professora de ioga, Paola passou a realizar as sessões no parque, criando um percurso próprio e até um labirinto de meditação ou mesmo uma “praia privada” no interior, à sombra: “Tudo ligado à mesma coisa: o contacto com a natureza, que tanta falta faz”.
O sucesso foi interrompido pela pandemia de covid-19 e de 19 de março a meados de novembro de 2020 o espaço fechou portas, devido às medidas para conter a transmissão da doença, passando então a abrir aos fins de semana e já em fevereiro novamente todos os dias. Sem turistas, e com o Sal em crise, a procura é praticamente nula, apesar de ao longo de 2020 ter funcionado, pelo menos para Paola, como um “refúgio da energia negativa” que chegava todos os dias.
Ainda assim manteve os mais de vinte postos de trabalho e a sobrevivência foi garantida através de um financiamento bancário. Contudo, não espera um grande movimento de turistas – o Sal recebia quase meio milhão de turistas anualmente antes da pandemia – até outubro deste ano.
Garante que apesar das dificuldades e da segunda grande crise que vive em Cabo Verde - recordando a recessão internacional de 2007 e 2008, que deixou o Sal parado -, voltar à Europa “nem pensar”.
“Tocámos no fundo? Não sei. Costumo dizer que gosto das crises porque nos põe a pensar e abrem novas oportunidades”, remata.
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